Desde que o verão começou a situação se repete, em quase todas as tardes. Basta cair uma chuva rápida, para começar o desespero dos moradores do Boqueirão. Isto porque em poucos minutos as ruas alagam e água toma conta de tudo, provocando inundações que invadem casas e impedem as pessoas de circular pela região, a pé, ou até mesmo de carro. Problema antigo que reaparece anualmente junto com a estação mais quente.
“Moro aqui há 30 anos e sempre foi assim. Não precisa chover muito, em 15 minutos alaga tudo. Só não tem entrado água em todas as casas porque a gente evita, construindo rampas ou comprando as manilhas com dinheiro do nosso próprio bolso. O transtorno é grande, já tive até que sair durante o horário de trabalho para vir pra casa, com medo de perder tudo”, conta o operador de fabricação Rafael Lopes dos Santos, 30 anos, que no último domingo (8) filmou o alagamento na Rua Professor José Maurício Higgins, onde mora.
Segundo Rafael, quem vive no bairro também está cansado de arcar com os prejuízos financeiros causados por uma situação que não tem recebido atenção do poder público. “Ligamos no 156 muitas vezes, para denunciar, mas ninguém aparece para averiguar. Anos atrás, teve um tempo que o Canal do Rio Belém foi aprofundado pela prefeitura e isso diminuiu os alagamentos, mas depois voltou a encher novamente. Acredito que a colocação de manilhas grandes ajudaria a amenizar o problema. Mas a única coisa que conseguimos com a prefeitura foi a liberação do saldo do Fundo de Garantia (FGTS), dinheiro que é nosso. Nunca fomos ressarcidos em nada”, desabafa.
Dez inundações
Segundo as contas da comerciante Ângela Kachenski, 47, em mais de três décadas morando na região, foram mais de 10 inundações sofridas por ela e sua família. As últimas agravadas pelos próprios moradores, entre eles catadores de materiais recicláveis, que estariam deixando o lixo acumular nas valetas que deveriam estar livres para escoar a água da chuva. “A água vem e não consegue passar, as valetas estão entupidas, cheias de caliça, lixo que foi jogado lá. Preciso viajar agora e tenho medo de ir, vou ter que deixar todos os produtos que tenho no alto da casa”, diz ela.
Outra preocupação de todos é com a saúde. Com tanta água e lixo, mosquito da dengue, roedores e animais peçonhentos, encontram abrigo.
“Cuido da minha casa, me preocupo com a dengue, por causa de minha esposa e netos, mas nada adianta se os outros não fazem o mesmo. Também tem umas ratazanas que de tão grandes, assustam até os cachorros. São tantos os problemas e há anos ninguém faz nada por nós. Além do risco pra saúde, nossa vida fica difícil, não recebo visitas e meu imóvel desvaloriza com esta situação”, relata o representante comercial Edson Castagini, que não enfrenta inundações em sua casa graças à grande rampa que construiu em sua casa, depois de perder tudo em três ocasiões.
Mais chuva
Mais chuva, de acordo com a meteorologista do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) Scheila Paz, é o que teremos pela frente até o fim da estação. “O verão está sendo marcado pelas chuvas, é a época com os maiores volumes na região. Em Curitiba, em janeiro, chove em média 175 milímetros. Este ano, até o dia 9 já registramos mais de 96 milímetros, mais da metade da média. No entanto, é uma condição normal e esperada para este período do ano”.
Segundo a meteorologista, até fevereiro vai chover ainda mais. Serão chuvas volumosas e irregulares, com mudanças bruscas, que nem sempre deverão atingir todos os bairros da capital.
Mutirão contra a dengue
A Prefeitura de Curitiba, por meio de sua assessoria, informou que estão sendo programados mutirões de combate à dengue em várias regiões da cidade, em conjunto com a Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente.
Sobre a situação das enchentes na Rua Professor José Maurício Higgins, a prefeitura está avaliando o problema e deve apresentar um solução para o problema nos próximos dias.
Vídeo
Graciano Tuiu, morador do bairro, fez uma transmissão ao vivo no Facebook mostrando o alagamento de uma rua no momento da chuva. Clique aqui para ver o vídeo.