Ele esbanja caras e bocas durante a sessão de fotos. Olha de lado, levemente desconfiado, depois ensaia um sorriso cínico. Pede que a foto seja repetida, para que seja explorado outro ângulo de seu rosto. ?Quem está posando é o Ramalho?, explica. Por aí, já é possível ter as primeiras impressões do personagem interpretado pelo ator em Bicho do mato – o vilão que tem a missão de infernizar a vida dos mocinhos ao longo da trama. ?Ele é terrível, mas as pessoas que se relacionam com ele o acham extremamente bondoso e admirável?, diverte-se.
Sem dúvida, o poderoso empresário exportador de pedras preciosas simula um caráter acima de qualquer suspeita. Apesar de não se contentar com o que já tem e de cometer os piores crimes da novela, Ramalho mantém a pose de profissional competente, bom marido e pai zeloso. ?O público vai ter ainda mais raiva ao ver que todo mundo se deixa enganar por ele?, arrisca. Mas embarcando na inevitável defesa do personagem, típica dos intérpretes de vilões, Jonas já fez um pedido à direção da novela. ?Pedi que seja mostrado um lado mais humano dele?, conta.
Conseguindo ou não fazer com que seu vilão não seja ?tão mau assim?, Jonas Bloch comemora o fato de ter vivido tipos bem distintos em seus de 67 anos de vida e cerca de 40 de carreira. Recentemente, ele esteve no ar no Vale a pena ver de novo, da Globo, como o também vilão Ismael de A viagem. Um pouco antes, como o correto Antônio Domingues de Os ricos também choram. E já circulou, entre teatro, cinema e tevê, desde papéis carregados a comédias de costumes. ?Nunca fiquei marcado por um papel só, e não posso reclamar porque conquistei tudo que meu talento merece?, acrescenta, bem-humorado.
Fabíola Tavernard – PopTevê
Qual foi o ponto de partida para encontrar o tom certo de um tipo tão hipócrita quanto o Ramalho?
Depois de um certo tempo de carreira, bate uma maturidade que te traz informações de vida. E ele é um tipo bem comum nos noticiários. Este foi o ponto de partida, porque toda novela parte de um esboço do personagem. Depois eu tento estabelecer as linhas mais fortes para que o público o veja com clareza.
Entre teatro, cinema e tevê, você está sempre emendando trabalhos. Não sente necessidade de descansar entre uma coisa e outra?
Ah, claro! O meu próximo projeto, por exemplo, é tirar férias. Mas eu amo tanto o que faço que não sinto como trabalho, e sim como prazer. Só do ano passado para cá, por exemplo, fiz dois filmes, Cabra-cega, e Minha vida não cabe num Opala, ainda a ser lançado. Fui para Portugal pela quarta vez com a peça O senhor das flores, de Caco Ciocler. Também dou cursos de formação de profissionais e tenho uma pousada em Minas Gerais, na cidade de Lavras Novas. Além disso tudo, como sou formado em Belas Artes, fiz desenhos para botar em camisetas e a idéia deu tão certo que já está quase virando uma grife. Para não correr riscos, já até mandei fazer uma foto minha bem grande para a minha mulher não esquecer a minha cara…
Apesar de sempre estar na ativa, a instabilidade da profissão ainda o atinge de alguma forma?
Pois é. O fato de você nunca ser dono da sua vida às vezes é complicado. Não tenho direito a planos como fazer um curso ou marcar uma viagem, por exemplo. Estou sempre sujeito a receber um bom convite e não poder recusar. O mais engraçado é que todo mundo morre de medo de perder o emprego, mas nós, atores, ficamos desempregados a cada seis meses. Não tem jeito, isso faz parte da nossa vida. Outra coisa que me incomoda é a exposição a que estamos sujeitos. As pessoas acham que fazendo uma crítica estão sendo superiores, mas existem críticos burros também.
Ousados
Valéria Palombo
Quem está mais velho, e viveu, nos anos 70s, o que foi a ousadia de vestir calças boca-de-sino com camisa transparente, pode partir dessa lembrança ao olhar para a moda masculina que vem aí no próximo verão.
Tecidos estampados e xadrezes em conjuntos com corte de alfaiataria predominam nas novidades das tendências apresentadas esta semana no São Paulo Fashion Week Verão 2007. Combinando com calças ou bermudas justas ou largas, os blazers se mantêm mais secos, próximos ao corpo.
Junto com as cores quentes, como laranja e vermelho, destacam-se o verde, o preto e o marinho, com o contraponto das cores claras, como rosa, azul e cinza quase apagados.
Reprisando o que foi mostrado pelos estilistas cariocas no Fashion Rio da nova estação, as marcas paulistas propõem aos homens um verão livre e solto, também com cortes amplos e cabelos compridos até os ombros.
As tendências permitem associar alguma coisa do guarda-roupa clássico com o que, sob um primeiro olhar, parece ousado demais.
Mas vale também ficar apenas com um desses mundos.
No casamento entre as duas linhas de atitude, dá para aproveitar o bermudão colorido de outros verões com paletó ou jaqueta lisos. Ou ainda, adotar o macacão ou combinar calças jeans com túnica à moda africana.
O mesmo estilo étnico que a Tribuna Pop mostrou semana passada para o verão feminino está entre as muitas opções para os homens que querem ir além do básico e experimentar algo novo.
Para eles, o jeito africano de vestir inclui as calças bufantes, camisolões e macacões do estilista Alexandre Herchcovitch, e também as sandálias de couro que acompanham ternos e faixas no lugar dos cintos, propostas pela marca Ricardo Almeida.
Estampado e divertido
Com o modelo mais conhecido do País, Paulo Zulu, na foto de abertura da página, a Cavalera apresentou no São Paulo Fashion Week uma proposta de moda verão que ela própria define como estampada, divertida e cheia de cores.
Entre as peças habituais da marca adotada por gente de espírito jovem, as bermudas da nova estação param na altura do joelho e oferecem a opção de amarrar na barra e ganhar o visual balonê, tendências em alta para as mulheres.
Blazers, jaquetas, bermudas e calças, folgadas ou de corte seco, têm estampas gráficas e xadrezes. O jeans aparece inclusive em macacões. Ao lado dos tons mais sóbrios, os berrantes e fluorescentes que são históricos na Cavalera.
Camuflado e clássico
Nas fotos ao lado, algumas tendências fortes nas propostas de Fause Haten para o verão masculino. É o caso da alfaiataria que combina bermuda e blazer em tecidos xadrez e listrado, e se repete em versão renovada de camiseta e blazer camuflado com jeans.
O estilista apresentou também looks totalmente camuflados e pretos, além do que a mídia chama de visual nerd, que inclui óculos pretos e camisas-pólo, fechadas até o último botão e por dentro das calças ou bermudas.
Informal chique
Ricardo Almeida, entre os preferidos dos astros da tevê, como Édson Celulari, já contou até com o recém-falecido ator Raul Cortez em seus desfiles. Para o verão 2007, ele apresenta nas fotos à esquerda, peças da coleção que pretende libertar os homens do formalismo.
Camisas abertas colocam o peito de fora e abrem caminho para os colares de inspiração hippie. Faixas ocupam o lugar de cintos, os pés se refrescam com sandálias de tiras de couro, e a cartela de cores oferece tons pastéis, clarinhos.
O estilista propõe calças retas, justas e encurtadas. Os paletós seguem essa linha: têm dois botões e são mais curtos no comprimento e nas mangas. Camisas de algodão, tecidos de efeito amassado e gravatas cintilantes mais largas e coletes confirmam a alta cotação da alfaiataria.
Liberdade africana
Para o verão 2007, Alexandre Herchcovitch escolheu o azul claríssimo em contraste ao preto e ao colorido da coleção, que inclui tecidos com paisagens africanas e mantém o xadrez.
Ao lado, exemplos das túnicas com inspiração no continente negro, que passam dos joelhos ou vão até os pés, e ainda não são o máximo da ousadia do estilista, que historicamente choca os conservadores.
Como na coleção de inverno, ele mostrou tênis dourados e versões de calças soltas com saiotes sobrepostos. A exemplo de outros estilistas, Alexandre tira do baú os coletes, e segura os paletós de corte seco, mais ajustados ao corpo, que o inverno já ofereceu ao público masculino.