Dono de uma pequena oficina de eletrodomésticos, Luiz Berno pode ser, tranquilamente, chamado de “Fiscal do Bairro Alto”. Isso porque há pouco mais de cinco anos ele se dedica quase que exclusivamente a registrar os problemas de toda a região. Em seu arquivo há 800 fotos de buracos de ruas, calçadas danificadas e outras mazelas da localidade. Além disso, detalha tudo em um caderno. “Não deixo escapar nada”, ressalta.

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Nascido no Jardim Social e criado no Bairro Alto, Seu Luiz resolveu partir da “figura A para figura B” no que diz respeito ao seu papel como cidadão. Não quis ficar parado ao ver alguns problemas nas obras que tomaram conta da região nos últimos anos. “Tinha que registrar tudo e tirar foto de tudo pra mostrar em imagens as besteiras que estavam fazendo com as ruas do bairro”, diz.

Não há buraco nas redondezas da Rua José de Oliveira Franco, onde fica sua oficina, e Avenida da Integração que não foi fotografado por Seu Luiz. “Mas tiro fotos também de falhas na sinalização de trânsito, de calçadas mal cuidadas tomadas pelo mato, bueiros entupidos e de tudo que vejo de errado. O pessoal do bairro até vem me dar dicas de vez em quando”, conta.

Atualmente, sua bronca é com as obras de revitalização da Avenida da Integração, que são financiadas pelo PAC da Copa e estão quase prontas. Para Seu Luiz, o asfalto colocado ao longo da via é de péssima qualidade. “Acabaram de pavimentar e já tem buraco. Sem contar o tempo que demoraram pra terminar a obra. Erraram muito. Fizeram as calçadas e depois tiveram que quebrar tudo de novo para colocar as rampas para cadeirantes. Um absurdo”, reclama.

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Arquivo “vivo”

Apesar da trabalheira, Seu Luiz não passa pra frente as broncas registradas por sua câmera. Nunca ligou na central de atendimento da prefeitura de Curitiba, no telefone 156. Também não se deu ao trabalho de ir ao Ministério Público para fazer qualquer tipo de denúncia.

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Para o “fiscal do Bairro Alto”, seu arquivo é vivo e está em constante crescimento. “Meu arquivo não é morto, é vivo. Tá sempre aumentando. Um dia vou juntar tudo e levar para as pessoas certas. Não quero falar com ‘café pequeno’. Quero falar direto com o chefe disso para ver se consegue resolver tudo”, diz.

Seu Luiz afirma que não cansa do que faz e, no maior estilo “vovô garoto”, afirma que continuará com fardo. “Alguém tem que fazer. Curitiba se transformou num eterno canteiro de obras e isso acontece porque não se fazem mais obras pra durar. Reformam pra mexer de novo daqui há alguns anos. Qualquer dia desses vão divulgar a primeira revitalização do buraco do metrô”, tira onda. “Vou continuar, mas não sei se verei alguma mudança. Já perdi as esperanças. Mas quem sabe a próxima geração já possa viver numa cidade melhor”, conclui.

Culpa do povo

Sobre os buracos na Avenida da Integração citados por Seu Luiz, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), órgão do governo do estado responsável pela revitalização da via, informou que ontem mesmo realizou o recorte e reparo dos trechos danificados. Ainda segundo a Comec, os problemas no asfalto da Avenida da Integração são em decorrência dos protestos dos moradores da região, que queimaram pneus contra os atrasos da obra. De acordo com a pasta, esses atos durante as manifestações prejudicaram a estrutura do piso colocado na via.

 

 

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– Você conhece algum “fiscal” do seu bairro?

– Acha importante a participação da população no dia a dia do bairro?

– Como avalia as obras feitas na Avenida da Integração, no Bairro Alto?