Camarões, uma cozinha a ser desvendada e admirada

comida de Camarões

Começo a coluna de hoje, a poucas horas de Brasil x Camarões, fazendo um mea culpa. Para quem trabalha com jornalismo de gastronomia, me senti um tanto envergonhada de não ter o conhecimento necessário para discorrer sobre a riqueza gastronômica da comida de Camarões.

E aqui, cabe muito uma fala da Gloire Mvángi, uma entusiasta da disseminação da cultura gastronômica africana em Curitiba – tem matéria lá no Bom Gourmet da intrépida Daniela Neves. Com o seu Merci Afrik, ela busca trazer referências do seu continente e, quando conversamos a primeira vez, foi enfática. “Não se pode falar só em África. São muitos países, muitas diferenças de um país para outro e, até mesmo dentro dos próprios países”.

Então, para falar da comida de Camarões, nosso adversário da vez, tive a alegria de me deparar com o restaurante paulistano Biyou´Z Gastronomia Africana, comandado pela chef Melanito Biyoha, uma camaronesa radicada em São Paulo há mais de dez anos que, além de oferecer a autêntica comida de Camarões, trabalha forte no resgate das raízes dessa gastronomia identitária. “Muita gente que vem ao restaurante, que tem descendência africana, prova pratos do continente pela primeira vez”.

O papo foi rápido. Afinal, faltavam poucas horas para o jogo. Mas, se pudesse, passaria algumas horas aprendendo com a chef. “É difícil resumir a gastronomia de Camarões, porque cada tribo tem sua própria cultura gastronômica”. E, são muitas. Pelas contas de Melanito, falar em 15 tribos seria pouco.

No entanto, de antemão, ela apresentou o carro-chefe quando se fala na comida de Camarões: o Ndolé. E, pasme: a folha de boldo (sim, do chá amargo que tomamos para melhor do estômago e do fígado) é um dos diferenciais do prato. “A gente trata a folha e tira 98% do amargor”, garante Melanito. O molho, cheio de sustança, ainda leva amendoim torrado, cebola, alho, pimentões e camarão moído (pausa poética para o hummmm).

Assim como outros tantos preparos, o Ndolé pode ser servido com o fufu, uma espécie de polenta – sem sal, atenção – que pode ser feita de mandioca, inhame ou arroz. “A gente não tem esse hábito brasileiro de obrigatoriamente ter um acompanhamento, como feijão com arroz. Mas, sempre temos um molho mais espesso servido com algo”.

E aí, em meio à nossa conversa, surgiu o Mbongo Thiobi, que, soube, tem aquele apelo afetivo e que as meninas costumam preparar para os rapazes, no início do romance. O aspecto curioso é que a receita leva casca de árvore queimada. “Também leva a semente defumada, tomate, cebola e bagre”, ensina a chef.

Todos os pratos e preparos, é claro, são super temperados. Destaque para as sopas, que levam aquela boa dose de pimenta e dendê. Sim, o azeite tão popular na Bahia é super usual na gastronomia camaronesa e africana.

Outra curiosidade que tinha e a chef, prontamente, me respondeu, é sobre os ingredientes, digamos assim, exóticos, que são consumidos por lá. A saber: carne de jaceré, tartaruga e macaco. Nada muito diferente para alguém, que, como eu, já traçou uns bons nacos de anta quando vivia em Manaus.

A receitinha, tão habitual por aqui, vai ficar para a próxima terça (6), dada a correira da Melanito em meio à disputa entre Brasil e Camarões, mas, tenho fé, você, meu leitor querido, vai voltar aqui para acessar.

E que venha a Coréia e sua riqueza de sabores!

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