Três terroirs, três sensações diferentes… Qual o seu preferido?

Existem muitos enófilos que mantém predileção por varietais de uva, característica trazida pelo novo mundo, contudo, há que se observar ainda o terroir, ou seja, o local, o terreno, o microclima que produz a viriedade, que, para muitos, é a característica mais importante de um vinho. Assim, ao adentrarmos a esse mundo, passamos a notar que um dos momentos mais interessantes é quando se tem a nítida percepção de diversas nuances demonstrada por um único terroir, durante uma degustação técnica. Isso se dá quando conseguimos experimentar vinhos de regiões diversas, os quais demonstram características próprias sem se afastarem muito do que pretendia sua região, tornando mais fácil e agradável a identificação de seus terroirs ou varietais.

Nessa senda, decidimos testar a teoria para a elaboração dessa coluna, adotando três vinhos com características próprias, com a idéia de tentar identificar as variantes de cada um deles e, ao mesmo tempo, firmar a idéia de que falávamos de suas exatas regiões.

O primeiro vinho foi muito impressionante, pois embora fosse possível a identificação do método utilizado em sua elaboração, o appassimento, além de suas variedades autóctones, Corvina, Molinara, Rondinella e Negrara (opcional), apresentou um extraordinário equilíbrio, perfeito… ou muito próximo à perfeição.

Tratava-se de um Amarone Della Valpolicella Campo Casalin, da iCastei, 2005, um exemplar muito comum desse tipo italiano, mas que durante a degustação se destacou de forma incomum. Sua cor apresentou-se rubi, borda acastanhada e reflexos atijolados, escuro, denso, limpidez mediana e muito brilhante. Exalava, inicialmente, café tostado, amêndoas, figo e toques minerais. Depois de uma hora aberto, passou a espargir alcaçuz muito evidente, framboesa e pimenta. E, ainda, evoluiu para couro, chocolate amargo e fermentação malolática. Na boca, figo, frutas negras passas, tostado, intenso e persistente, com final longo. 

Realmente poucos vinhos que não têm tanto destaque nos impressionaram tanto. Creio, na minha humilde opinião, que achamos o ponto certo em abri-lo, garrafas de sua safra 2005 deste vinho encontram-se no ápice, perfeitamente prontas a serem abertas.

Normalmente o terroir italiano é muito diversificado, porém, é comum demonstrar um ousado toque seco no gustativo e acidez despontando discretamente. Mas os Amarones, pelo seu método utilizado na elaboração, podem confundir o degustador às cegas, pois os taninos são mais doces que os normais, e, como o álcool tem taxa mais elevada (acima de 14, até uns 16,5 graus de teor alcoólico), tende a equilibrar o vinho com um todo, amenizando a acidez nos sentidos do testador.

Seguimos para um chileno místico, o BOROBO, da Casa Lapostolle, 2004. Vinho extremamente difícil de encontrar pela pouca produção, mesmo no Chile, é uma homenagem às regiões de Bordeaux, Rhône e Borgonha, França, no sentido de utilizar as principais uvas daquelas regiões, ou seja, cabernet sauvignon, syrah e pinot noir (sim, pinot noir), transformando o BOROBO em um vinho único, originalíssimo na região do Chile, sem fugir dos aspectos naturais de seus vinhos, ou seja, densidade, profundidade, amadeiramento e equilíbrio elegante que destaca a região.

Sobre o terceiro, elegemos um norte-americano de alma, o Conn Valley, Cabernet Sauvignon Estate Reserve, da Anderson’s Vineyard, 2009. Importante destacar que os ótimos/excepcionais vinhos americanos raramente são feitos com a varietal Zinfandel, mas sim com Cabernet Sauvignon, Shiraz, Pinot Noir ou Meritage (corte). Negro, intenso e corpulento, exalando o famoso fruit bomb tão aclamado pelos americanos (por vezes criticado pelos europeus), remete ao terroir daquele país de forma inequívoca, ao verdadeiro estilo de vinho, aquele que os americanos bebem com prazer, desde os acessíveis, mas não sofríveis, até os melhores. Às cegas, de fácil identificação e muito prazeroso.

Por fim, concluímos que os vinhos, independentemente de possuírem características comuns de suas regiões, alguns deles podem ainda ter caráter próprio: nesse caso, um Amarone especialíssimo e impressionante, um Chileno classudo e original, e um Americano potente e intenso.

Bom final de semana e até a próxima coluna!

Cheers!

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