Atrás de grades ou sob a vigilância de tantas câmeras que quase fariam inveja à produção de um reality show. É deste jeito que comerciantes do Bairro Alto têm trabalhado atualmente. Amedrontados e acuados com os constantes assaltos, donos de lojas, principalmente distribuidoras de bebidas e revendas de gás, revelam que não está fácil se defender dos bandidos.

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“Estamos aqui há dois anos e meio e por sorte, nunca fomos roubados. Mas quase toda a semana tem um assalto na região. O último foi um arrastão e aqui na rua só nós e o banco não foram roubados. Por isso trabalhamos assim, com as grades e a roleta para o botijão”, conta o comerciante Rubens Costa, 38 anos, que possui uma distribuidora de gás na Rua Alberico Flores Bueno. Ele acredita que, se não fosse a grade e esta maneira pouco simpática de atender os clientes, já teria sido vítima dos ladrões. “A gente tem que ficar preso para trabalhar, enquanto o bandido fica solto. É chato e difícil não ter contato com os clientes, mas ainda bem que eles entendem”, avalia.

"A gente tem que ficar preso para trabalhar, enquanto o bandido fica solto", resume Rubens. Foto: Felipe Rosa
Rubens: “A gente tem que ficar preso para trabalhar, enquanto o bandido fica solto”. Foto: Felipe Rosa

Na mesma rua, os proprietários de uma distribuidora de bebidas, Mauro Forquim, 40 e Eliza Forqui, 48, também temem por sua segurança. “Faz uns dois meses que a gente abriu aqui, ficamos abertos das 9h às 20h30 e ainda não temos grades. Mas vamos colocar, até o mês que vem já deve estar instalada. Sei que está perigoso”, diz Mauro. “O policiamento é pouco, passa uma viatura de vez em quando. Por isso temos que ter cuidado enquanto a distribuidora está aberta. Ficamos de olho, principalmente no bar aqui do lado. Quando o movimento cai, a gente fecha”, complementa Eliza, sua esposa e companheira de trabalho.

Marcos e Eliza vão instalar grades: “policiamento é pouco”. Foto: Felipe Rosa

“Big Brother” antirroubo

A poucas quadras dali, na Rua Rio Guaporé, a estratégia de outro casal, também donos de uma distribuidora de bebidas, é contar com a estrutura de um circuito com 18 câmeras de segurança, para evitar ter que instalar as grades, como fizeram seus concorrentes.

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“A maioria das distribuidoras do bairro está fechando a entrada com grades, deixando só um ‘vãozinho’ para atender os clientes. Mas nós não vamos fechar, acho que o cliente tem que ver o que quer comprar e que os produtos têm que ficar expostos, ao alcance das pessoas. Para evitar os roubos, contamos com Deus e com as 18 câmeras que temos aqui”, explica a comerciante Kelly Brischiliari, 37.

Os equipamentos, segundo seu marido, Luciano Brischiliari, 39, vieram para dar segurança e inibir a ação dos marginais, que já atacaram a distribuidora em duas ocasiões. “Já fomos assaltados duas vezes, eu cheguei a ser rendido e amarrado. Mas felizmente ou graças às câmeras, há dois anos e meio não acontece nada com a gente. Em quase cinco anos aqui, foram dois os assaltos”, desabafa.

“Para evitar os roubos, contamos com Deus e com as 18 câmeras”, explica Kelly. Foto: Felipe Rosa

Já foi pior!

Toninho: “Tirar as crianças das ruas, é isso o que podemos fazer para prevenir a violência”. Foto: Felipe Rosa
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Conforme levantamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), o Bairro Alto ficou em décimo lugar no ranking de roubos e furtos a casas em Curitiba em 2016. Foram 245 casos – enquanto o “campeão”, Sítio Cercado, registrou 654.

Mas apesar dos relatos dos frequentes casos de roubos na região, segundo o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Alto Toninho Guedes, a criminalidade na região já foi maior. “Há uns meses eles estavam assaltando mais, mas deu uma acalmada. Acredito que muito do que acontece ainda no bairro tem a ver com as drogas e dívidas com os traficantes. Mas o problema de segurança está em todo o lugar, em todos os bairros”, opina.

De acordo com ele, a solução para combater a violência é agir junto à comunidade. “Quero voltar com os projetos de esporte no bairro e vamos ter a revitalização do centro cultural da Vilinha. Tirar as crianças das ruas, é isso o que podemos fazer para prevenir a violência”.

Engajamento

Para o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Bairro Alto, Carlus Lisboa, falta participação dos moradores nas reuniões que discutem as ações promovidas em conjunto com os agentes públicos de segurança. “A maioria dos comerciantes que são vítimas da violência e de assaltos não registram a ocorrência e nem participam das reuniões do conselho. Nas reuniões temos a participação da Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal, que fazem ações preventivas no bairro. E nós ainda temos o contato direto, o telefone do Batalhão da PM aqui do bairro”, afirma Carlus, que reforça o pedido para que as vítimas registrem o boletim de ocorrência. “Tem que fazer, mesmo que não levem nada, para que a polícia saiba onde agir”.

“Ajuda” pra polícia

Comerciantes do Bairro Alto reclamam do número de assaltos. Foto: Felipe Rosa

Em nota, a 3ª Companhia do 20º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela atuação no bairro, informa que está aplicando patrulhamento diuturnamente com a Radiopatrulha , módulos móveis e equipes de motos, nos eixos comerciais e residenciais. Além disso, as atividades foram reforçadas com a aquisição de novas viaturas, que estão sendo empregadas na Operação Sinergia, em andamento desde o início do mês em toda a capital, incluindo o Bairro Alto.

Sobre a utilização de grades e câmeras de segurança, a PM avalia que toda ferramenta utilizada pelo cidadãos, respeitados os direitos e deveres de cada um, é válida e agrega para a segurança de todos. “Inclusive é uma orientação da PM que os vizinhos se conheçam para que possam agir em conjunto em qualquer situação de auxílio ao próximo. As comunidades que resolveram instalar câmeras de segurança e alarmes nas ruas para se ajudarem contribuem com a polícia”.

Em caso de roubos, a PM pede que a população repasse as informações no momento do crime pelo 190, para que uma equipe possa ir até o local. Posteriormente, ainda é possível contribuir com imagens coletadas, características, placas de veículos ou qualquer outro indício que identifique suspeitos. “As denúncias são importantes, pois auxiliam no readequamento do policiamento para os locais com mais necessidade”, destaca a corporação, em nota.

Contatos

– Conseg Bairro Alto:
Reuniões mensais, na última quinta-feira do mês, às 18h45, na Rua Jornalista Alceu Chichorro, 314, ao lado da unidade de saúde. A próxima será dia 31/8.

– 3ª Companhia da Polícia Militar do Paraná:
Rua Rio Jari, 1527. Praça da Liberdade, Bairro Alto. Fone: (41) 3238-5397