Nova trincheira, velhos problemas

Moradores e comerciantes das ruas Fúlvio José Alice, Santa Madalena Sofia e da Linha Verde Norte (BR-116), no Bairro Alto, aos poucos estão sendo avisados sobre as desapropriações previstas pelo projeto da nova trincheira que será construída na região. Mesmo com um impacto significativo sobre o local, a maioria das pessoas afetadas entende a necessidade de uma solução viária para desafogar o trânsito.

O problema é que as informações iniciais fornecidas aos atingidos pela obra só tratam do quanto de terreno será retirado de cada endereço. A indenização está longe de ser abordada pelos responsáveis pela elaboração e execução do projeto: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria Municipal de Obras.

O marceneiro Walter Ferreira, 60 anos, vai ser afetado duplamente pela obra, já que mora na esquina das ruas Fúlvio José Alice e Santa Madalena Sofia Barat, e o estabelecimento comercial dele, a Marcenaria Sky Móveis, está localizado à beira da BR-116. “Faz uns 30 dias que recebi a correspondência comunicando a novidade. Vai pegar um pouco do terreno da empresa e aqui em casa vou perder de um lado 1,98 metro e do outro lado 2,04 metros, mas não vou precisar sair daqui”, descreve Ferreira, que vive no mesmo endereço há 57 anos. “Serão pelo menos uns dois anos de obras, mas não tem jeito, é o progresso. Só espero que a nova trincheira consiga realmente melhorar o trânsito da região, pois a outra trincheira já começou estrangulada”, pondera.

Sobre o ressarcimento pelo avanço no terreno, Ferreira explica que a prefeitura se defende dizendo que apenas vai executar a obra. “Por enquanto disseram que, como a verba é do governo federal, termos que buscar advogados e reaver na Justiça as nossas perdas”, comenta.

Para três comerciantes de uma quadra que será transformada em praça para viabilizar a nova trincheira, a obra terá um impacto definitivo sobre os negócios, já que eles serão obrigados a mudar de endereço. “Somos todos inquilinos de um mesmo proprietário, mas nossos pontos são antigos. Só a minha borracharia tem 17 anos e, depois de tantas melhorias, seremos obrigados a sair daqui”, conta o proprietário da Borracharia e Escapamentos Santana, Antônio Santana de Jesus. Ele calcula já ter investido em torno de R$ 45 mil no endereço. “Aqui é meu endereço comercial e residencial. A proprietária autorizou as benfeitorias, mas nunca abateu nada dos investimentos e, de repente, essa obra fará perdermos tudo, inclusive parte da clientela acostumada com esse endereço”.

Situação semelhante é do proprietário do restaurante Pato Branco, Volmir Geraldo Sganzerla, há 14 anos atendendo no endereço da Rua Santa Madalena Sofia Barat, esquina com a BR-116. “Cerca de R$ 22 mil foram gastos na estrutura que ofereço hoje para os meus clientes. Essa melhoria na consolidação do ponto terá que ser ressarcida por alguém, até porque existe um fundo comercial que precisa ser devolvido para o comerciante”, ressalta Sganzerla.

O dono da oficina Pato Branco, Sidney Leal Nunes, concorda com os vizinhos da quadra comercial que dará lugar a praça. “Gastei uns 15 mil nesse estabelecimento, que assim como os outros já possui uma clientela formada. Não podemos ficar com todo o prejuízo dessa mudança. A indenização tem que vir para o proprietário e os comerciantes que trabalharam todo esse tempo”.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Obras admitiu que a obra, contemplada pelo PAC da Mobilidade, vai mudar toda a estrutura da região e que haverá diversas desapropriações. Porém, até o fechamento da edição, ninguém forneceu explicações sobre como os órgãos responsáveis pela obra irão ressarcir as pessoas atingidas, nem detalhes do projeto que deverá ser licitado ainda neste ano.

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