Indignação. Essa é a palavra que define o sentimento de pessoas como Antônio Carlos Witt, 56 anos. Comerciante do Alto da Rua XV, ele e seus vizinhos enfrentam uma onda de violência na região e viram a situação fugir completamente do controle em 2016 – como a Tribuna mostrou no último mês de junho. “Já tive três carros roubados aqui, o gerente e vários funcionários da empresa em que trabalho foram assaltados, meus vizinhos sofreram nas mãos dos ladrões e o meu filho de 21 anos foi vítima de um bandido armado em plena luz do dia. Isso precisa terminar!”, afirma.

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Segundo o jovem, que prefere não ser identificado, ele estava chegando ao trabalho na Rua Presidente Rodrigo Otávio por volta das 10h, quando desceu do carro e se aproximou do portão da empresa. “Neste momento, um homem de calça jeans, camisa e paletó chegou perto de mim. Imaginei que fosse algum candidato para as entrevistas de emprego que estavam abertas na companhia. Ele falou algo que não consegui entender e, quando eu pedi pra repetir, vi a arma que ele segurava. Foi uma sensação terrível!”, recorda o rapaz, que entregou a chave do seu carro esportivo Peugeot RCZ sem reagir.

Prejuízos

Faixa de comerciantes e moradores manda o recado sobre a violência no alto da XV. Foto: Átila Alberti

Assim como ele, Luiz Miguel Amorim Santos, 33, também perdeu seu carro e até algumas vendas. Funcionário de uma empresa de equipamentos da área médica, ele agendou sua apresentação com clientes no horário de almoço em uma padaria do bairro. “Só que três bandidos chegaram no local. Um ficou na porta, outro desligou as câmeras de segurança e o terceiro passou limpando os clientes. Como a chave do meu carro estava em cima da mesa, eles apertaram o alarme e fugiram nele cantando pneu”, lamentou o trabalhador, que nunca mais conseguiu negociar com aqueles compradores.

Luiz perdeu o carro em um assalto no bairro.

Além de perder a venda, ele e as demais vítimas afirmam que não receberam apoio policial. “É difícil ver viaturas circulando por aqui no dia a dia e, quando acontecem essas situações, também não temos apoio. Inclusive, nunca encontraram algum dos meus carros roubados”, lamentou Antônio.

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Por isso, moradores e transeuntes já se acostumaram a conviver com o medo. Esse é o caso de Angelita Lúcia Haubert, que foi assaltada por um bandido segurando uma faca enquanto saía do mercado. “Era 9h da manhã e estava chovendo. Eu decidi comprar alguma coisa para comer, mas, quando saí do mercadinho e abri minha sombrinha, fui abordada por um homem de bicicleta que parou rapidamente na minha frente e colocou a faca bem perto de mim”.

O que fazer?

Uma das moradoras contou que chegou a ser assaltada por um bandido com uma faca na saída de um mercado. Foto: Átila Alberti

Segundo os moradores, entre as ruas mais procuradas pelos bandidos estão a Itupava, Professor Dr. Duílio Anibal Calderari, Prefeito Ângelo Lopes, Augusto Stresser e Professor Brandão. No entanto, eles afirmam que uma única quadra na Rua Presidente Rodrigo Otávio consegue o primeiro lugar na lista, com mais de 20 carros roubados, cinco assaltos à mão armada e quase 100 pessoas lesadas.

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Por isso, eles até mandaram confeccionar uma faixa em forma de protesto. Nela são apresentados esses números e ainda há um recado aos bandidos, dizendo para ficarem à vontade na região. “A situação já virou brincadeira mesmo, então temos que fazer alguma coisa pra chamar a atenção das autoridades e fazer com que olhem com cuidado para esse problema”, pontuou um morador, que não quis se identificar.

Vizinhança unida

Além disso, as casas e comércios passaram a investir em monitoramento, alarmes e até decidiram se unir com o projeto Vizinho Solidário para tentar conter a violência. A ideia surgiu com a oftalmologista Tomoe Sewo Mitsuhashi, que teve sua clínica assaltada e cansou de ver outros colegas sofrerem nas mãos dos bandidos.

Tomoe teve a ideia do projeto Vizinho Solidário

Segundo ela, o projeto consiste na instalação de câmeras e alarmes na rua, que podem ser controlados por todos os moradores em qualquer hora ou lugar. “Se uma pessoa estiver viajando, ela tem acesso às imagens e sabe como está sua casa. Sem contar que um morador pode avisar os demais se vir alguém em atitude estranha”, explica.

Para isso, ela solicitou orçamento e começou a conversar com os demais moradores da rua. Um deles é o urbenauta Eduardo Fenianos, que aceitou dividir o valor dos equipamentos e da instalação para que o projeto seja colocado em prática o quanto antes. “Queremos segurança, então estamos nos organizando para conseguir isso e tenho ajudado a passar a ideia adiante. Das 20 casas da quadra, 12 já aceitaram, então este mês já queremos começar”.

Cadê a polícia?

Vizinhos passaram a investir em monitoramento, alarmes e até decidiram se unir com o projeto Vizinho Solidário na tentativa de barrar a violência no alto da XV. Foto: Átila Alberti.

Mesmo com o projeto em andamento, o policiamento na região continua sendo uma solicitação de quem passa por ali. Por isso, o 20º Batalhão de Polícia Militar garante que o patrulhamento ostensivo e preventivo está sendo feito na localidade com o apoio de módulo móvel, radiopatrulha e das equipes de motos. “A Polícia Militar atualmente está trabalhando com os meios humanos e materiais que possui e faz um grande esforço para atender todas as ocorrências, priorizando as de risco à vida”, informa, em nota.

Além disso, cita que nas últimas semanas se formaram mais de 2 mil novos policiais, que foram distribuídos nas unidades da PM de todo o Paraná, inclusive no 20º Batalhão, para reforçar o policiamento. Entretanto, para que essas equipes se desloquem até os locais de crimes é necessário que a população entre em contato pelo telefone 190, passando informações, como características de suspeitos e placas dos veículos roubados.

Já a Guarda Municipal explica que é responsável pela segurança de equipamentos públicos da cidade, como parques, praças, terminais de ônibus, postos de saúde e creches. Na região do Alto da Rua XV é possível encontrar os guardas perto do Jardim Ambiental e também na operação Balada Protegida na Rua Itupava, locais em que a GM prometeu reforçar as rondas durante o dia e a noite. Denúncias também podem ser feitas pelo telefone 153.

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