Fiscal da cidade

Nada passa despercebido pelo “olho clínico” do militar aposentado Valério Weber, morador do Água Verde. Onde vai, carrega um maço de papeletas, para anotar qualquer coisa que esteja fora de ordem na cidade e informar à administração pública depois. Até hoje foram mais de três mil reclamações, das quais ele guarda protocolos, fax e até telegramas. Embora descrente quanto a um futuro melhor, ele garante que não vai desistir de lutar por melhorias.

Valério faz questão de destacar que não reclama, “apenas informa”. Entre esses “avisos”, estão buracos nas ruas, poda de árvores, implantações de placas e trânsito, lâmpadas queimadas, pichações e tudo mais que esteja fora dos conformes. Tudo o que faz é registrado: as ligações são anotadas com dia, o problema e o protocolo em cadernetas. Das solicitações mais antigas, guarda os papéis do fax e os telegramas. Muitas foram feitas a mão. O último registro foi feito há cerca de dez dias, sobre um buraco no bairro.

A vontade de tornar as coisas melhores se estende a produtos que usa e lugares que visita. Se ele tem uma sugestão para melhorar um shopping, por exemplo, não pensa duas vezes em repassar. Os produtos que usa em sua casa também passam pelo crivo rigoroso dele. “Não faço esperando nada em troca. Faço como colaboração para que melhorem. É uma doença que não consigo largar”, destaca.

O “olho clínico” foi adquirido, segundo Valério, em sua experiência como mecânico de aviação na aeronáutica. “Tinha que inspecionar cada coisa, ver os pneus, cheirar se tinha algum líquido diferente. Se não fizesse isso, podia morrer”, conta. Com o envolvimento e o empenho com que trata questões que dizem respeito a todos os cidadãos e ao poder público, o aposentado tem como objetivo inspirar outras pessoas. E ele até dá dicas para quem quer desenvolver o “olho clínico”: “sempre ter um toquinho de papel no bolso, uma caneta, e tempo para anotar a discrepância e onde ela se localiza. Após, descobrir a quem compete a correção. Usar os Correios, o telefone, o fax ou, agora, mais modernamente, a internet”.

Quando vê garrafas jogadas pelo bairro, Valério também não pensa duas vezes e junta. No prédio onde mora, cata as bitucas de cigarro para garantir a limpeza do espaço. Até tentou uma solução definitiva para o problema: montou uma caixinha de madeira com areia para incentivar que os outros moradores jogassem as bitucas só ali. O problema é que um gato adotou o local para fazer suas necessidades e o objeto não tem cumprido sua função.

Tanta dedicação rendeu a ele títulos como “fiscal da cidade” e convite para ser inspetor do Conselho de Segurança (Conseg) do Água Verde. Em maio desse ano, venceu o Prêmio Bom Exemplo Paraná ­ concurso da RPC TV que reconhece bons exemplos que fazem o bem sem esperar algo em troca ­ na categoria cidadania.

Embora descrente com mudanças significativas na sociedade, pois acredita que “as pessoas só querem usufruir dos direitos, mas não querem ter deveres”, Valério garante que vai continuar lutando por soluções para os problemas que encontra em seu caminho. “Não me desgasto porque gosto de fazer isso. Não vou parar”, afirma.

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