Nos últimos anos, tenho assessorado diversos profissionais que buscam recolocação no mercado. Uma delas, Zeni (nome fictício) está em busca de uma vaga há um ano e teve uma atitude que chamou muita atenção nas redes sociais, seu desabafo. Escreveu este texto que transcrevo na íntegra sobre sua realidade, emoções e o atual mercado que tende a excluir profissionais seniores e contratar trainees com as responsabilidades de um profissional sênior.
“Desde abril último estou em busca de uma oportunidade (como tantos outros milhões de brasileiros) de trabalho para mostrar minha vitalidade, minha experiência, minha criatividade e minha competência. Lá se vão então 12 meses de busca intensa. Participei de alguns processos, de entrevistas… (como queiram). Uns bons, outros nem tanto. Recebi algumas devolutivas outras tive de pedir. Sempre na apreensão de não estar sendo inconveniente, insistente…
Durante esses longos meses, eu Zeni profissional de 45 anos, mãe de duas meninas e casada há mais de 20 anos posso afirmar que não tive minha auto estima abalada. Durante esses meses tenho procurado aproveitar meu tempo me aperfeiçoando como ser humano e como profissional. Faço aulas de inglês semanais, pratico esportes diariamente e procuro reduzir o custo operacional da casa.
Aos 45 anos adquiri experiência em empresas multinacionais de grande porte, empresas com produtos distintos e evidentemente mercados distintos. Com mais de 15 anos de vida profissional participei de definição de processos, de consolidação de áreas, elaboração de políticas e procedimentos. Sempre respeitando o ser humano não importando sexo, cor, credo, raça ou idade. Sempre procurando desenvolver aqueles que estavam no meu entorno.
Mas e a crise da meia idade? Esta não passou por mim! Aos 20 anos certamente eu via as pessoas de 45, como se fossem velhas, mas a expectativa de vida só faz aumentar. Eu e minha família temos alimentação saudável , nos mantemos atualizados, estudamos, nos divertimos. Posso afirmar que sou uma mulher do século 21, posso afirmar que sou uma mulher moderna, que não passou por essa tal “crise”.
Mas por que estou escrevendo tudo isso? Esta semana, coincidentemente no mesmo dia, recebi devolutivas de tentativas de candidaturas que me deixaram embasbacada (Significado de embasbacado; Ficar pasmo, sem palavras, boquiaberto, ficar tonto, sem ação, paralisado.).Adjetivo perfeito!
Uma delas dizia que eu estava acima da faixa etária estipulada e a outra que eu não tinha experiência num dado mercado. Imagino um profissional pouco menos seguro de si recebendo um feedback como este, que impactante seria… O que então esses tantos profissionais atualmente desempregados e acima desta faixa etária ( 35 anos) devem fazer? Seus neurônios teriam se reduzido à metade?
A situação de muitos profissionais é extremamente difícil, assim como a situação de muitas empresas. São tempos de insegurança e de recessão. Mas o momento é também de oportunidades. Oportunidades para nós, profissionais aguardando nosso momento e oportunidades para as empresas de se repensarem. Mas é claro que isso não é fácil, dá trabalho. E isso se chama atitude. Não basta ter intenção é preciso ter realização”.
Fica a reflexão, este modelo de contratação de geração Y, Z e Millenium em organizações de cultura e geração X, irá se sustentar? Quão importante é termos profissionais maduros e mentores que podem inspirar uma nova geração?