Todos sabem que vinhos franceses são excessivamente caros no Brasil, ainda que essa situação já tenha sido pior por aqui. Hoje as importadoras têm conseguido reduzir os preços visando quantidade de vendas, sem descuidar da qualidade

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Ainda assim, continua sendo uma boa pedida trazer vinhos de fora do país, pois, dependendo da classificação e da safra, pasmem, vinhos chegam a atingir dez vezes menos os preços exercidos no Brasil. Por óbvio, para manter boa tranqüilidade no retorno da viagem, sugiro sempre atentar aos limites de quantidade e preços estabelecidos por lei.

Pois bem, um dos desafio porpostos pela confraria dos Cavaleiros do Tastevin foi testar vinhos franceses, em específico os bordaleses, que estão entre os mais caros do mundo, sem exceder o valor estipulado de R$ 180,00 (preço Brasil). Parece muito, porém, acreditem, é um valor relativamente baixo para vinhos qualificados daquela região.

O Bar do Victor foi o local definido pelo anfitrião, que iniciou a reunião com uma fantástica Champagne Drappier 2005 Millésime Exception, enquanto elegia os dois vinhos a serem avaliados às cegas, conforme estatuto. O primeiro foi um fake, ou seja, como o Anfitrião pode decidir não seguir as regras estipuladas por ele mesmo, serviu um Château Pichon-Longueville 1970. Só para esclarecer, sumariamente explicando a posição desse vinho dentro da classificação bordalesa de 1855, é considerado entre os quatorze segundos melhores vinhos de Bordeaux, pois se trata de um 2º Cru Classé (Deuxième Cru Classé). E, diante disso, obviamente, não custa menos que R$180,00.

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Eis a avaliação:
De coloração granada e margens atijoladas, reflexos âmbar, média intensidade e fluidez, com mediana limpidez, presença de depósitos e muito brilhante. Exalou aromas de frutas passadas com madeira integrada, toque mineral e animal, como couro, especiarias, através de pimenta-do-reino e noz-moscada. Muito terroso, de média intensidade e persistente. Na boca apresentou-se seco, equilibrado, porém com a acidez um pouco tênue, corpo e intensidade gustativa medianas e final longo. Um grande vinho, extremamente vivo aos 44 anos de idade…

O segundo vinho testado foi um Clarendelle 2009, elaborado pela Clarence Dillon Wines, através do neto do americano, com descendência francesa, Clarence Dillon, que adquiriu, além dessa propriedade, também o afamado 1º Cru Classé Château Haut-Brion, em 1935.

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Esse sim se manteve na regra do preço estipulado, e apresentou as seguintes características:

De coloração rubi com margens e reflexos grená, intenso e denso, límpido e brilhante. Exalou aromas de frutas maduras, fermentação malolática, toques minerais, químicos e especiarias. De média intensidade e persistência. No palato apresentou-se seco, equilibrado, despontando levemente o tanino, intensidade gustativa e final medianos.

Seguimos, então, para os demais vinhos trazidos pelos confrades:

Château Magnol, Haut-Médoc, um Cru Bourgeois de altíssima classe, que sobrevive no Brasil há tempos, em específico nas Duty Frees, sempre impressiona pela sua expressão equilibrada bordalesa e extremamente agradável no palato.

Château Lynch-Moussas, Pauillac, um 5º Cru Classé, também ficou de fora da regra estipulada pelo preço exercido no Brasil. No entanto, para quem já provou um outro ícone dos 5º Crus, o Château Lynch-Bages, que na minha humilde visão, deveria saltar para os 2º Crus, lembraria-se certamente desse vinho avaliado. São próximos em terroir e tem a mesma expressão, potente, denso, equilibrado, com resquícios de fermentação malolática no paladar, o que o torna diferente e muito agradável.

Depois vieram os Madame Du Château de Pitray 2005, Château Arnauld, outro Cru Bourgeois, Pezat 2007, Bordeaux Supérieur, e um coringa (um vinho diferente do proposto): De Lucca Rio Colorado Reserve 2008, Uruguaio, cuja vinícola já tive minhas restrições no passado, mas que em se tratando desse vinho, estava muito bom.

Por fim, concluímos a noite com um Sauternes Château de Rayne Vigneau 2004, um 1º Cru Classé, vinho de sobremesa que sempre ganha destaque e classe nas noites francesas.

Espero ter conseguido transmitir algumas das impressões que tivemos sobre esta região tão mítica que é Bordeaux, concluindo que há possibilidade de experimentar bons vinhos de regiões consagradas sem ter de penhorar o fígado para isso…

Bom final de semana e até a próxima coluna!

Cheers!