A crise que o país enfrenta levou muitos comerciantes a fecharem as portas, mas em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), esse não foi o motivo que fez uma loja de roupas encerrar as atividades. ‘Loja fechada, fomos vencidos pela violência e insegurança para trabalhar‘, foi a faixa colocada em frente à fachada da Niihau Board Shop, no começo do mês.
A loja ficava na Avenida Archelau de Almeida Tôrres, no Cachoeira, região central da cidade. Depois três furtos e dois assaltos, os prejuízos e o medo foram o suficiente para o proprietário tomar a drástica atitude de fechar o local, que funcionava no mesmo endereço há cinco anos.
Na semana passada, a reportagem esteve na avenida onde funcionava o comércio e uma placa de ‘aluga-se‘ já dividia espaço com a antiga placa da loja de roupas. Em poucos minutos, comerciantes relataram que já não sabem mais o que fazer e se sentem de mãos atadas. Alguns pensam em mudar de endereço.
Decisão difícil
O proprietário da Niihau, que pediu para não ser identificado, conta que optou pelo fechamento para não ter mais prejuízo, já que os produtos comercializados não eram baratos. Além disso, seus funcionários já trabalhavam sem ânimo e o medo impedia que um bom atendimento fosse feito aos clientes.
O último assalto à loja aconteceu na manhã do primeiro dia de julho. De acordo com o proprietário, três bandidos – um deles armado – entraram, renderam funcionários e levaram o que conseguiram: dinheiro, roupas, outros produtos, um notebook e pertences de quem trabalhava.
Críticas à estrutura precária
O comunicado do fechamento da loja foi feito pelo Facebook. O recado dado aos clientes, denunciava a estrutura precária da Polícia Militar da cidade, acompanhado da foto com a faixa que foi colocada em frente ao local. ‘Uma cidade com 120 mil habitantes distribuídos em 16 bairros (sem contar zona rural) conta com o atendimento de apenas cinco viaturas policiais, muitas destas em péssimas condições. Sistema de monitoramento ultrapassado e com defeitos e Guarda Municipal também com deficiências‘, dizia a publicação.
Conforme o rapaz, o empenho e o interesse dos policiais e guardas municipais é evidente, mas esbarram nos problemas estruturais. ‘Tanto nós quanto eles ficamos dependentes de um sistema e um governo ’pilantra’, que abandona o povo à própria sorte‘, desabafou o empresário na ocasião.
A mensagem aos clientes gerou bastante repercussão e revolta na internet, com quase 300 compartilhamentos e 200 comentários. O comerciante pediu desculpas e disse que tomou a decisão para preservar a integridade de toda a equipe.
Menos emprego e mais violência
O rapaz continuou com outra loja, no bairro Xaxim, em Curitiba. O empresário, que antes mantinha dois endereços e cinco funcionários, teve que demitir três. Agora, ele trabalha com um número de clientes menor, o que afeta diretamente o lucro.
Na avenida onde a loja funcionava, na RMC, entre os comerciantes, que não querem revelar a identidade, todos foram unânimes em dizer que a situação está difícil. ‘Por aqui, a crise é a insegurança. Presenciávamos os roubos à Niihau e já não sabíamos mais o que fazer, porque todos nós viramos alvos juntos‘, conta um empresário.
A saída da Niihau afetou diretamente a situação de quem trabalha na rua, já que o fluxo de gente diminuiu. ‘Agora, as pessoas que compravam ali pararam de vir e o movimento caiu. Pode parecer bobagem, mas as pessoas que compravam na loja aproveitavam também os comércios próximos‘, desabafa.
Abandonados e inseguros
Conforme os comerciantes, a situação que levou a Niihau a fechar as portas representa o abandono da segurança pública na cidade. ‘Se aqui, na região central, enfrentamos este tipo de problema, imagina nos bairros? A polícia não é a culpada. Eles estão presentes, mas os bandidos sabem disso e escolhem horários alternativos‘.
No caso da Niihau, no último assalto, estopim para o fechamento, os bandidos foram presos no mesmo dia por policiais militares. Os bandidos estavam hospedados em uma pousada a dois quilômetros da loja e parte da mercadoria foi recuperada. ‘Por isso eu digo que empenho os policiais têm, mas as condições são precárias. Eles até fazem o que podem dentro do que lhes é oferecido‘, considera o empresário.
A dona de uma farmácia, que está há 15 anos no mesmo endereço, vem todos os dias de Curitiba para trabalhar. ‘Agora, depois de sermos alvos de tantos assaltos e vermos os vizinhos também sendo vítimas, já estamos avaliando sair‘, diz a mulher. Para ela, a melhor forma de tentar escapar dos bandidos é saindo dali, pois o prejuízo também tem sido maior do que o faturamento. ‘Nós deixamos até de fazer recargas de crédito para celular. Esse era um dinheiro que entrava e não ficava para a gente, é um serviço que prestávamos, mas depois de tantos assaltos e de tanto termos que bancar do bolso o prejuízo, paramos de aceitar‘.
Assim como em pelo menos outras duas lojas, na farmácia, o horário de funcionamento mudou. ‘Antes, mantínhamos as portas abertas até um pouco mais tarde. Agora não dá mais, abrimos até no máximo 18h, porque quanto mais tarde, mais fácil fica‘, explica a proprietária.
Ações violentas
As ações dos assaltantes são sempre rápidas, mas muito violentas. ‘Sempre armados, nos ameaçam e são egoístas. Para eles, somos alvos fáceis e temos a obrigação de entregar o que pedem. Na hora do roubo, nós é que nos tornamos ’vagabundos’. Isso dói demais‘.
Conforme o proprietário da Niihau, o histórico de junho e julho na região central de Araucária é assustador. ‘Uma semana antes da minha loja, uma lanchonete e uma tabacaria foram assaltadas. Depois do nosso assalto, uma farmácia e outra loja de roupas. Nós resolvemos fechar, mas queríamos muito poder voltar, se um dia a segurança for melhor‘, considerou o rapaz.
Procurada pela reportagem da Tribuna, a Polícia Militar informou que ações preventivas e ostensivas estão sendo feitas pelo 17º Batalhão da PM que é responsável pelo policiamento da região. Todos os casos atendidos são encaminhados para a Polícia Civil fazer as investigações. É importante ressaltar que a população precisa fazer o Boletim de Ocorrência para relatar os crimes, mas o que cabe à PM está sendo feito.
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