Sempre que me deparo falando sobre vinhos com aqueles colegas que um dia souberam que tínhamos o vinho como algo comum, normalmente de fora da minha confraria ou de atividades mais intensa sobre esse mundo, raramente levita a idéia de se falar sobre vinhos americanos.
Nos anos 90, tínhamos o Blossom Hill, como já mencionei em outra coluna, um californiano leve e agradável de se beber. Naquela época, a qualidade dos vinhos que chegavam ao Brasil ia de razoável a sofrível (me refiro ao público em geral, por óbvio, alguns mais abastados tinham acessos à vinhos fora do país e já experimentavam rótulos mais qualificados), e, depois disso, muita pouco coisa restou de norte-americanos, como os vinhos básicos de Mondavi, por exemplo.
Hoje, por incrível que pareça, tornou-se a nacionalidade de vinhos que o brasileiro menos conhece… digo, verdadeiramente e a fundo, rótulos realmente bons, com toda a complexidade que o terroir e as mãos do enólogo elaboram.
Em constantes viagens, passei a me concentrar nesses vinhos, trazendo-os de fora e conhecendo-os. Somou-se à idéia, os confrades que faziam o mesmo, tornando-se um contágio há cerca de uns 10 anos atrás, momento em que o foco era França e Itália.
Não lembro ao certo quando começamos, mas uma das fagulhas iniciais se deu com o Le Mistral, da Joseph Phelps, um vinho extremamente acessível FORA do país e pouco conhecido por aqui. Depois, veio uma avalanche de rótulos muito bem resolvidos, normalmente com percentual grande de cabernet sauvignon e pinot noir, e não zinfandel. Alguns bons Shiraz também surgiram, como o Turley petit syrah, da Hayne Vineyard.
Depois os de pequena produção, como o Sorella, da Andrew Will Winery.
Chegamos ao dia em que precisávams fazer um embate entre o Insignia, da Joseph Phelps e o Opus One, uma joint venture entre Robert Mondavi e Baron Philippe de Rothschild, os mais famosos vinhos norte-americanos naquela época… não necessariamente, os melhores.
Não vou declarar aqui qual se saiu melhor, primeiro porque é algo pessoal, depois poderia estragar a oportunidade de o leitor tentar esse desafio… contudo, poderia dizer que foi uma experiência extremamente agradável.
Enfim, vários rótulos impressionantes surgiram em viagens e contatos, chegando a vinhos no quilate dos Saxum e o singular Quilceda Creek, um verdadeiro americano místico. Diferente, raro e o cabernet sauvignon com mais safras pontuadas nota 100, por Robert Parker.
O que tem se observado também é a publicidade maciça dos Estados Unidos em querer alavancar os vinhos norte-americanos sobre os demais elaborados ao redor do mundo, criando a idéia de que são os melhores hoje no mercado mundial. Isso vende, mas atinge somente aqueles que realmente se deixam levar pela superficialidade de informações trazidas pela mídia. Nessa esteira, um desses exemplos é o filme Julgamento de Paris (Bottle Shock, 2008) que tenta resgatar a história de uma degustação às cegas ocorrida em 1976, entre franceses e americanos, na França, onde, na categoria de vinhos brancos, o chardonnay californiano da Chateau Montelena 1973 teria vencido, quebrando a teoria de que somente os vinhos franceses atingiriam qualidade suficiente para competições.
Sob minha modesta perspectiva, terroirs como o da França e Espanha, onde enólogos só contam como uma etapa no processo, e não TODO o processo (como comumente acontece nos EUA, por exemplo), são, ainda, insuperáveis, porém, há grandes ícones americanos se destacando e surpreendendo os melhores paladares de grandes sommeliers.
Até semana que vem!
Cheers!