As incertezas que tomam conta do futuro do Hospital Municipal de Araucária (HMA), na Região Metropolitana de Curitiba, deixam pacientes, funcionários e comerciantes da região em alerta. Desde o começo da semana, a informação de que o hospital poderia fechar as portas começou a circular dentro e fora do local e mobilizou as atividades da prefeitura, que diz buscar uma solução que não prejudique ninguém.
Na semana passada, a administração divulgou uma nota afirmando que algumas mudanças vão acontecer na estrutura municipal de saúde. Além de outros locais que atendem à população, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o HMA também passaria por readequações, mas o atendimento seria mantido e com novos serviços.
“De qualquer forma, isso não nos ajudou em nada. Pois continuamos com medo de chegar pra trabalhar e estarmos na rua. Aqui dentro, não é esse o papo que circula. O que a gente ouve é que o HMA vai fechar e, pior, que nós ficaremos até sem o salário do mês trabalhado”, denunciou uma funcionária. “Disseram que vão demitir quem for até a imprensa. Querem abafar, acabar com nossos empregos e com o atendimento à população, e nós temos que ficar quietos”, desabafou outro trabalhador.
Conforme apurou a reportagem, o HMA não seria fechado, mas começaria a ser mantido somente pela prefeitura. O hospital hoje funciona através de um contrato com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), que seria rescindido em março para a prefeitura continuar o trabalho. Desta forma, não haveria garantia de que os cerca de 400 funcionários contratados pelo INDSH seriam absorvidos pela nova gestão.
No começo da tarde de ontem, após uma longa reunião, a prefeitura chegou a uma nova proposta para manter os empregos dos trabalhadores. A ideia é que até o final de abril, quando vence o contrato com o INDSH, o hospital continuaria as atividades, mas com uma gestão compartilhada com a prefeitura, que pede que sejam levadas mais demandas da saúde da cidade para o HMA.
Uma nova reunião seria realizada no final da tarde, no Conselho Municipal de Saúde, para discutir o futuro da instituição. “Tudo – até mesmo o futuro de nossos pacientes – é incerto por aqui. Mas de uma coisa a gente tem certeza: enquanto estivermos com uma pessoa internada, nós estaremos trabalhando. Com ou sem salário”, disse uma técnica de enfermagem que trabalha há seis anos no local.
“Só Deus sabe”
Tamanha indecisão preocupa também quem mais precisa do hospital: a população. “Ouvimos muitos boatos, não sabemos qual é o certo. Os comentários que nós ouvimos é que vão fechar o hospital. Isso é péssimo pra população de Araucária. O que está acontecendo aqui é um crime”, comentou o autônomo Vilson Solochinski, que acompanhava a esposa grávida de oito meses.
O casal, que está prestes a ter o filho, estava com medo até de não saber para onde correr na hora que a criança nascer. “Pra gente que mora aqui é bem mais fácil, mais perto, dá tempo de chegar. Se fecham de uma hora pra outra?”, indagou a esposa de Vilson, Maria Aparecida Pereira.
Segundo a mulher, pelo menos ontem, quando a reportagem esteve no hospital, o atendimento estava normal. “Lá dentro tudo normal, me atenderam bem, mas a moça da recepção disse que já estão cumprindo aviso prévio”, contou ela.
“O atendimento aqui é muito bom, mas se acabar isso aí, só Deus sabe”, completou Vilson. Opinião compartilhada por Marlene Cristina Galvão, que é paciente do HMA e acompanhava o marido. “Não temos do que reclamar. Por que mexer com o que está quieto? Se fechar, quem tiver dinheiro vai de carro para os outros hospitais, mas quem é pobre e usa ônibus vai morrer. A gente depende do hospital”, desabafou.
Jacir de Souza, de 71 anos, que acompanha um parente doente, disse que não gostou do que ouviu nos comentários internos do hospital. “O que corre boca a boca lá dentro é que vai fechar. Lamentável. Muita gente depende do hospital, não só a gente”. “O senhor (prefeito) ganhou as eleições dizendo que ia melhorar as coisas. E agora? Como é que vamos fazer? Vamos fechar hospital, fechar a UPA? Pra quê?”.
Os comerciantes do entorno do hospital também demonstram grande preocupação, já que a principal fonte de renda vem de acompanhantes dos pacientes. “Procuramos saber o que vai acontecer, mas ninguém nos diz nada. Se o hospital fecha, a gente fecha junto. Por isso que o desespero é grande”, lamentou uma comerciante, que pediu para não ser identificada.
Adequação ao orçamento
Na nota publicada pela prefeitura, o prefeito Hissam Hussein Dehani afirmou que as mudanças ainda avaliadas são necessárias. “Precisamos adequar a estrutura da saúde às necessidades da população e ao orçamento do município. A palavra-chave é produtividade”, comentou.
Segundo a prefeitura, estas mudanças, que afetariam a UPA, o Pronto Atendimento Infantil e o atendimento do HMA, vão permitir a revitalização das unidades básicas de saúde. A promessa da prefeitura é que o HMA não será fechado, mas passará a ter novos serviços, como o aumento na oferta de exames de imagem, laboratoriais e consultas eletivas de especialidades médicas.
A nova administração alega que a medida foi tomada após tomar conhecimento da quantidade de pessoas nas filas de espera para consultas especializadas e para exames. Atualmente, mais de 8 mil pacientes esperam para realizar exames. A ideia do novo prefeito é fazer com que os custos sejam barateados e serviços da saúde já custeados pelo município sejam mantidos e ampliados.
Histórico problemático
O HMA enfrenta problemas na administração desde a inauguração, em 2008, e três empresas já passaram pela diretoria. O hospital já fechou várias vezes. A primeira empresa responsável pelo hospital foi a Pró-Saúde, que ficou na administração até julho de 2014.
Na época, a unidade ficou fechada por seis dias e o medo de que os funcionários fossem mandados embora tomou conta. Logo depois, a empresa Bio Saúde assumiu, recontratou as equipes, e ficou sob o comando do HMA por três meses.
O INDSH administra o hospital desde o começo de novembro de 2014. A intenção do instituto, assim como quando houve os problemas com as gestões anteriores, é garantir o atendimento à população e assegurar que os funcionários não percam seus empregos.