O que têm a ver o Papai Noel, uma velha caminhonete F1000 74 e algumas ferramentas de jardinagem? Muita gente “se bate” para encontrar a relação entre esses elementos, mas quem mora nas comunidades carentes dos bairros Campo Magro, São Braz, Botiatuvinha e Boa Vista, em Curitiba, tem a resposta na ponta da língua. Há cinco anos, na semana que antecede o Natal, os sons dos sinos do bom velhinho misturados ao da buzina da antiga picape são esperados com expectativa por mais de 500 crianças moradoras das vilas. Desde que as visitas começaram, em 2012, o “Papai Noel da caminhonete vermelha”, como é conhecido, nunca deixou de comparecer às comunidades com os bolsos cheios de doces e a caçamba carregada de presentes, fazendo jus à cantiga e comprovando que, de fato, “Papai Noel não esquece de ninguém. Seja rico, seja pobre, o velhinho sempre vem”. A ação, que nasceu no coração de uma família do bairro Botiatuvinha, é feita de maneira voluntária e já virou tradição entre as cerca de 50 pessoas que participam anualmente da celebração.
A exemplo dos últimos anos, a visita de 2017 já estava programada. Presentes comprados e doces armazenados, faltava apenas acertar alguns detalhes sobre o itinerário a ser seguido pelo “comboio” esse ano. Em alguns minutos, porém, bandidos roubaram não só a caminhonete utilizada no projeto, mas também a alegria dos envolvidos. Quem acha o desfecho trágico, não imagina que o pior ainda estava por vir. No dia seguinte à primeira ação criminosa, outra antiga caminhonete da família que seria a segunda opção para transportar o bom velhinho também foi levada. Antes porém de serem usados como “trenó”, ambos os veículos eram o ganha pão dos proprietários, que agora sofrem os prejuízos dos roubos e dos dias de trabalho perdidos.
Na residência simples, situada às margens do Contorno Norte, Antenor Grande, 67, se emociona ao falar sobre o acontecido. O jardineiro, que ganha em torno de R$1.300 reais por mês, lamenta ter de manter as mãos paradas, num período do ano em que normalmente há muito trabalho. “Desde que levaram a F1000 com todos as minhas ferramentas de trabalho, está muito difícil seguir a rotina. O serviço está desfalcado e tenho que contar com a carona de amigos e familiares”, afirma. O roubo aconteceu na manhã do dia 7 de novembro, no bairro Rebouças. O carro antigo era usado para transportar as tesouras, cortadores de grama, mangueiras, rastelos e pás do jardineiro. Em poucos minutos, tudo foi levado. “Nem a marmita se salvou. Ficou só a chave”, lamenta. Antenor conta que a ação foi calculada e que, oportunistas, os criminosos se aproveitaram da boa vontade dos trabalhadores de uma construção próxima ao local no qual ele trabalhava naquela manhã. “Alguns pedreiros estavam trabalhando ali perto e disseram que dois homens chegaram pedindo ajuda para ‘dar um tranco’ na caminhonete. Dispostos a ajudar, eles atenderam o pedido sem imaginar que estavam, na verdade, ajudando a roubar meu carro”, conta.
Com o boletim de ocorrência em mãos, Antenor apelou para ajuda do irmão, Darci, de 54 anos que também é jardineiro. Para trabalhar no dia seguinte, ele pediu emprestada a caminhonete uma Toyota 86 – e os instrumentos de trabalho de Darci, sem imaginar que um novo roubo aconteceria, dessa vez no bairro Bigorrilho, próximo à Igreja dos Passarinhos. “Enquanto eu contava para o meu cliente o ocorrido do dia anterior, escutei o barulho da caminhonete do Darci vindo da rua. Corri pra fora do portão e quando vi, já tinham levado o carro com tudo o que tinha dentro. Agora tenho de pagar também o que foi roubado dele”, conta. Sem seguro em nenhum dos veículos, a soma do prejuízo ficou em torno de R$30 mil. Por meio das redes sociais a família buscou ajuda, porém até agora nem a F1000 e nem a Toyota foram recuperadas. Para tentar levantar parte do valor levado pelos bandidos os parentes organizaram o grupo “Amigos do Antenor”, e promoveram uma costela fogo de chão no dia 9. O evento, porém, arrecadou apenas R$1.500 reais. “Cada um ajudou com o que pôde, mas ainda falta levantar uma boa parte. O pai tira pouco mais de R$1.000 por mês e sofre muito sem ter como pagar essa dívida”, afirma Maristela.
Os danos que recaíram de surpresa sobre a família Grande, podem ainda vir a frustrar o sorriso de muitas crianças, já que a tão esperada visita do “Papai Noel da caminhonete vermelha” ficou comprometida.
Marcos Dallastella, 31, é quem, todos os anos, incorpora o bom velhinho na festa da família Grande. Ele conta que ideia surgiu por acaso entre primos, e que a ação voluntária que mobiliza a família inteira, é mais celebrada que o próprio Natal. “Quando chega o dia das doações é uma festa. A gente junta todo mundo e segue distribuindo os presentes em carreata pelas comunidades. É emocionante ver as criancinhas saindo pelos portões ao ouvirem a buzina da picape”, diz. Maristela Grande, 37, é uma das idealizadoras do projeto. Filha de Antenor, ela se emociona ao falar da alegria sincera dos moradores das vilas durante as visitas. “É uma correria que vale a pena. A gratidão do pessoal é grande, mas quem se sente melhor no fim das contas, somos nós, pelo fato de estarmos fazendo o bem ao próximo”. Desde que nasceu, o projeto é viabilizado de forma voluntária, com recursos doados pela própria família. A iniciativa conta com a participação ativa de todos os membros do núcleo familiar que tem aproximadamente 50 pessoas – e envolve desde as crianças, até os idosos, que se organizam na compra, preparação e entrega dos presentes. “Esse trabalho nos aproxima de maneira surpreendente como família. Escondidos na preparação de cada presentinho, no embrulho de cada um dos doces, tem o toque das mãozinhas dos nossos pequenos e o cuidado dos nossos velhos. Fazemos tudo juntos, e no fim das contas, esse é o espírito do Natal”, ressalta.
Mesmo desanimados por conta dos roubos recentes, e ainda sem saber como farão para recuperar o que foi perdido, os Grande ainda assim vão realizar a visita de Natal esse ano, no dia 25 de dezembro. “Vamos dar um jeito e visitar as comunidades ainda essa semana. Convidamos quem tiver uma caminhonete disponível a participar, e ‘dar uma carona’ pro Papai Noel. A maldade de poucos não pode estragar a alegria de muitos”, finaliza Marcos.
Quer ajudar a família Grande?
Informações Bancárias
Nome: Antenor Grande
Banco: Itaú
Agência: 3377
C/c: 22478-1
CPF: 18495109-30
Dê uma carona para o Papai Noel
Contato: (41) 99685-0188 Maristela Grande