A garagem da casa do mecânico aposentado Luiz Altayr Gusso, 70, tem uma decoração inusitada. O espaço – onde ele passa quase que os dias inteiros – serve de oficina para um hobby especial: a criação de bicicletas artesanais. E as paredes são uma espécie de arquivo do trabalho. É ali que estão desenhados os detalhes dos modelos já produzidos.
Todo o processo de um novo trabalho de Gusso é feito “a olho”, com formas, medições e alterações feitas conforme a necessidade do produto e sem a criação de um projeto prévio. Além disso, a lista de criações é grande e ele perdeu a conta de quanto já produziu. São bicicletas com estilos diferentes, triciclos e outras encomendas personalizadas que chegam de várias regiões da cidade.
A demanda, em algumas vezes, surpreende o aposentado, que acredita que a procura vinda de pessoas que nem o conhecem aconteça devido à falta do serviço em Curitiba. “Não tem muito quem faça isso”, avalia.
Dessa forma, ele já criou também uma bicicleta adaptada para uma criança com deficiência e até uma estrutura para assar porco. Entre os projetos em andamento estão um suporte portátil para prancha de surfe e um carrinho para acomodar produtos congelados.
A lista de materiais é, muitas vezes, composta por reaproveitamentos. E é o próprio aposentado que trabalha manualmente em cada etapa da produção, cortando, serrando, soldando e entortando a matéria prima.
Inventor
Aposentado pela Copel desde o ano 2000, Gusso teve destaque na empresa por suas invenções. Não foi à toa que recebeu o apelido de Professor Pardal, referência ao personagem de Walt Disney que é um inventor. Foram mais de dez iniciativas colocadas em prática na empresa, que renderam a ele premiações. “Eram ideias pra melhorar o serviço”, diz.
Modesto, o senhor parece não dar tanta importância aos seus feitos e explica que a iniciativa de criar as coisas o acompanha desde a infância e teve importante influência do pai, que também era mecânico e usava sempre um macacão. “Sempre gostei de fazer coisas e aprendi sozinho”, revela.
Para ele, o fator principal para ter sucesso nos projetos é a observação aliada à curiosidade. “Fui experimentando, olhando como fazer. É a curiosidade! De querer ver como funciona”, explica.
Da garagem pro mercado
O serviço artesanal de Luiz Altayr Gusso despertou no filho, Lucas Giovani Gusso, 24, a oportunidade de um negócio promissor. No ano passado, o rapaz investiu na ideia de profissionalizar os produtos do pai durante o trabalho de conclusão do curso Design de Produto, na PUC-PR. “Juntei o útil ao agradável. Vem muita gente atrás do meu pai, isso que não tem divulgação”, conta o jovem.
Junto com o amigo e colega de curso, Yuri Prybycien, 23, ele está dando início à empresa AZZU, que vai levar ao mercado equipamentos movidos a propulsão humana. Ou seja, aqueles que precisam do movimento do corpo para se locomover.
O objetivo é apresentar produtos diferenciados, com design e funcionalidades inovadoras para diversos públicos como crianças, pessoas com deficiência e também estabelecimentos que investem no lazer, como hotéis. “Na pesquisa de mercado que fizemos, observamos que não tem empresa especializada neste tipo de trabalho aqui no país”, diz Yuri.
O primeiro produto desenvolvido foi o triciclo Mantis, que contou com o trabalho de Luiz. A novidade leva em consideração os mínimos detalhes, como inclinação do assento, maior comprimento da estrutura (para garantir equilíbrio), distância do chão e outros elementos.
A marcha é interna e correias substituem as correntes, que normalmente são utilizadas em bicicletas. “Cerca de 80% da manutenção das bicicletas é com as correntes e resolvemos isso com a correia de borracha, pela manutenção preventiva e maior durabilidade”, explica Yuri.
“Acho que vai dar certo. O trânsito já está com mais lugares para andar de bicicleta e a demanda é boa. É um diferencial”, aposta o pai, orgulhoso.
Interessados no trabalho da família do Luiz podem ligar para (41) 3354-3416.