Vida nova

Até o ano passado, cerca de 60 a 70 funcionários públicos municipais de Curitiba pediam a aposentadoria, todos os meses. Com as iminentes reformas trabalhista e previdenciária que tramitam no Congresso Nacional, este número dobrou e cerca de 120 a 140 funcionários municipais vêm solicitando o benefício ao Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Curitiba (IPMC) mensalmente.

Muitos destes trabalhadores se sentem “perdidos” com a diminuição no ritmo das atividades. Mas o que muitos não sabem é que podem continuar com a produtividade em alta, já que o próprio IPMC oferece aos seus funcionários aposentados e pensionistas o Programa Vida Nova. Nele, são oferecidos muitos cursos, palestras, oficinas (idiomas, artesanato, gastronomia, danças, yoga, alongamento, pilates, coral, informática, instrumentos musicais, terapias de saúde corporal e mental), passeios e viagens (desde pequenas excursões até cruzeiros internacionais), atividades esportivas, entre outras programações.

Em outro prédio

Até o fim de março, o serviço funcionava em um prédio pertencente ao IPMC, no Centro de Curitiba – na Rua Doutor Pedrosa, 257, a meia quadra da Praça Rui Barbosa. Desde o dia 29 de março, passou a funcionar no Edifício Delta, na Avenida João Gualberto, 623, 2º andar, no Alto da Glória.

Prédio que sediava o programa será reformado e pode ser vendido. Foto: Felipe Rosa
Prédio que sediava o programa será reformado e pode ser vendido. Foto: Felipe Rosa

Reclamações

A mudança gerou descontentamento de muitos beneficiados pelo programa, pois além de ter ficado mais longe para vários aposentados, dizem que o espaço ficou menor e diminuíram os serviços oferecidos.

“Lá na Doutor Pedrosa, o Programa Vida Nova ocupava um prédio de 11 andares. É evidente que 11 andares não cabem em seis salas. E lá ficava perto da Praça Rui Barbosa, que é bem servida de linhas de ônibus. Agora ficou mais longe pra muita gente”, disse uma das aposentadas, que relata que, desde a mudança, o número de participantes do programa diminuiu. “Numa das aulas de idiomas, que juntava cerca de 15 alunos, só três participantes apareceram numa das últimas aulas”, lamentou.

Nova sede fica no Edifício Delta, na Av. João Gualberto. Foto: Felipe Rosa
Nova sede fica no Edifício Delta, na Av. João Gualberto. Foto: Felipe Rosa

“A coordenadora entrou na sala avisando que haveria a mudança e que começaria a valer na semana seguinte. A mudança foi muito repentina. Achei falta de respeito. Ouvimos dizer que o programa vai acabar”, disse outra aposentada. As duas amigas pediram para não serem identificadas.

Elas também dizem que as aulas de música e dança ficaram prejudicadas. Não podem mais fazer muito barulho – como cantar muito alto no coral ou bater os pés nas aulas de dança – para não atrapalhar as aulas nas salas ao lado. Se abrir a janela, o barulho incomoda os funcionários das repartições nas torres ao lado.

Cynthia: programa será expandido para as regionais. Foto: Felipe Rosa
Cynthia: programa será expandido para as regionais. Foto: Felipe Rosa

Não vai acabar

Cynthia Koerich, coordenadora do Programa Vida Nova, deixa claro que o projeto não será encerrado. Também diz que os serviços prestados não diminuíram. Pelo contrário, estão sendo expandidos a diversas regionais, para aumentar o leque de serviços oferecidos. “Estamos trabalhando parcerias com outros setores da prefeitura, para ter mais opções de atividades nas regionais próximas às casas dos servidores aposentados. Uma delas, por exemplo, é a parceria que estamos fechando com o Museu Municipal de Arte (Muma), no Portão”, disse Cynthia.

A coordenadora confirma que houve uma diminuição na quantidade de participantes do programa, logo após a mudança. Eram cerca de 600 pessoas e, logo após a mudança, caiu para cerca de 400. Mas, com o passar das semanas, diz ela, os participantes estão voltando.

Mais organizado

Cynthia conta que fizeram uma pesquisa com os participantes do programa, antes de mudar de endereço. Descobriram que uma quantia grande de pessoas, quase 40%, não eram servidores municipais aposentados. “Eram pessoas do entorno do prédio, moradores, comerciantes ou trabalhadores, que se utilizavam dos cursos, já que não havia controle destas pessoas nas matrículas”, alega. Com a mudança, este controle têm sido feito e agora só servidores municipais aposentados participam do programa.

“Sobre a questão da mobilidade, também percebemos que 90% dos participantes vinham de carro. Então consideramos que o deslocamento ao novo prédio, que não é tão longe do antigo, não seria problema, já que fechamos uma parceria com o estacionamento do Edifício Delta e eles podem estacionar aqui dentro com um preço promocional”, diz.

Aposentadoria planejada

Marici agora faz sua agenda. Foto: Felipe Rosa
Marici agora faz sua agenda. Foto: Felipe Rosa

Um dos objetivos do Programa Vida Nova, que existe desde 2007, é preparar os servidores municipais para a aposentadoria, para que não sofram com a queda repentina no ritmo de atividades. Depois disto, o objetivo é fazer com que os aposentados continuem a ter saúde e qualidade de vida, preenchendo o dia a dia deles com atividades culturais e de lazer. “A grande maioria não está preparada para a aposentadoria, entra em depressão. Estamos planejando um projeto, para começar a trabalhar com os servidores dois anos antes deles se aposentarem. Para que se preparem psicologicamente e comecem a ver atividades que vão substituir o trabalho”, diz a coordenadora Cynthia Koerich.

Eliane: mudança não foi fácil. Foto: Felipe Rosa
Eliane: mudança não foi fácil. Foto: Felipe Rosa

Uma das servidoras que já vinha trabalhando seu psicológico antes de se aposentar é Marici Almeida, 60 anos. “Estava superpreparada e não senti nem um pouco a aposentadoria. Achei ótimo. Antes eu chegava no trabalho e tinha a agenda cheia, feita para mim, trabalhando para os outros. Agora eu tenho a agenda cheia trabalhando pra mim mesma. Eu que faço minha agenda”, disse animada, durante a aula de francês.

Já para a outra aluna, Eliane Pagnoncelli, 62 anos, a mudança não foi tão simples. “Resisti à aposentadoria e trabalhei por mais quatro anos depois de aposentada. No primeiro mês em casa, eu estava me sentindo descartável, desnecessária. Mas depois você vai se acostumando, tomando consciência e aprendendo a preencher o seu dia a dia”, contou.

Marli: vou aproveitar a minha vida. Foto: Felipe Rosa
Marli: vou aproveitar a minha vida. Foto: Felipe Rosa

Quase a mesma sensação foi compartilhada por Marli de Paula, 63 anos. No dia que eu vim aqui assinar o que faltava, saí ali na calçada com o papel da aposentadoria na mão e me perguntei: ´E agora, o que vou fazer da minha vida?´ Na mesma hora eu decidi: vou aproveitar a minha vida”, relatou Marli, que participa de várias atividades do Vida Nova.

O que vai ser do prédio antigo?

O edifício na Rua Doutor Pedrosa pertence ao IPMC. Mas, segundo Hélio Pizzatto, diretor do IPMC, o edifício é muito antigo e está precisando de reparos urgentes. Uma tela de proteção foi colocada ao redor do imóvel porque as pastilhas da fachada, de tão velhas, estavam caindo e poderiam ferir alguém na calçada. Uma reforma será feita e, após isto, o instituto irá alugar ou vender o prédio, para capitalizar.

“Estamos passando por um momento delicado. Aquela época da bonança, que sobrava dinheiro, acabou. Precisamos repensar muita coisa. É claro que toda mudança tem resistências, mas consideramos que a mudança para o prédio novo teve muitos mais pontos positivos que negativos”, analisa a coordenadora Cynthia Koerich. Ela explica que, dos 11 andares do prédio antigo, apenas quatro estavam sendo utilizados pelo Programa Vida Nova. Os outros estavam com problemas diversos na estrutura, como infiltrações, paredes quebradas, sem condições de uso. Por isto ela considera que as seis salas novas no Edifício Delta estão atendendo bem a demanda semanal.

Alunas dos cursos de inglês concordam que, apesar de mais longe para a maioria, a nova estrutura é bem melhor que a anterior. “O espaço é bom, o prédio é moderno, seguro. A qualidade dos ambientes é incomparavelmente melhor. Os banheiros são novos, limpos. No outro não dava pra usar o banheiro”, comparou uma aposentada.

Meta do programa Vida Nova é atender mais de mil servidores aposentados até o fim de 2017. Foto: Felipe Rosa
Meta do programa Vida Nova é atender mais de mil servidores aposentados até o fim de 2017. Foto: Felipe Rosa

Os aposentados

Público potencial do Vida Nova:

14 mil pessoas (beneficiários do IPMC)

Dos quais:
12 mil servidores aposentados
2 mil pensionistas

Pedidos de aposentadoria por mês:
Em 2017: 120 a 140 servidores
Em 2016: 60 a 70 servidores

Vida Nova atende:
Cerca de 600 pessoas por mês
Objetivo:
Passar de 1 mil até fim do ano

Serviço:
Programa Vida Nova
Edifício Delta
Avenida João Gualberto, 623, 2º andar – Torre C
Alto da Glória
Telefone: (41) 3350-3698

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