Balança, mas às vezes cai!

Curitiba, a cidade que ficou conhecida nacionalmente como capital ecológica, conta hoje com cerca de 300 mil árvores em vias públicas, segundo dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). Destas, aproximadamente 90 mil são árvores de grande porte, que apesar de embelezar as ruas e melhorar a qualidade do ar que respiramos, em alguns casos, representam riscos e prejuízos. Isto porque a cada chuva forte ou vendaval, galhos e até mesmo árvores inteiras acabam caindo sobre casas, comércios, carros e sobre a fiação da rede de energia elétrica, ameaçando inclusive, a vida de muitas pessoas.

Joane nem dorme direito quando chove. Foto: Felipe Rosa
Joane nem dorme direito quando chove. Foto: Felipe Rosa

“O dia que chove eu nem durmo direito. Os galhos e as folhas enchem as calhas e quebram as telhas. E se um dos galhos maiores cair, ‘vai’minha garagem e minha casa”, conta a aposentada Joane Mali, 73, moradora da Rua Desembargador Otávio do Amaral, no Bigorrilho.

Segundo ela, além do medo de ter a casa atingida, ainda há os transtornos provocados toda vez que uma árvore cai – somente na rua onde ela mora duas já foram ao chão – uma sobre um carro há alguns anos e outra sobre o muro de uma empresa, em abril deste ano. “Na última chuva uma árvore caiu na outra quadra e ficamos sem luz das 3h até as 22h. Seria bom se fossem tirados esses galhos que ficam em cima das casas e dos fios. Já liguei no 156, mas não vieram fazer o serviço”.

Árvore na frente da casa de Edilson está na iminência de cair. Foto: Felipe Rosa
Árvore na frente da casa de Edilson está na iminência de cair. Foto: Felipe Rosa

Morador da mesma rua, o representante comercial Edilson Alcindo Mali, 63, também teme por sua casa. “Sempre cai algum galho. Isso aqui [árvore em frente à sua casa] está na iminência de cair, por conta da erva de passarinho, que pesa demais e estrangula a árvore. E as que foram podadas aqui na rua estão inclinadas demais, a propensão a cair com um temporal é muito grande”, opina.

Riscos e danos

Perto dali, os problemas se repetem. Para o comerciante Karim Taouil, 60 anos, que há mais de 30 mora na Rua Brigadeiro Franco, no Mercês, o monitoramento e a poda periódica das árvores é essencial para prevenir acidentes e estragos aos imóveis. “Tem que ser feita esta manutenção. Estas árvores foram plantadas numa época que não se tinha conhecimento do tamanho que elas iriam atingir. Ter árvores deste porte nas calçadas de Curitiba é um perigo. Com os ventos, chuvas e temporais, os galhos envelhecidos, que tem diâmetro muitas vezes superior a 20 ou 30 centímetros, pendem sobre a via pública, causando transtornos a carros e pedestres”, diz Karim, que também costuma contabilizar os danos em sua loja de comidas árabes.

Karim: ter árvores deste porte nas calçadas é um perigo. Foto: Felipe Rosa
Karim: ter árvores deste porte nas calçadas é um perigo. Foto: Felipe Rosa

“Os galhos caem sobre a fiação elétrica. Já fiquei sem energia, dá prejuízo ficar um tempo sem luz. E ainda tem as raízes das árvores, que abalam as fundações das casas antigas, causando rachaduras nas paredes”, completa.

Dentro da lei

Na última quarta-feira (28), a Tribuna acompanhou o trabalho de poda dos galhos feito na Rua Brigadeiro Franco, na região da Praça 29 de Março. Segundo a prefeitura, uma frente de vistorias, podas, retiradas e plantios de árvores foi iniciada na cidade, com trabalhos em 18 das principais avenidas da capital. Até agora, segundo o munícipio, já foram podadas cerca de 500 árvores, plantadas mais de 400 mudas e retiradas dez árvores por causa de desvitalização. Trabalho realizado por técnicos e servidores da própria prefeitura e equipes terceirizadas e que, devido ao reduzido quadro técnico, também conta com o auxílio da população.

Prefeitura já podou 500 árvores em 2017. Foto: Felipe Rosa
Prefeitura já podou 500 árvores em 2017. Foto: Felipe Rosa

E de acordo com o Código Florestal Municipal – Lei 9.806 de 2000 – a remoção e a poda das árvores são competências da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). Segundo a pasta, para os casos de árvores em vias públicas, cabe à gerência de arborização a execução de tais serviços, desde que constatados problemas fitossanitários ou estruturais, ou ainda risco imediatos.

Segundo a SMMA, mensalmente são recebidos mais de 1.500 pedidos de poda de árvores em via pública pelo Departamento de Produção Vegetal, por meio da Gerência de Arborização. Conforme a pasta, todas as solicitações são vistoriadas por técnicos desta gerência e aquelas árvores que necessitam de intervenção são encaminhadas para a poda de manutenção. Mas cerca de 50% são indeferidas. “Isso acontece quando há constatação de que não há necessidade de intervenção imediata, conforme padrão e legislação”, alega a secretaria.

Mensalmente são feitos 1.500 pedidos de corte na capital, mas metade é negada por não haver riscos. Foto: Felipe Rosa
Mensalmente são feitos 1.500 pedidos de corte na capital, mas metade é negada por não haver riscos. Foto: Felipe Rosa

O que fazer?

Curitiba tem 90 mil árvores de grande porte nas vias públicas. Foto: Felipe Rosa
Curitiba tem 90 mil árvores de grande porte nas vias públicas. Foto: Felipe Rosa

Se uma árvore estiver ameaçando sua casa ou se houver dúvidas em relação à sua condição, a orientação da SMMA ao cidadão é solicitar a vistoria via 156 para a Prefeitura de Curitiba. “Equipes da arborização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente serão deslocadas para fazer uma avaliação. Se constatado o comprometimento e o risco iminente de queda, a mesma será removida. Da mesma forma, é programado o plantio de novas árvores nativas para compensar a falta da que foi retirada. O contato pelo 156 também ajuda a mensurar pontos críticos com maior eficiência”. E não havendo motivos técnicos que justifiquem a remoção da árvore, nova avaliação poderá ser solicitada após 180 dias.

Prejuízos

Questionada sobre quem arca com o prejuízo em caso de queda sobre uma casa, veículo ou pessoa, a prefeitura informou que a responsabilidade sobre os danos depende da localização e do evento que gerou a queda da árvore. “Em área pública, é possível requerer o ressarcimento, o que será avaliado tecnicamente”.

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