Som da catedral

Quem ouve e vê a imponência de um órgão de tubos em igrejas e mosteiros espalhados pelo Brasil, mal sabe da complexidade contida nos mecanismos que compõe o instrumento. São estruturas delicadas de madeira, zinco e couro, que necessitam todo o cuidado e técnica durante o processo de manutenção, e pouquíssimos brasileiros estão aptos a executar tal tarefa. Um deles vive um Curitiba e é um dos maiores especialistas em órgãos tubulares do Brasil. “Acredito que não tem mais do que 20 pessoas que realizam esse tipo de trabalho em todo o país”, comenta Ricardo Herrmann, organista há mais de 40 anos.

A paixão por órgão de tubo começou com seu pai, Rodrigo Herrmann, que durante os anos de 1952 e 1971 foi organista e mestre capeleiro da Catedral Basílica de Curitiba. Ricardo aprendeu a tocar o instrumento na infância e a partir do início dos anos 70 passou a se dedicar mais à atividade. “Nesta época é que eu comecei de fato a executar manutenções e até construir vários tipos de órgãos tubulares”, conta.

Apesar da dedicação ao instrumento, Ricardo afirma que a atividade nunca foi sua principal fonte de renda. “Fui professor de música na Universidade Federal do Paraná e também cheguei a dar aulas na rede estadual. Mas como no Brasil viver de música sempre foi complicado, tinha que ter outra profissão. Hoje, já aposentado, me dedico inteiramente à atividade”, diz.

Ricardo diz que faz cerca de três manutenções por ano e só constrói órgãos por encomenda. “Hoje no Brasil temos poucos órgãos em atividade e só duas fábricas. Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos. Então colocamos a mão na obra quando há trabalho. Uma manutenção pode durar de quatro a cinco semanas. E construir já é mais raro pelo preço de um instrumento. Cada registro (conjuntos de tubos) custa cerca de 10 mil dólares. Então um órgão de 20 registros pode chegar até 250 mil dólares”, explica.

Em Curitiba e região, apenas Ricardo e outro organista de Almirante Tamandaré executam o trabalho de manutenção e construção de órgãos tubulares. “É raro e está ficando cada vez mais. Numa cidade que nem Curitiba, é difícil saber que tem apena duas pessoas interessadas em saber todos os detalhes desse instrumento”, lamenta.

Prática

Em pequeno quarto nos fundos de sua casa, Ricardo mantém três tipos de órgãos tubulares diferentes. O maior, o “Positiv”, tem quase três metros de altura e conta com um pequeno motor para levar ar aos registros. O segundo, um pouco menor que um piano, precisa de apoio de pedais para bombear aos tubos. Já o portativo é pequeno, feito de madeira e de um tamanho de acordeão.

O músico afirma que pratica quase todos os dias. “É um instrumento que sozinho pode executar um som de uma orquestra toda, já que é um instrumento polifônico. Faz um som maravilhoso e sempre que eu posso, toco alguma peça”, diz.

“Segundo o segundo concílio do Vaticano, o órgão é o instrumento oficial das igrejas e é por isso que é tão ligado à religião. E isso é importante para as pessoas saber, para que a tradição continue e o som maravilhoso criado por esse instrumento não se acabe na história”, ressalta Ricardo.

 

 

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