Ser motorista é o ofício de Ivando Campos há 45 anos. Só no Interbairros 2 ele está desde que a linha foi implantada, em setembro de 1979. Aos 70 anos e aposentado há 24 anos, o “seu Campos”, como é conhecido por colegas, passageiros e amigos, evita pensar no dia que tiver que realmente parar de trabalhar. “Eu adoro conviver com as pessoas, trabalhar com o público, por isso eu amo o que eu faço”, afirma, referindo-se ao segundo emprego no qual está até hoje.
Se contabilizarmos a quantidade de quilômetros rodados, numa conta aproximada, seria possível afirmar que Campos já deu 37 voltas e meia na Terra (que tem sua circunferência estimada em 40.075 quilômetros). Se o Interbairros II “voasse” ele iria da Terra até à Lua quatro vezes, considerando que a distância entre nosso planeta e seu satélite natural é de 384 mil quilômetros.
E ele conta com orgulho que nunca levou uma multa de trânsito sequer.
Depois de levantar da cama, às 3h30, fazer o café da manhã e as orações para invocar a proteção divina e de Nossa Senhora Aparecida para o dia que começa, seus dois compromissos diários inadiáveis são assumir a direção do coletivo ainda na madrugada, às 4h45 e buscar um dos netos, Luiz Eduardo, de 12 anos, na escola. Só depois de seis horas de trabalho num total de quase três voltas pelos bairros de Curitiba (120 quilômetros/diários) e de dar atenção ao neto é que Campos relaxa.
Por onde passa, Campos parece até político em época de campanha. Todos param para falar com ele, cumprimentar. E o motorista, com orgulho, conta que são amizades que fez graças à profissão. “Amizade é melhor do que dinheiro”, afirma.
O motorista é parte da história viva do Interbairros 2. Sabe um pouquinho de muitos dos passageiros que encontra diariamente. Daqueles que nada sabe, sempre deseja um bom dia. E fica chateado quando o cumprimento é ignorado. “Hoje as pessoas são diferentes”, justifica.
Conhecedor de cada cantinho e de detalhes de Curitiba, Campos admite que o trânsito excessivo nas ruas é um dos fatores que atrapalham a profissão atualmente. “Antigamente Curitiba era uma cidade mais tranquila para circular”, afirma, saudosista.
Protagonista de uma história que vai se concretizando no dia a dia, Campos relata que já viu de tudo dentro do Interbairros 2. E gosta de estabelecer vínculos que vão além dos terminais urbanos. Bem no estilo avô cuidadoso, ele fala com carinho de passageiros que viu crescer, das conquistas que acompanhou ao longo do trajeto, das amizades e amores que se formaram no coletivo.
Ao contrário da praxe curitibana, no transporte urbano não precisa ter sobrenome importante. Aliás, não precisa sequer ter sobrenome. O que vale é como o passageiro se identifica. E é assim que Campos lembra de muita gente: da Bruna, do Tiãozinho, do Luciano e do Lourenço, entre tantos outros.
Campos faz questão de ressaltar que foi à frente do Interbairros 2 que conseguiu tudo o que tem hoje: casa, carro e, o principal, o sustento da família. “Eu faria tudo de novo, do mesmo jeito”, enfatiza o motorista.
*Reportagem: Daniele Blaskievicz
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