Quando decidimos abrir uma garrafa de vinho, normalmente o fazemos através de um ritual agradável e sistemático. Deve ser um momento prazeroso, pelo menos para quem se dedica um pouco mais sobre o mundo cultural do vinho. Sistemático, pela escolha, porque nem sempre estamos no clima de bebermos algo mais complexo, por aquele varietal mais ácido ou mesmo um vinho excessivamente equilibrado… enfim, decidimos pelo momento, companhia, meditação ou algo que iremos harmonizar.

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Esse momento agradável deveria ser perfeito, entretanto, não rara às vezes, temos surpresas desagradáveis, como é o caso de vinhos com forte sensação de amargor.

Por óbvio, essa percepção é medida pela tolerância de cada um, não só em relação ao amargor, mas também pelas demais arestas que o vinho poderá apresentar. No meu caso, em se tratando de taninos, a tolerância é um pouco maior do que acidez e álcool. Sim, acidez e amargor são menos aceitáveis, enquanto o álcool e o tanino por vezes não me incomodam tanto, depende da ocasião e da qualidade geral do vinho. Já no caso de vinho branco, a acidez se sobressaindo poderá ser uma qualidade.

Voltando ao amargor, nem sempre podemos considerá-lo um defeito em determinados vinhos, como é o caso do afamado Amarone italiano, um vinho estiloso e caro, elaborado na maioria das vezes com três castas especiais: corvina, rondinella e molinara, negrara às vezes. Essa sensação de amargor é, principalmente sentida, durante o retrogosto e considerada normal. Tudo é cabível, desde que não haja exageros. Também poderá acontecer da adstringência de um vinho muito jovem ou mal elaborado se confundir com o amargor, e isso é igualmente comum. Já os vinhos envelhecidos, do mesmo modo, poderão exibir leve amargor diante dos taninos oxidados.

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O que não se admite é amargor em vinhos brancos e tintos muito jovens e frutados, pois normalmente quando um vinho bom revela essa sensação, é porque seu tanino é potente, mas ainda jovem demais para ser testado, e esse é um fator não encontrado em ambos os tipos de vinhos anteriormente citados.

Muitos enólogos afirmam que o álcool tem o poder de encobrir, pelo menos parcialmente, a sensação de amargor perceptível, ou seja, mesmo com um pouco de defeito o profissional conseguiria corrigir o vinho. Nesse caso, nos deparamos com aquele vinho de alto teor alcoólico e leve sensação de amargor… Foi, certamente, tentativa e acerto (ou erro?).

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Podemos concluir, também, o real significado de um bom rótulo Francês, o qual apresenta sempre um vinho de baixo teor alcoólico (entre 12% e 13,5%), sem amargor algum e estrutura para suportar mais de cem anos de amadurecimento. Uma verdadeira obra de arte!

Um defeito usual de má elaboração acontece quando a colheita e/ou deslocamento das uvas são descuidados e as cascas partem durante o processo, iniciando uma fermentação precoce, isso fatalmente provocará o surgimento da sensação de amargor.

Portanto, para se identificar o amargor como um defeito, dependeremos do nível de tolerância de cada um. Quem degusta cerveja escura, por exemplo, poderá ter uma sensibilidade menor dessa sensação. No meu caso, quando é latente, incomoda, assim como um vinho tinto ácido, um Chianti desequilibrado pelo excesso de acidez.

Mas há quem goste!!!

Até próxima coluna!

Cheers!