Deus me livre!

Foto: Átila Alberti

Em poucos minutos no Boqueirão, os Caçadores de Notícias ouviram dezenas de relatos de violência urbana. Casos de assaltos, pequenos roubos e uma série de outros crimes que vêm deixando os moradores do bairro assustados. Quase todos têm uma história de insegurança para contar.

Os bandidos não têm respeitado nem a igreja. Localizada na Rua Diogo Mugiatti, a Paróquia Nossa Senhora da Visitação tem missas de terça a domingo, além de aulas de catequese, encontros religiosos e outros serviços à comunidade. Na madrugada do último dia 30 de outubro, os ladrões entraram na secretaria, levaram o dinheiro que estava no caixa e também um projetor de datashow. Um carro foi roubado recentemente no entorno. Para alertar e orientar a população, o assunto “segurança” vem sendo abordado durante as missas e outros encontros.

Suerli
Suerli diz que a segurança no bairro precisa ser reforçada.

Suerli Nuñez é presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do Boqueirão. “Moro aqui desde 1997. O trabalho que o conselho faz é preventivo, de orientação. A população precisa saber que alguns cuidados evitam a ação dos bandidos, eles agem no momento em que a pessoa se distrai, é tudo muito rápido. Então eu tento conversar com os pais, por exemplo, para falar com seus filhos para não andar mexendo no celular na rua, eles se tornam um alvo”.

Segundo ela, a prevenção é necessária, no entanto, as ações de segurança no bairro precisam ser reforçadas. Por esse motivo, os moradores fizeram um abaixo-assinado. “Já temos mais de 2 mil assinaturas. Nesse documento pedimos mais viaturas fazendo rondas, mais policiais nas ruas. Temos o 20º Batalhão da Polícia Militar aqui perto, não podemos dizer que eles não nos atendem, mas a estrutura oferecida para um bairro tão grande é muito pequena. A gente precisa de um efetivo maior. Outro problema: temos ruas escuras. A prefeitura precisa melhorar a iluminação, a escuridão é um convite ao crime”, pontua.

Conforme a prefeitura, foram trocadas as luminárias e lâmpadas da Rua Diogo Migiatti, no entorno do CMEI Moradias Belém, para melhorar a luminosidade. Ruas paralelas, como Desembargador Antônio de Paula e Bley Zornig, também receberam nova iluminação.

Jeito foi fechar o mercado!

Foto: Átila Alberti
Dono do estabelecimento fecha o mercado, após sofre quatro assaltos. Foto: Átila Alberti

Miguel Dias mora na região há 20 anos. Há dois anos ele abriu um mercado, mas após quatro assaltos a mão armada, decidiu fechar as portas. “No último, os bandidos chegaram, deram voz de assalto e minha esposa estava com nossos dois netos, um no colo e outro dentro do estabelecimento. Ficamos com muito medo de que o pior acontecesse. Eles levaram dinheiro, alimentos, mas graças a Deus não aconteceu nada com a minha família”, relata.

Essa última ação foi determinante para a decisão da família de Miguel de fechar as portas. De acordo com ele, os funcionários também já estavam receosos de trabalhar no local. “Lamentavelmente fechamos por falta de segurança. Não vemos a polícia na rua. A gente muda nossa rotina por causa de bandidos. Antes de entrar em casa passamos várias vezes na rua, dobramos o cuidado antes de abrir o portão. Chegamos ao ponto de orientar meu neto, uma criança, como ele deve agir em caso de assalto. A gente fica privado de tudo”, lamenta.

Fazem a limpa e jantam…

Foto: Átila Alberti
Um morador da região diz que assaltantes levaram dois carros e ainda perguntaram à família o que tinha para jantar. Foto: Átila Alberti

Em comum, os casos de violência urbana no bairro têm a ação rápida e surpresa dos bandidos. A vítima? Eles não têm preferência. Pode ser um pedestre, uma criança de bicicleta, um comércio, um motorista andando de carro ou uma residência. Todos estes casos foram relatados à reportagem da Tribuna na tarde da última sexta-feira (4). Um morador, que prefere não se identificar, conta que a audácia dos bandidos é tanta que recentemente eles entraram em uma casa, levaram dois carros e ainda perguntaram à família o que tinha para o jantar.

Irineu de Almeida tem uma panificadora no bairro há 11 anos. Ele e a família trabalham no local. O comércio já foi alvo de assaltantes pelo menos três vezes. “Os assaltos são sempre a mão armada. O que nós podemos fazer é só orientar os funcionários que ficam no caixa a dar o dinheiro e torcer para que nada de ruim aconteça. Sempre fico preocupado, mas vamos fazer o quê? Precisamos trabalhar”. Para reforçar a segurança, Irineu colocou alarme e sensores em todo o estabelecimento e ainda contratou um segurança que faz rondas periódicas.

Povo não pode ser omisso!

Mesmo reféns de todas essas situações, a presidente do Conseg afirma que as pessoas precisam ser mais solidárias. “As pessoas aqui só se preocupam com a segurança quando ela é alvo de bandidos. Não pode ser assim. Não custa você vigiar a casa do seu vizinho, conhecer a rotina de seu vizinho. Isso pode evitar um assalto, qualquer coisa que aconteça e esteja fora do que eles fazem normalmente, você acaba percebendo”.

Suerli nota que a população é omissa e não age como deveria. “Outro ponto que vamos começar a abordar nas reuniões do conselho é a importância de registrar o Boletim de Ocorrência. Não importa se o ladrão levou apenas uma bicicleta, um celular, tem que fazer o registro. Somente desta forma as autoridades competentes verão as estatísticas alarmantes do Boqueirão e tomarão as medidas necessárias. Tem que denunciar”, ressalta. Furtos podem ser registrados pelo www.delegaciaeletronica.pr.gov.br. Para roubos, é preciso procurar uma delegacia ou acionar a Polícia Militar para fazer o boletim de ocorrência.

Abaixo-assinado

Foto: Átila Alberti
Baixo-assinado já tem mais de 2 mil assinaturas. Foto: Átila Alberti

Hoje (9), uma reunião promovida pelo Conseg do Boqueirão irá abordar os problemas de violência no bairro com as autoridades. Policiais militares, policiais civis e guardas municipais estarão presentes. A presidente do Conseg faz um apelo para que os moradores compareçam ao encontro. Na ocasião será entregue o abaixo-assinado. As autoridades presentes também darão dicas de segurança à população. O encontro acontecerá na Paróquia Nossa Senhora da Visitação, na Rua Diogo Mugiatti, 2976, a partir das 20h.  “A presença do maior número de moradores é muito importante. Precisamos mostrar que o bairro realmente está exposto à violência e que precisamos da ajuda das autoridades competentes”, conclama Suerli.

PM pede que povo faça BOs

Em nota, a PM informou que “o 20º Batalhão Militar está empenhado e patrulhando as ruas do bairro para que os crimes diminuam. A Polícia Militar atualmente trabalha com os meios humanos e materiais disponíveis e tenta atender todas as ocorrências priorizando as de risco à vida”. O comunicado cita que recentemente a Secretaria de Segurança Pública do Paraná disponibilizou novas viaturas locadas para ajudar no atendimento às ocorrências e que alunos soldados, que estão em formação, estão reforçando o patrulhamento acompanhados por policiais mais antigos e experientes.

A PM também ressaltou a importância da população registrar o boletim de ocorrência: “é uma ferramenta fundamental no combate à criminalidade e no planejamento de policiamento e, por isso, é importante registrá-lo sempre que for vítima de algum crime ou delito. Se não há registros de boletins, a região afetada por aquela criminalidade não aparece oficialmente nas estatísticas e, portanto, continua sendo considerada uma área segura”. A corporação orienta os moradores a não ostentarem dinheiro ou objetos de valor.

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