O que era para ser uma visita de rotina ao Cemitério do Água Verde se transformou em filme de terror no último sábado (23). Uma família que buscou as capelas para prestar homenagens a parentes já falecidos encontrou túmulos parcialmente destruídos por conta da enchente que atingiu o cemitério depois da chuva de sexta-feira (22).
Pelos corredores da parte mais baixa do cemitério, que já foi notícia por causa de vandalismo e o perigo de assaltos, era visível que a chuva encheu as ruas e deixou destruição. “Minha família está enterrada no cemitério e, para chegarmos ao túmulo, passamos pela lateral. A gente se assustou com a situação”, contou Ursula, que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome.
Segundo a mulher, que é moradora do bairro Pilarzinho, o susto foi ficando ainda maior quando ela e o marido perceberam que alguns túmulos estavam abertos. “Conforme fomos andando pelos corredores, vimos que estava pior do que imaginávamos. Foi bastante água e a enchente passou por cima de alguns túmulos. Em outros, conseguimos ver a marca da sujeira”.
Ursula ainda contou que, além de ver os túmulos abertos e caixões expostos, os latões de lixo estavam no meio das vielas do cemitério. “Foram levados pela força da água. A cena que encontramos era horrível”, desabafou.
O túmulo da família de Ursula não foi atingido, mas porque fica numa rua um pouco mais alta. “Senão, também teria enchido de água. Mas ficamos chateados pelo abandono”. A mulher contou que essa não foi a primeira vez que percebeu o desleixo com o cemitério municipal: “Normalmente a gente vai e tem sujeira, raramente cortam o capim que cresce entre os túmulos e as ruas. Sentimos que está sempre abandonado, o que é uma tristeza”.
Água contaminada
A denúncia da enchente no cemitério foi feita à Tribuna do Paraná não só pela preocupação sobre os túmulos abertos e a sujeira que a família encontrou, mas também pela poluição. “Como a água entrou nos túmulos, alguns deles com corpos ainda em decomposição, com certeza o chorume desses corpos se misturou à enchente”, explicou Cláudio, que também pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome.
Depois que passou pelos túmulos, a água escoou e o medo é de que a contaminação dos corpos em decomposição tenha atingido o lençol freático. “Dessa forma, contaminou a água de modo geral, porque depois da inundação, essa água dissolveu o chorume e misturou tudo”.
Cheiro forte
Cláudio ainda denunciou que, há algum tempo, fez um chamado através do 156 para pedir que algo fosse feito sobre o esgoto. “Nos dias de calor, quando você passa pelo cemitério, dá pra sentir o cheiro forte vindo dos esgotos”, explicou Claudio. A suspeita dele é de que alguma fossa esteja despejando os dejetos no córrego que passa pelo cemitério. “E essa água deveria ser exclusivamente pluvial”, completou o homem, que disse que, infelizmente, não teve resposta sobre o chamado que fez. “Mas a situação continua”.
O que diz a Prefeitura?
Sobre o alagamento, o diretor do Departamento de Serviços Especiais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Luis Augusto Dissenha, informou que foram executados reparos emergenciais nas sete tampas das sete sepulturas danificadas pela subida do nível de água da chuva. De acordo com a prefeitura, o acidente aconteceu “porque as estruturas foram forçadas pela água pluvial que se juntou a um braço do rio Água Verde, que corre sob o local, e brotou de um bueiro.”
Além disso, famílias responsáveis pelo túmulos devem ser procuradas nos próximos dias para que providenciem os reparos necessários. O diretor explicou que está programada para 2018 a execução de obras de desvio do curso local da água da chuva, assim a água não mais será escoada por dentro do cemitério. Toda a intervenção será feita pela parte externa do local.