Imergindo no lado um pouco mais técnico do vinho, estarei tratando hoje de um tipo diferente, ainda pouco conhecido no Brasil. Um dos problema identificados que gerou esse desinteresse por aqui, nasceu da confusão que houve sobre o conceito, um tanto ainda impregnado, que vinhos doces são sempre mal elaborados e/ou de baixa qualidade.
Pois bem, essa barreira começou a aparecer, quando ouvíamos de nossos pais ou conhecidos, que vinhos doces eram tecnicamente incorretos. Boa parte deles sim, é verdade, mas somente chegamos a essa conclusão, quando avaliamos qual método foi utilizado na produção. Um tonel maculado pela chaptalização (adição de açúcar da cana ou beterraba diretamente no tonel, objetivando aumentar o teor de álcool), por exemplo, é considerado uma afronta à enologia moderna. Já a colheita cuidadosamente obervada e realizada tardiamente, não.
Temos diversos tipos de elaboração de vinhos qualificados como doce, de sobremesa, como, por exemplo, o afamado Vinho do Porto portugues, o espanhol Jerez (Pedro Ximénez), o húngaro Tokaji (e seus puttonyos – cada 25 kg de uvas botritizadas, ou seja, apodrecidas nobremente e com taxa de açúcar elevada – exibem qual o grau de doçura do vinho), os Sauternes franceses, como o espetacular Château D’yquem (um dos melhores vinhos de sobremesa do mundo), Late Harvest, Cosecha Tardia etc.
Assim é o icewine (canadense), ou ice wine (note-americano), ou ainda, eiswein (alemão), um vinho de sobremesa, elaborado através de colheita tardia e que requer algo mais inusitado e específico… a neve!
Hoje vários países se arriscam na elaboração desse que é considerado a obra prima dos vinhos, como a Áustria, Croácia, Hungria, Eslováquia e até Hong Kong, contudo, certamente o Canadá é um destaque, seguido da Alemanha (precursor) e Estados Unidos são os mais famosos produtores.
A vinícola Inniskillin, localizada em Ontário, tornou o vinho do gelo uma bebida comercial e, principalmente, especial no Canadá, mas não foi o primeiro produtor do estilo naquela região. Lançou, juntamente, a varietal Vidal, que se tornou ícone ao se tratar de icewines, ganhando prêmios ao longo dos anos e se difundindo rapidamente no mercado internacional. A varietal Riesling segue em seu encalço, não obstante ser mais utilizada na Alemanha.
A dica de hoje é o vinho do gelo, extremamente aromático e complexo no paladar, que segue harmonizando com uma torta, bolo, cheesecakes entre outros, só não se recomenda chocolates (deixe estes para o Banyuls, um vinho Francês elaborado especificamente para isso). O único problema é que, infelizmente, não se encontra este tipo de vinho tão facilmente no Brasil. Ademais, são utilizadas garrafas de 200 a 375ml para venda, pois o baixo rendimento o torna raro e caro, vez que o parreiral necessita estar sob gelo e as uvas serem prensadas ainda congeladas.
As regras no Canadá e Alemanha são rígidas, extremamente controladas, e para se conseguir o selo de qualificação, normalmente afixada no gargalo da garrafa, o VQA – Vintners Quality Alliance, a temperatura no parreiral, no momento da colheita, deverá se manter entre -6° e -14° C… quanto mais frio mais residual de açúcar conterá o vinho.
Até a próxima coluna… Cheers!