É manhã de sexta-feira. No trânsito da hora do almoço, a garoa fina salpica gotinhas nos para-brisas dos carros parados no cruzamento das ruas Estados Unidos e Erasto Gaertner, no Bacacheri. Em meio ao asfalto, debaixo do céu cinzento, quatro piás vestidos de quimono não se deixam abalar pelas carrancas do tempo e nem dos motoristas. Ao circularem entre os veículos, o tilintar das medalhas que levam no pescoço se misturam ao riso alegre dos rapazes que, nos breves segundos antes de abrir o sinaleiro fazem seu apelo aos condutores. A ideia de vender balinhas de goma no semáforo surgiu em prol de um sonho comum: disputar dois importantes campeonatos de jiu-jitsu que acontecem no ano que vem, fora do Brasil.
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O valor das viagens é alto: R$15 mil no total. Para os mais céticos, o feito pode até soar impossível, mas aos poucos, os atletas conseguem juntar o dinheiro. Com positividade e paciência, o grupo deixa os tatames da academia Gracie Barra, no bairro Cabral (onde treinam juntos), para dedicarem algumas horas à venda dos docinhos diariamente e, pouco a pouco, a ideia que nasceu num bate-papo pós treino, tem aproximado os esportistas do sonho da disputa. Arrecadando em torno de R$ 60 reais por dia, os meninos esbanjam força de vontade e garantem, não pretendem desistir até chegarem lá.
“A gente só faz isso porque ama muito o jiu jitsu”, afirma Rafael Nascimento, 20. Colecionador de títulos em nível regional e nacional, o jovem já tinha implementado a ideia de vender guloseimas para custear viagens em prol do esporte há alguns anos. “Deu certo aquela vez, então sugeri de tentarmos de novo para o ano que vem. Com apoio do nosso treinador e do pessoal da academia botamos o plano em prática”, revela.
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Vendendo cada pacotinho de balas a R$ 1, os rapazes dão um jeito de conciliar os treinos e a preparação para os campeonatos, que acontecem nos Estados Unidos e Europa, a partir de maio do ano que vem. “Estamos tão focados que as cinco horas de treino passam voando e quando chega o momento de ir pra rua não importa se está frio, calor ou chovendo. A gente vai de qualquer jeito”, afirma Felipe Negochadle, 21, que conquistou nada menos que 50 medalhas em apenas 2 anos e meio de competição. Além do preparo na academia, o cuidado com a alimentação também é redobrado. “É ovo que não acaba mais”, brinca o atleta que disputa a categoria peso pluma.
Garra de sobra
Orgulhoso dos alunos, o professor Rodrigo Fajardo, 32, aplaude a iniciativa. “Eles não se deixam desanimar pela falta de patrocínio e estão dando tudo de si em busca desse sonho. Querendo ou não, parte dessa força de vontade vem do próprio esporte, que exige do atleta disciplina, paciência e perseverança”, afirma.
É com esse pensamento que André Marcelo Valle, 23 e Heitor Grein Saciotti, 20, se juntaram aos parceiros de tatame no sinaleiro. “Dizem que quando a gente quer muito uma coisa, imaginar que já conseguiu ajuda muito. É nesse espírito que a gente vai pra rua”, afirma André. O rapaz explica que a receptividade junto aos motoristas geralmente é boa e que além de comprarem os doces para ajudar também fazem doações espontâneas ao grupo. “Tem gente que nem chega a comprar as balas. Só dá uns troquinhos e deseja sorte. Outros motoristas dão mais do que pedimos”, conta.
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Amparados pela generosidade do público, os meninos põem em prática um dos principais ensinamentos do grão mestre Carlos Gracie, pioneiro da família Gracie, responsável pela introdução do jiu-jitsu no Brasil, e pai de Carlos Gracie Júnior, fundador da instituição que representam, considerada uma das mais importantes do mundo no segmento: “Mantenha sempre o semblante alegre e tenha sempre um sorriso para todos que a ti se dirijam”. Mesmo com pouca idade, o quarteto já aprendeu esta lição e, por meio do esporte, sabe muito bem que para alcançar qualquer objetivo é preciso garra e muito esforço. “A gente vai conseguir e quando chegarmos lá, vamos vencer daqueles gringos”, brinca Heitor Saciotti. A cada real a mais na “caixinha”, uma só expressão define o sentimento no coração dos lutadores: “Oss”*.
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Dê uma mãozinha aos meninos da Gracie:
Dados bancários
*Nome: Heitor Grein Saciotti
CPF: 111.224.069-16
Banco: Bradesco
C/C: 1001110-8
Agência: 11975
*Nome: Felipe Negochadle
CPF: 084.625.5995-2
Banco: Itaú
C/C: 15714-1
Agência: 370
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