Amanda já é bonita. Ela é modelo fotográfico e vence a timidez com um belo sorriso. Pelo menos era assim que ela se apresentava até conhecer Geraldo Vasconcelos, um dos destaques do VII World Hair. Geraldo veio de São Paulo mostrar a tendência de penteados para a nova estação. Exibiu suas criações para dezenas de cabeleireiros que lotaram o salão do Paraná Clube e não se intimidaram em subir no palco para fotografar a trança que desafiava a lógica e mais parecia um bordado loiro. Mas a especialidade desse cabeleireiro – o visagismo – ele guardou para Amanda e mostrou com exclusividade para a Pop.

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Depois de uma boa conversa Geraldo descobriu que a bela gostaria de chamar mais atenção e que isso a ajudaria a conseguir mais trabalhos. Também ouviu a preocupação dela em não ficar com cabelo curto ou extravagante. Aos poucos, a modelo mostrou que apesar de reservada, é decidida e mais madura do que parecia. ?Essa conversa é fundamental. Aqui eu descobri os desejos da Amanda, e é assim com toda cliente que atendo, porque no papo descubro detalhes do seu dia-a-dia, da sua personalidade e a partir daí posso criar uma imagem que combine tudo isso com o formato do rosto e o tom da pele?, explicou Geraldo.

Antes
Depois

E foi o que ele fez. Em duas horas, Amanda exibia-se diferente. O sorriso era o mesmo, mas o cabelo mais curto e mais loiro realçou o rosto. A franja – só para dar equilíbrio e disfarçar um pouco a testa – é pra ser usada de lado, ?só um charminho?. O cabelo – cortado em camadas nas pontas – resultou num visual leve e romântico na versão natural, com os cachos, e mais sexy com a escova lisa. ?É perfeito para o meu tipo de trabalho. Adorei!?, comemorou a modelo que precisou da aprovação da mãe para se submeter à mudança.

Explica-se: Amanda tem quinze anos. ?Ela ficou linda, ganhou mais luz, parece mais glamurosa. Com os cachos parece uma menina, do outro jeito ficou um mulherão. Nossa, que diferença faz um corte de cabelo e uma corzinha no rosto?, surpreendeu-se a mãe, Célia Mikosz. Geraldo, satisfeito com a reação, provocou: ?Feia não existe. O que existe é beleza que ainda não foi realçada?.

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Entenda o processo

Visagismo vem do francês ?visage?, rosto, e é estudo dos meios para trabalhar uma imagem valorizando as próprias características da pessoa – e não o modelo que ela gostaria de ser.

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O visagista procura a beleza individual, harmonizando linhas faciais e luz.

O conceito surgiu em 1937, fez a cabeça de muitos artistas e foi aperfeiçoado por eles.

Aqui no Brasil, o principal representante do visagismo é o artista plástico Philip Hallawell, autor do livro Visagismo: harmonia e estética (lançado em 2003 pela Editora Senac-SP). Ele prega a despadronização da beleza. Segundo Hallawell ?a imagem afeta as pessoas emocionalmente e toda a imagem, inclusive o rosto, contém símbolos arquetípicos na sua estrutura?. O artista e escritor vai mais além, dizendo que o rosto é a identidade da pessoa e toda mudança – maquiagem ou corte de cabelo – altera esse senso.

Pensando assim a preocupação com o cabelo deixa de ser fútil para assumir o mesmo papel que tem a propaganda para produtos e empresas. E se o cabelo expressa uma mensagem, o cabeleireiro – como o publicitário – ganha importância na medida em que é responsável pela tradução do conceito que ser quer passar em identidade visual.

Código de honra

Talvez o horário das seis nunca tenha tido protagonistas tão atípicos. Em Eterna magia, eles mentem, armam e traem – e, exatamente por isso, é fácil entender quando o galã Thiago Lacerda, que vive o Conrado, afirma que o verdadeiro mocinho da trama é o honrado Lucas, vivido por Cauã Reymond. O ator carioca, que em Belíssima exercitou a amoralidade no papel do garoto de programa Mateus, tem agora a responsabilidade de viver o oposto na pele de um minerador secretamente apaixonado por Nina, de Maria Flor. ?Ele sabe que ela ama outro, mas sofre calado. É o que eu mais admiro nele. O Lucas tem uma hombridade que não é comum hoje em dia?, destaca.

Diante de tanta nobreza, a principal preocupação de Cauã é não transformar a bondade do personagem em ingenuidade excessiva. ?Quero fazê-lo sem cair na chatice. Ou seja, um cara bom, mas capaz de enxergar a maldade que existe na vida?, esclarece. E Lucas vai enxergar muitas. Na primeira fase da trama, o mocinho será o confidente do primo Conrado e vai perceber a aproximação nada sutil de Eva, vivida por Malu Mader. ?Ele vai ser o primeiro a ?bater de frente? com a Eva. Inclusive vai mandá-la, educadamente, voltar para a Irlanda?, diverte-se.

Para criar a personalidade do mocinho, Cauã se desdobrou em cursos de equitação, prosódia e gaita – além de aulas de dança irlandesa, que duravam de duas a quatro horas. Tudo isso sem se abater pelo cansaço.

?É um barato! Em um trabalho de época existe essa oportunidade de aprender muito. Isso me deixa mais forte como ator?, afirma. O toque final na composição, ele buscou em família. Cauã conta que se inspirou nas histórias do avô, de 83 anos, para se aproximar do real comportamento de um rapaz da década de 30. ?Foi um estudo complexo, porque existe diferença entre a postura dentro de casa e a da rua, com os amigos?, explica.

Mas não são só flores no cotidiano do ator. Apaixonado por surfe, ele ficou preocupado depois da primeira aula de montaria. ?No dia seguinte estava tão doído que não consegui subir na prancha! Achei que não ia mais poder surfar, mas peguei o ritmo?, conta, aliviado. O estilo de vida saudável do ator também o levou a uma situação engraçada. Ele tem 26 anos, três a menos que Thiago Lacerda, e teve de lançar mão de um bigode para aparentar mais idade do que o colega. ?Sem ele pareço menino. Tenho de começar a me cuidar menos, para ficar mais velho?, diverte-se.

Louise Araujo – PopTevê

Beth Goulart rouba a cena

Beth Goulart é uma mulher eloqüente. A atriz de 46 anos, que interpreta a alpinista social Neli de Paraíso tropical, fala com simpatia e desenvoltura sobre o atual papel, um dos destaques da novela. ?Coitada, ela sofre!?, diverte-se. Mas para uma carreira iniciada há 32 anos, há muito mais a ser dito: a influência dos pais – os atores Nicete Bruno e Paulo Goulart -, os pontos negativos da profissão, a importância do teatro e a possibilidade de crescimento como ser humano que cada personagem lhe traz. ?É quase um trabalho de análise. Você tem de entender o personagem, suas ações e reações. E buscar em si próprio seus pontos de ligação com ele?, ensina.

Entender a psicologia de Neli, aliás, não foi tarefa das mais fáceis. Isso porque, para Beth, apesar de ter atos duvidosos para conseguir o que quer, ela não chega a ser uma vilã. A personagem é uma dondoca que não consegue conviver com a realidade. Controla e reclama de tudo, do marido às filhas. Sobre as pobres garotas, Camila e Joana, de Patrícia Werneck e Fernanda Machado respectivamente, ela deposita suas esperanças de uma vida melhor.

?Ela não faz por mal. É uma mulher inconseqüente que carrega um vazio existencial enorme?, defende.

Para participar de sua terceira novela de Gilberto Braga – as outras foram Louco amor e a minissérie O primo Basílio, Beth suspendeu a temporada carioca da peça Quartett, de Victor Garcia Peralta, baseada na obra do alemão Heiner Müller. A atriz prefere dedicar-se a uma coisa de cada vez, mas já pensa na volta aos palcos assim que a trama terminar. ?Um bom ator deve ter observação e dedicação, por isso dei uma pausa no teatro. Mas é ele o meu berço, e também meu templo?, diz.

Fabíola Tavernard – PopTevê