Crônica: a feira

O dia estava radiante, o sol já mostrava a sua força nas primeiras horas da manhã de sábado. Estava a caminho da feira. Os sábados pela manhã são ideais para se ir á feira. Eu precisaria apenas comprar uma cabeça de alface.

A duas quadras da feira, quando estava atravessando a rua, fui abordado por um rapaz que aparentava ter uns 19 anos.

– O senhor tem fogo? – indagou-me ele.

– Não – respondi – eu não fumo.

– O senhor pode me arrumar uns trocados?

Eu não sabia o que responder naquela hora, afinal não era comum ser abordado todos os dias.

– Infelizmente não tenho nenhum trocado – respondi.

Abruptamente o rapaz me mostra um pequeno canivete.

– É um assalto.

– Você Está me assaltando porque eu não tenho alguns trocados?

– Passa a grana!

– Se eu tivesse lhe dado algum trocado, ainda assim você iria me assaltar?

– Talvez não. Chega de conversa e me passe a carteira.

Entreguei a carteira a ele.

– Será que você poderia me fazer um favor?

– O que você quer? –respondeu ele secamente.

– Preciso dos meus documentos e de uns trocados para ir a feira, será que você pode me ajudar?

– Claro – respondeu ele, tirando os documentos da minha carteira e me dando cinco reais.

– Obrigado.

O rapaz saiu apressado e sumiu na multidão.

A feira estava lotada e eu tentava passar com meu carrinho de compras pelos estreitos corredores formados por barracas e congestionados por pessoas que circulavam desordenadamente de um lado para outro. Parecia que ali era o local onde se podia quebrar as regras por algumas horas sem se culpar. A minha vontade era organizar a coisa toda e gritar uma palavra de ordem para que eu pudesse andar na minha mão sem que eu atropelasse uma sacola carregada de laranjas e o cachorrinho da velhinha que insistia me olhar com cara de enfezado, como se eu tivesse que dar a vez para ele passar com a sua dona, que parecia estar sendo conduzida pelo quadrúpede.

Há muito custo consegui chegar à barraca das hortaliças. Peguei uma cabeça de alface americana pelo preço de um real: não teria pago setenta centavos na semana passada?

 – Ô vizinho, subiu o preço é? – pergunto.

– Infelizmente – respondeu o feirante, os custos de transporte subiram muito, mas estão bem bonitas – completou ele.

Não tive alternativa a não ser levar a alface pra casa, afinal não iria deixar de consumir o produto por ele ter subido de preço, mas de qualquer forma deixei o meu protesto, mesmo que forma sutil, quase despercebido, ou talvez o feirante tenha me convencido de que a alta do preço está justificada pela qualidade do produto, mas para mim parecia mais um assalto.