A pessoa que criou a fama de “antipático” do curitibano deve ter sido passageira do Interbairros 2 nas primeiras horas do dia. Poucas vozes, quase nenhum sorriso, fones de ouvido e olhares fixos no celular ou, no máximo, perdidos no horizonte. Tudo indica que o sono e a pressa de chegar ao destino, associados ao sonho não finalizado da noite anterior, refletem diretamente no humor dos passageiros do ônibus. Por outro lado, no final da tarde, é quase uma outra população voltando para casa. A fala frouxa e até gargalhadas aparecem ao longo do trajeto.
A atriz e assistente comercial Lidiane Alexandrini Donizete, 23 anos, usa o Interbairros 2 diariamente para ir do Hauer até o Terminal do Capão Raso, onde faz outra conexão para chegar ao trabalho. À noite, usa o ônibus para ir até a faculdade, no bairro Portão, e depois até em casa. Apesar de admitir que prefere ficar em silêncio pela manhã, devido ao mau humor típico nessa hora do dia, ela comenta que os passageiros no final do dia “são muito mais animados”. “Tem muitos adolescentes e jovens que estão indo para aula e o clima fica bem mais alegre”, explica a jovem, que afirma contar com frequência com a solidariedade dos motoristas para não perder o transporte. “Os motoristas já me conhecem e quando veem que ainda não estou no ponto de ônibus, vão mais devagar para dar tempo de eu embarcar”, relata.
A administradora de empresas Maria Helena Varasquim, 31 anos, que diariamente faz o trajeto entre a Água Verde, onde mora, até a Vista Alegre, onde trabalha, também evita conversas e aproveita os 50 minutos em que está dentro do ônibus para estudar. E quando consegue lugar para sentar, não se intimida em tirar apostilas e calculadora científica para atualizar os conhecimentos para o MBA em Finanças, pós-graduação que faz no período noturno. “Eu pego três ônibus, então fica mais complicado para estudar. Rende menos, mas é melhor do que nada”, justifica.
Direitos
Um dos problemas comuns em Curitiba, e em muitos outros locais, é a falta de respeito na utilização do banco preferencial para idosos, gestantes e pessoas portadoras de deficiência. “Esses bancos devem ter sonífero, porque nunca vi como as pessoas ficam cansadas e sonolentas quando sentam ali”, comenta a empregada doméstica Janaíse Rangel, 30 anos. Mãe da pequena Giovanna, de apenas 1 ano, ela conta que quando estava grávida nunca teve coragem de exigir o direito de ocupar o lugar. “Uma das vezes, já no final da gestação, quem levantou pra eu sentar foi um senhor idoso, enquanto que o adolescente que estava ao lado dele simplesmente me ignorou”, relata.
O motorista Ivando Campos, que é o mais antigo a fazer a linha do Interbairros 2, confirma que esse tipo de situação é muito comum. Segundo ele, às vezes nem com a intervenção do cobrador, pedindo para que o passageiro se levante para ceder o lugar para quem realmente precisa, isso acontece. “É um grande desrespeito”, enfatiza.
*Reportagem: Daniele Blaskievicz
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