Chova ou faça sol, o vendedor Elton Souza, 35 anos, está sempre na esquina das Ruas Tapajós e Teffé, no Bom Retiro, vendendo morangos, ovos e mel. Principalmente se estiver chovendo, pois deixar morangos encalhados, para vender no dia seguinte, é prejuízo na certa. Dia de venda boa é quando faz calor e o pessoal anda com os vidros abertos.
Elton diz que está há quase oito meses naquele ponto. Começou vendendo morangos e logo incrementou com ovos e mel puro. Ele ficou um ano de mochilão nas costas, rodando o Brasil. Quando chegou em Belém, no Pará, encerrou a viagem e voltou a Curitiba. “Eu ia trabalhar com Uber ou vender frutas. Acabei escolhendo as frutas. Comprei um carrinho e escolhi esta esquina para trabalhar”, diz Elton.
Em sete meses de sinaleiro, Elton aprendeu muita coisa sobre o comércio ambulante. Primeiro é que, se quer ganhar a vida, não pode ter corpo mole. Tem que trabalhar debaixo de sol ou chuva, se esforçar. Também percebeu que já ter um cartaz mostrando qual é o produto à venda e o preço ajuda muito, pois a pessoa já enxerga de longe, decide se quer e vai agilizando o dinheiro, enquanto o ambulante vai se aproximando do carro. “E já tem que estar com o troco na mão, pra agilizar a venda”, diz ele. Assim, dá pra fazer até duas vendas por sinal vermelho.
“Morango é uma coisa que estraga rápido, principalmente se já estiver bem maduro. E se cai coisa estragada na mão do cliente já na primeira compra, queima o ponto. O cliente não compra mais. Tem que cuidar com a qualidade. Tenho cliente que compra comigo desde o primeiro dia que eu me estabeleci aqui”, diz o vendedor que, nos fins de semana, também estabelece ponto fixo na frente de alguns comércios. Mas, neste caso, ele não corre atrás do cliente. Fica esperando que se aproximem da banca. “No sinaleiro é mais corrido, mas ganha mais”, revela.
Venda em 30 segundos
Elton mostra que ele só tem 30 segundos para efetuar uma venda. Pois até o sinal fechar, os carros pararem, os motoristas visualizarem o produto e o preço e decidirem a compra, já foi um tempo precioso. Então sobra no máximo 30 segundos para Elton parar no vidro do carro, entregar o produto, receber o dinheiro e dar troco.
Os horários em que o ambulante vende melhor são das 9h30 às 11h30 e no fim da tarde, a partir das 16h30, quando as pessoas estão voltando para casa. Se chove neste horário, atrapalha muito o comércio, pois ninguém abre o vidro.
Elton quase não topou dar entrevista à Tribuna, pois no dia que estivemos com ele chovia e ele temia perder tempo de venda e, assim, ter que levar morangos de volta pra casa. As frutas já estavam maduras e, no dia seguinte, não poderia vende-las mais. Então ele botou o produto em promoção – começou o dia oferecendo uma caixa com quatro bandejas a R$ 20 e depois mudou, colocando três bandejas a R$ 10 – e correu para a fila de carros.
E assim é a vida do Elton, do artista das facas Pablo, do vendedor de balinhas Darci, dos malabares Daniel e Gonçalo, do vendedor de panos de saco Carlinhos, mostrados pela Tribuna esta semana, e de muitos outros guerreiros, que ganham a vida debaixo do sinal vermelho. A eles, nosso respeito pela garra e um Feliz Natal!