Mesmo trabalhando no escritório e de portão fechado, o empresário Edgar* acabou surpreendido por dois homens armados dentro de casa. A ação foi por volta das 8h, minutos depois de a esposa sair para trabalhar e de o filho ir para a escola. O caso aconteceu na última semana, no bairro Alto Boqueirão.
Surpreendido pela dupla armada e aparentemente sob efeito de drogas, a vítima não pôde fazer nada a não ser colaborar com os criminosos e entregar, além de R$ 1 mil em espécie, celulares de funcionárias que o acompanhavam, notebooks, relógios, tênis e até mesmo o videogame do filho. Para carregar tudo isso, os bandidos ainda roubaram um dos dois carros da família.
“Me ameaçavam a todo o momento. Queriam mais dinheiro, achavam que eu guardava minhas economias em casa. E eles com a arma sempre em punho. Num primeiro instante, eu fui rendido por um assaltante – que pulou o muro e rendeu a mim e a minha equipe. O comparsa aguardou do lado de fora até receber um ‘ok’ para entrar. Juntos, levaram o que puderam”.
De acordo com o empresário, a ação durou cerca de 30 minutos. “A pressão psicológica foi muito grande. Algumas funcionárias que estavam aqui ficaram em estado de choque”, lamenta.
Segundo ele, comércios da região também têm se tornado alvo de criminosos. A proprietária de uma panificadora, a poucas quadras dali, confirmou que amargou prejuízo com dois arrombamentos no último mês, mas preferiu não gravar entrevista.
“Peregrinação” sem solução
Depois de passar minutos de terror nas mãos dos assaltantes, Edgar acionou a Polícia Militar pelo telefone 190. “Os policiais chegaram em meia hora, fizeram algumas perguntas, não fizeram o boletim de ocorrência e me orientaram a ir até uma delegacia para registrar o B.O. (boletim de ocorrência)”, disse.
Como nunca havia passado por isso, o empresário seguiu as orientações e acabou parando na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, no bairro Vila Izabel. Lá, foi informado pelo policial no atendimento de que o registro deveria ser feito na Delegacia de Furtos e Roubos, que fica no bairro Jardim Botânico.
Ainda assustado, se dirigiu até a outra delegacia. Para a surpresa dele, a atendente disse que não poderia fazer o registro, uma vez que a PM já esteve no local do crime. “Pediram pra eu aguardar 24 horas, que é o tempo que leva para que o B.O. da PM caia no sistema da Polícia Civil. A atendente não acreditou quando eu disse que o boletim não havia sido feito até aquele momento, por mais que a PM tenha comparecido à minha casa. Tive que voltar embora”.
Primeiro registro é com a PM!
A situação só foi resolvida depois da intervenção da reportagem, que conseguiu o atendimento na Polícia Civil, após contato com a assessoria de imprensa. A Polícia Militar do Paraná, por meio de nota, se limita a dizer que a orientação é para que as vítimas busquem a delegacia especializada em crimes que envolvam veículos (DFRV). O Comando do 20º Batalhão, responsável pela área, diz que a própria Polícia Civil orienta que o registro seja feito pessoalmente na delegacia.
Já um delegado da Polícia Civil, consultado pela reportagem, disse que a ida até uma delegacia só deve acontecer 24 horas após a realização do B.O., para que a vítima “confirme que o carro ainda não foi encontrado e, assim, as investigações sejam iniciadas”. Ele confirmou que a PM, quando constata o crime e após chegar ao local, deve fazer o primeiro registro.
*Edgar é um nome fictício. Por questões de segurança, o empresário preferiu não se identificar.