Artesão Denis Paraná personifica o Dom Quixote sertanejo

Da árvore morta à escultura em madeira, o trabalho de Denis Paraná: a santaria representada pela manjedoura e o arqueiro conceitual.

De operário da construção civil a artesão, Odenes Buenos de Oliveira, o Denis Paraná, 56 anos, precisou trilhar um longo caminho. Em 1989, após percorrer uma verdadeira via crucis em busca de trabalho em cidades como Curitiba, Antonina e Rio de Janeiro, Denis decidiu retornar a Jaguariaíva, sua cidade natal no interior do Paraná. Das raízes e dos troncos velhos das árvores, surgiu a ideia de esculpir a madeira e transformá-las em santos de sua devoção. Assim também nasceu o artista.

“Ele é um Dom Quixote sertanejo, que além de enfrentar a realidade onde vive sob uma perspectiva quixotesca, também enfrenta a loucura da criação que acompanha todo artista”, diz Nivaldo Pereira, dono de uma agência de turismo em Jaguariaíva e um dos principais incentivadores de Denis ao longo dos últimos anos.

Autodidata, as primeiras esculturas de Denis são predominantemente santarias, com espaço para motivações regionais como a dos tropeiros que marcaram a colonização das cidades do Norte do Paraná. Ao longo do tempo, no entanto, as formas foram ganhando um aspecto surreal, assumindo qualidades antropomórficas e aproximando-se do que uma artista definiu, certa vez, como um conceito antropofágico, muito próximo ao retratado por Tarsila do Amaral em “Abaporu”.

Entre os principais clientes de Denis estão o ex-prefeito Rafael Greca, que encomendou-lhe uma imagem de São Francisco com 1,80m e um São Rafael, doados depois para igrejas de Curitiba, além de estátuas de tropeiros.

Em duas décadas, o artesão, que se tornou um símbolo de Jaguariaíva, produziu cerca de 1.000 peças de madeira – 130 apenas entre 2010 e 2012. Com o fruto do último trabalho, no Centro Histórico Holandês, em Carambeí, para quem produziu um Monjolo e uma Roda D´Água, Denis comprou um carro, que utiliza para transportar suas peças e ainda levar a mulher e os três filhos (de 11, 8 e 5 anos) às compras.

Quando começou a produzir esculturas em madeira, sempre com os seus inseparáveis martelo de borracha e formão, Denis foi sondado se não gostaria de tomar aulas com o renomado artista plástico Elvo Benito Damo. Foi. Mas voltou. “Ele me desencorajou. Disse que eu deveria seguir meu próprio caminho”.

Denis não é de segredos. Só reluta em contar a história do seu nome. Afinal é Odenes ou Denis? “Eu morava no sítio, no Bairro do Espigão Alto, em Jaguariaíva, e creio que só fui registrado quando tinha cinco anos. Fui com meu pai ao cartório, mas fiquei do lado de fora. Na hora do registro, no entanto, o escriturário exigiu que eu estivesse presente. Meu pai então gritou: ‘Ô Denis, venha cá!’. O escriturário entendeu que aquele era o meu nome e escreveu: ‘Odenes’. Mas, olha, todo mundo só me conhece por Denis. Denis Paraná”.

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