Polêmica prévia

A via calma na Avenida Sete de Setembro continua em fase de análise pela Prefeitura, mas o impacto da mudança no trânsito é tamanho que, mesmo sem qualquer projeto anunciado, o assunto não sai das conversas entre moradores e comerciantes da Rua Padre Anchieta, que poderá receber mais uma etapa do projeto, que prevê prioridade total para as bicicletas e velocidade máxima de 30 km/h.

Entre as pessoas entrevistadas pela Tribuna, a via calma teve mais adeptos do que pessoas contrárias à mudança. Mas mesmo sem nada confirmado, já existe um abaixo-assinado da Associação de Moradores e Empresário do Bigorrilho e Campina do Siqueira (Abicam) circulando pela região para barrar a via calma de vez da rua Padre Anchieta. O impasse só demonstra quanta polêmica envolve o desafio da mobilidade urbana em Curitiba.

Para o empresário Marcelo Escorsin, que há 16 anos possui uma empresa de locação e venda de máquinas para café, a Carmo Sul, a mera possibilidade de transformar uma das pistas em via calma já causou muita preocupação. “Há um ano e meio tivemos que subir a guia da calçada e ficar sem nenhuma das três vagas originais. Isso reduziu em 30% os negócios, porque as pessoas perdem muito mais tempo para encontrar vagas ao redor e, principalmente, movimentar a máquina”, observa.

Ele diz que o abaixo-assinado ainda não passou pela loja dele, mas já tem certa a decisão. “Sou totalmente contra, porque vai complicar ainda mais o trânsito e o estacionamento de carros aqui. O movimento vai cair ainda mais e no aspecto do estímulo à bicicleta a medida é questionável, porque os ciclistas não usam tanto aqui, só para descerem, porque a subida da Padre Anchieta exige muito esforço físico”, defende.

A proprietária da Tribo Esporte, Sílvia Akemi Vilas Boas, tem uma visão completamente diferente do comerciante. “Na quarta-feira passaram por aqui, e eu me recusei a assinar. A minha decisão não foi somente por eu ser esportista ou ter uma clientela que apoia a via calma, mas porque essa rua nunca foi uma via rápida. Aliás, para os motoristas que buscam um trânsito mais ágil, tem a Rua Padre Agostinho em direção ao bairro e a Martim Afonso para o Centro”, ressalta.

Entre motoristas e pedestres que passam com frequência pelo trecho em questão, a rejeição à via calma não faz sentido. “O trânsito é caótico aqui, com ou sem via calma. Mas se a Padre Anchieta passasse por essa mudança, seria mais um incentivo para outros meios de transportes, ajudando no tráfego como um todo”, explica o empresário Jonathas da Silva Conceição, que usa o carro para se deslocar pela cidade.

A auxiliar de turismo Sandra Cezinando, usuária do transporte coletivo, também aprova a iniciativa da via calma. “Se tivesse na Padre Anchieta poderia fazer o trecho entre o meu curso no Centro e minha casa de bicicleta. Seria mais barato e melhoraria minha qualidade de vida, ou seja, bem diferente do que argumenta o abaixo-assinado”, rebate.

A Abicam alega que a comunidade da região “perderia qualidade de vida” com o advento da via calma. “Acho que esse abaixo-assinado é puro oportunismo de quem quer se promover em cima de algo que nem foi confirmado”, acrescenta Sandra. O único impasse na mudança, segundo ela, é a falta de segurança e respeito no trânsito. “Minha primeira bicicleta foi roubada no Parque Barigui, mesmo assim insisto em pedalar. Só que não a utilizo como meio de transporte porque os motoristas não respeitam. Não sei o que é mais violento: o trânsito ou os bandidos”, lamenta.

A reportagem tentou entrar em contato com a Abicam, mas ninguém atendeu as ligações no telefone fixo da entidade.

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– Você apoia a implantação de vias calmas em Curitiba?

– Quais ruas são adequadas pro projeto?

– Bicicletas devem ter prioridade no trânsito?


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