Aílton Graça já atuou em grandes tragédias no teatro e no cinema. Mas a veia de palhaço de circo sempre pulsou mais forte. A comédia entrou na vida do ator reforçando o sobrenome. Aílton faz graça até sem querer. Espirituoso, alegre, observador, ele aprendeu a fazer rir ainda criança, quando queria ser agrônomo só porque a palavra lhe soava bonita. Até se firmar na profissão que o tornou conhecido, Aílton foi camelô e fiscal de transporte. Na pele do trambiqueiro Ramires, de Cobras & lagartos, não deixa de se lembrar dessa época. E como o personagem, também tem seus truques. ?Tenho 41 anos, mas para trabalhos 35?, brinca ele.

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Em sua segunda novela na Globo, Aílton não parece preocupado com o inevitável rótulo de comediante. Pelo contrário. Está cada vez mais à vontade em cena. ?O engraçado de tudo isso é que meu núcleo nunca trabalhou junto e conseguiu uma coesão bacana. Tem muito improviso e todos sabem levantar a bola para o outro?, enaltece. Aílton vê, inclusive, que o texto de João Emanuel Carneiro foi mudando à medida que os atores acharam seu tom. ?A família poderia ter sido rejeitada, porque afinal, é um bando de gente querendo se dar bem. Mas agora servem de suporte para o Foguinho, que é o grande anti-herói da história?, pondera.

Ramires é um tremendo adepto da chamada ?Lei de Gerson?, mas Aílton acha que o público não se importa com a questão e torce para o personagem. ?Na verdade, eles gostam da família. Eles podem ser tortos, mas passam o sentimento de união. Se mexer com um, aí terá briga com todos?, justifica.

?Tenho vontade de interpretar um líder comunitário.?

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Fazer um personagem com um pé na clandestinidade acaba sendo instigante como crítica a um determinado momento do País?

Acho que a novela toca nesse ponto. O que as pessoas estão fazendo para se dar bem? A grande maioria quer dar seu jeitinho, pensa em planos mirabolantes. E num País em que as CPIs são comemoradas em rodadas de pizza, onde as operações policiais têm nomes de bichos peçonhentos, falar sobre isso não deixa de ser um alerta, uma crítica. Outro dia, fiz uma enquete na rua sobre a devolução da carta que o Foguinho escondeu. A maioria não entregaria. Quando um rapaz disse que devolveria e defendeu a questão, muita gente mudou de opinião.

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E como é a abordagem do público? No início da novela, o Ramires maltratava muito aquele filho…

Hoje em dia, as pessoas querem que o Ramires volte para o Saara e com ajuda do Foguinho, de tudo o que ele viu na Luxus, construam o próprio império. É engraçado isso, né? Porque faz parte do imaginário das pessoas que eles podem e devem se dar bem de maneira honesta, trabalhando. E isso me deixa feliz, porque é sinal de que o povo não compactua com a malandragem. No início, o público amava odiar essa família, mas agora torce por ela. As pessoas dão alerta sobre os bandidos e não querem que a gente sofra.

A gente recebe muitos recados na rua.

Você está fazendo na tevê, o segundo papel com o pé no cômico. Faria outro se te chamassem?

Se o personagem estiver atrelado a uma história bacana, se ele for importante na trama, eu faço.

É lógico que o ator quer ter a oportunidade de fazer trabalhos com profundidade. Lá no fundo, tenho vontade de interpretar um líder comunitário, explorar outros valores e conflitos. Mas isso acontece com o tempo. As pessoas vão conhecendo e avaliando nosso trabalho e isso não tem pressa.

O cinema te deu a chance de fazer outros tipos de personagens?

Estou lançando quatro filmes. O cinema e o teatro permitem mais atrevimentos, ousadia. Estou em Tapete vermelho; de Luís Alberto Pereira, Trair e coçar, do Moacyr Góes; Muito gelo e dois dedos d?água, do Daniel Filho; e Segurança nacional, de Roberto Carminati. Também montei uma produtora e quero produzir um curta. Ainda estou namorando outros roteiros.

Acima do tom

Há três anos como a Bel de Malhação, Laila Zaid se lembra perfeitamente da cena mais difícil que interpretou. Durante uma gravação, no fim do ano passado, a ruiva teria de ?discutir? com Natasha e João, respectivamente personagens de Marjorie Estiano e Java Mayan. No entanto, a fala um tanto infantil e, aparentemente, facílima – ?Vou chamar meu namorado para brigar com vocês? – foi o suficiente para a atriz travar. ?Não conseguia fazer a cena nos ensaios. Ria sem parar porque achei a situação ridícula?, conta. Depois de várias tentativas frustradas e um puxão de orelha da direção, enfim a solução foi encontrada. ?Eu gravei a cena chorando, o que, na verdade, era um riso disfarçado?, revela a atriz, uma das mais antigas do elenco.

Desde que entrou na novelinha, Bel muda de perfil de acordo com a vontade do novo autor. ?A cada temporada ela é de uma maneira, mas sempre preservando esse jeito frenético de ser?, analisa Laila. No momento, Bel vive um ?dilema? com Download, seu namorado, papel de Wagner Santisteban. ?Ele quer fazer programas culturais, ela acha isso um saco?, diverte-se a atriz.

Após tantos anos na pele da mesma personagem, Laila confessa que já ?roubou? alguns trejeitos e gírias de Bel, como a expressão ?ei lê lê?. Mas apesar de terem características em comum, a atriz faz questão de frisar que a personagem é ?over? demais para uma pessoa real. ?Ela é uma figura dentro de uma trama infanto-juvenil. As situações são exageradas?, observa Laila.

E embora considere Bel como seu ?cartão de visitas?, a atriz diz estar preparada para vôos mais altos. Quem sabe até, uma novela.

?O elenco muda assim como a história. Mas tenho necessidade de diversificar. Por enquanto, busco isso no teatro?, conforma-se ela, que está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça Romances e karaoquê, de Francis Monty. ?Ela é completamente diferente da Bel?, comemora.

Raio X

Nome: Laila Zaid;
Nascimento: 28 de maio de 1984, no Rio de Janeiro;
Nas horas livres: assisto a filmes;
No cinema: Hotel Ruanda, de Terry George;
Música: gosto da Dave Mathew?s Band;
Livro: adoro biografias;
Mulher bonita: Alinne Moraes;
Homem bonito: Thiago Lacerda;
Cantor: Chico Buarque;
Cantora: Marisa Monte;
Ator: Raul Cortez;
Atriz: Fernanda Montenegro;
Escritor: Ruy Castro;
Arma de sedução: para cada ocasião, vale uma arma diferente;
Programa de índio: malhar;
Melhor viagem: acampamento em Ilha Grande, no Rio de Janeiro, no início do ano;
Sinônimo de elegância: ser correto;
Inveja: de momentos que ainda não vivi;
Ira: trânsito;
Gula: não fico nem meia hora sem comer. Amo milk-shake;
Cobiça: trabalhar a vida inteira e ter saúde para viver;
Preguiça: luto contra a preguiça, mas não sou acomodada;
Vaidade: a mínima possível para cuidar do meu corpo;
Mania: de tomar leite;
Filosofia de vida: ?Faça o melhor do que está ao seu redor?.

Suavidade no ar

Quando apareceu pela primeira vez na tevê fazendo a Taís em O dono do mundo, Letícia Sabatella surpreendeu. Pelo talento, pela beleza irretocável, mas sobretudo pelo frescor que carregava no expressivo olhar. Quinze anos depois, a atriz conserva intacta a suavidade que marcou muitos trabalhos. A fala baixa e pausada contribui para a aura de serenidade que a cerca. Letícia parece flutuar. A tranqüilidade emanada, confere a Letícia uma porção de certezas. Construiu uma carreira sólida sem superexposição – às vezes inevitável -, e chegou aos 35 anos querendo mais.

?Aos 20, existia muita ansiedade, sofrimento. Já consigo caminhar adiante com segurança. Não sinto o peso da responsabilidade. Isso vem com a maturidade. Acredito estar numa fase de grandes trabalhos?, argumenta.

Talvez por isso Letícia esteja mais constante na tevê. Há cinco anos sem fazer uma novela inteira – a última foi O clone -, a atriz ainda gravava a minissérie Hoje é dia de Maria quando teve uma conversa com Manoel Carlos. ?Ele me disse que escreveria um papel para mim. Aceitei na hora. Faltava um texto dele na minha vida?, conta. Letícia só foi conhecer a irmã Lavínia quase um ano depois do encontro com o autor.

A curiosidade de Letícia, embora menor, ainda existe. Afinal, é aos poucos que Lavínia vai entrando na trama e sendo delineada ao longo dos capítulos. O que Letícia sabe realmente sobre Lavínia é que é totalmente abnegada. E foi justamente este espírito livre de julgamentos  que a fez se identificar de imediato. ?Ela vive um eterno conflito entre respeitar as regras de uma instituição e realmente escutar um chamado maior. Acho tão bonita essa transcendência que o ser humano alcança fazendo o bem aos outros?, filosofa. Letícia conversou com alguns religiosos, amigos, encontrou-se com o Dalai Lama na recente visita que o líder espiritual fez ao Brasil e quis colocar em xeque certas questões. ?Perguntei a uma freira se ela não sentia raiva ao lidar com injustiças. E a resposta foi justamente o que eu procurava para a Lavínia. Temos de nos controlar, procurar o equilíbrio?, pondera.

De certa forma, Letícia tem muito de Lavínia. Engajada, a atriz faz parte de movimentos populares e é envolvida com questões sociais. ?Como cidadã, devo discutir e cobrar. Já que tenho uma imagem pública, posso usá-la de forma positiva?, argumenta a atriz, que já foi repreendida por colegas por manter tal postura. ?Já me disseram que um ator deve ser apolítico, pois senão esquece de ser ator. E quantos não são políticos e também não conseguem ser atores? A descoberta do ser humano é a nossa busca. E isso também é política?, teoriza ao jeito ?Letícia de ser?. Doce e suave.

Vocação familiar

Miguel Thiré nasceu em uma família de artistas. Filho do ator Cécil Thiré e neto da também atriz Tônia Carrero, desde criança o garoto já freqüentava estúdios e camarins. No entanto, Miguel garante que nunca teve vontade de seguir a carreira artística. O interesse pela arte dramática surgiu apenas aos 11 anos de idade, quando começou a fazer um curso no Teatro Tablado, no Rio de Janeiro. E embora esteja ligado ao meio artístico, Miguel sempre foi alertado pela família sobre a instabilidade da profissão. ?Sei que meu sobrenome facilitou as coisas para mim. Conhecia uma série de pessoas e tinha professores em casa. Mas minha família nunca me impôs nada?, reconhece ele, que se prepara para viver seu primeiro protagonista em Paixões proibidas, próxima novela da Band, com estréia prevista para outubro.

Na trama, Miguel terá a chance de provar que faz jus ao sobrenome famoso. Depois de papéis pequenos em novelas globais, como Malhação, Porto dos milagres e Começar de novo, é como o revolucionário Simão que o ator pretende cativar o público. Para ele, este papel principal chegou em boa hora. ?É a quantidade de texto mais a qualidade de trabalho e muita dedicação e concentração que fazem a diferença. Acho que estou preparado?, argumenta.

Simão é um jovem que, após estudar na cidade de Coimbra, em Portugal, volta ao Brasil para morar com os pais em Resende, no sul do Estado do Rio de Janeiro. Dirigida por Ignácio Coqueiro e co-produzida pela rede portuguesa RTP, a novela vai ser transmitida simultaneamente para Brasil e Portugal. Por isso, além de locações iniciais em Coimbra e Lisboa, a produção terá muitos atores portugueses.

De perder a cabeça

O gosto pela cozinha vem desde que ela se entende por gente. Nascida em Málaga, na Espanha, a atriz Pepita Rodriguez, no ar como a Vivian, em Cristal, já observava a mãe cozinhar desde os três anos. ?Na Espanha, a cultura é essa. Todos vão para a cozinha. Meus seis irmãos cozinham muito bem, meus filhos também.

É uma tradição?, conta. E, de acordo com a tradição espanhola, a primeira coisa que a pequena Pepita aprendeu a fazer foi ?tortillas?. ?Esse mundo da gastronomia é um caminho sem volta. A gente sempre vai querendo descobrir mais e aprender mais?, entusiasma-se.

Pepita realmente se empolga ao falar de cozinha. Seus olhos chegam a brilhar quando descreve suas invenções gastronômicas na hora de receber amigos. ?Adoro inventar. E em 80% das vezes, sou feliz. E quando erro, chego a passar a noite sem dormir tentando descobrir o que fiz de errado?, confessa. Pepita não se considera uma chef de cuisine, mas uma amante da gastronomia. Especialmente da cozinha mediterrânea. Importadora há mais de 12 anos, Pepita abastece de vinhos e bacalhau espanhol vários restaurantes tradicionais do Rio de Janeiro. ?É o famoso bacalhau da Pepita!?, orgulha-se.

E é exatamente essa sua especialidade na cozinha.

A receita do ?bacalhau da Pepita?, segundo a autora, é rápida e fácil. Ela aconselha a nunca se retirar a pele do bacalhau. ?É lá que está o colágeno, importante para a pele e para a saúde?, explica. Os amigos e o marido, Javier, são suas cobaias e sempre estão presentes quando a atriz resolve preparar os pratos. E, quando os recebe em sua ?tasca? – como define o espaço na cobertura de seu apartamento no Alto Leblon, Zona Sul do Rio, reservado as suas invenções gastronômicas -, a atriz se preocupa com todos os detalhes. É ela que vai pessoalmente comprar todos os ingredientes em mercados e feiras espalhadas pela cidade. ?Acordo cedo no dia anterior. Compro flores para enfeitar. Faço tudo para agradar meus amigos. O ingrediente principal é o amor?, suspira.

Bacalhau da Pepita

Ingredientes:

2 postas de bacalhau, aproximadamente 500 gramas

200 gramas de presunto cru defumado

4 cebolas grandes

1 cabeça de alho cortada

6 ovos

1 litro de leite

Azeite de oliva extra-virgem

Pimenta espanhola, salsa e cebolinha picadinhas

Batata palha

Modo de fazer:

Em uma frigideira grande, coloque azeite e o alho, sem deixar o alho dourar. Em outra frigideira, doure bem a cebola. Numa panela, ferva o leite, coloque o bacalhau e fique regando-o com uma concha. Na frigideira onde estão o azeite e o alho, junte a cebola e a pimenta, salsa e cebolinha picadas. Na panela com o leite, solte as lascas do bacalhau, sem retirar a pele. Depois de separar as lascas, coloque o bacalhau na frigideira grande, onde já estão a cebola, o alho e os temperos. Use fogo baixo para misturar bem. À parte, bata os seis ovos, com clara e gema. Continue mexendo o bacalhau na frigideira. Por último, junte o presunto cru, os ovos batidos e a batata palha. Está pronto para servir.