Luís Melo jamais imaginou que pudesse cair nas graças do público infantil. Afinal, os últimos trabalhos foram feitos à sombra da maldade, numa carreira recheada de tipos envolvidos pela perversidade. Mas ao interpretar o controverso Orã em Cobras & lagartos, um pai de família que tem, por assim dizer, a preferência por usar vestidos e maquiagem, o ator conseguiu uma espécie de redenção na tevê. ?Ele é um descanso nessa vilania e tem um lado humano interessante. Ele traz um problema e causa estranheza inicialmente. Mas é fascinante porque é lúdico. Algo que se aproxima muito do teatro?, descreve.
Ao topar a empreitada na novela das sete, Luís chegou a ficar receoso. Não sabia como as pessoas iriam reagir a um personagem que se traveste, mas não é homossexual. ?Tive curiosidade em saber como isso seria inserido numa trama que privilegia a comédia o tempo inteiro.
E acho que ficou bem-resolvido. Ele gosta mesmo de mulher?, avalia ele, que acha divertido o fato de Conchita – a personalidade feminina de Orã -ser também muito sedutora. ?Os homens se sentem atraídos por ela?, diverte-se.
Luís define Orã como uma eterna criança e acredita que foi justamente isso que o aproximou do público mirim. ?Ele não deixa de ser um super-herói que tira a roupa convencional e veste uma fantasia. Como o tom do personagem é leve, sem grandes encucações, o público infantil quer saber das aventuras desse homem, que apenas se transforma. É como se eles compactuassem um segredo?, argumenta.
Carolina Marques – PopTevê
?O Orã me permitiu mergulhar novamente na comédia?
Você já enfrentou alguma abordagem inusitada do público por causa do Orã?
Eu vivo na ponte aérea Rio-Curitiba. E saguão de aeroporto já é um lugar que passa uma enorme quantidade de gente diferente o tempo inteiro. Eu sempre carrego uma malinha de mão e noto que as pessoas ficam me olhando. Uma vez um garoto me perguntou se eu guardava a maquiagem, as coisas da Conchita ali. Achei tão curioso isso. É como se aquela malinha contivesse o segredo de Orã. (risos) Depois de viver tantos vilões, como o Licurgo de JK, como é fazer o Orã?
Ele representa um frescor. Há muito, eu queria fazer comédia, voltar a trabalhar com o Wolf Maya, que tem uma direção ágil, muito próxima do teatro. O Orã foi a chance de mergulhar nesse universo novamente. E dentro da trama, eu acabo fazendo dois papéis cada vez que ele se transforma. O Orã tem esse fetiche de se vestir de mulher, mas também acaba se utilizando dessa dupla personalidade para resolver alguns problemas que ele próprio não consegue.
Ela está a serviço dele.
Você mantém o Ateliê de Criação Teatral, em Curitiba, que forma novos atores. E muitos objetivam a televisão, a fama. Como você lida com essa expectativa?
É difícil porque estou na contramão. Eu dou a eles a oportunidade de se investigarem como atores e muitos jovens querem apenas uma oportunidade para sair da sua terra e ganhar um espaço no eixo Rio-São Paulo. Eu tenho essa compreensão, mas ao mesmo tempo estimulo a descoberta de cada trajetória e mostro que eles podem investir numa formação sólida. Aí sim, escolher o caminho para se manter mais tempo nessa profissão.
Bons ventos
Quando desembarcou no Rio de Janeiro, no início deste ano, Bruno Udovic planejava passar apenas um mês na cidade. Após estudar dramaturgia no Teatro Escola Célia Helena e na Escola de Atores de Wolf Maya – ambos em São Paulo -, o paulista de Santo André chegou ao Rio disposto a se matricular em aulas de Cinema. E foi durante um curso de Oficina de Direção de Atores, com Walter Lima Jr., que soube de um teste para a novela Sinhá-Moça, da Globo. Poucos dias antes de voltar para casa, recebeu a notícia de sua escalação no remake de Benedito Ruy Barbosa. Sem hesitar, pediu ao pai que mandasse o resto da bagagem. ?Não tinha a mínima intenção de ficar no Rio. Mas não podia recusar o convite, afinal é meu primeiro trabalho na televisão?, comemora ele, intérprete do Vila.
Surpresa ainda maior foi o fato do jovem integrante da Associação dos Abolicionistas de Araruna cair no gosto popular. O carisma de Vila certamente veio no embalo do tipo físico do ator – magro, alto, de olhos azuis e cabelos pretos. Com esse biotipo de galã, em pouco tempo, Bruno tornou-se o campeão de cartas da novela. No ranking, ele desbanca até o ?ídolo teen?, o ?xará? Bruno Gagliasso, colega de elenco. Mas o estreante tenta manter a modéstia. ?As pessoas sabem que é o Vila, mas não sabem o meu nome?, minimiza ele, que jura ler tudo o que recebe. ?São muitas cartas de criança e pré-adolescente. Outros me perguntam dúvidas sobre a profissão?, revela.
Dúvidas, aliás, são comuns na vida de Bruno neste início de carreira. Sempre que pode, tenta trocar informações com os também novatos Joaquim de Castro e Bruno Costa que, como ele, estão em sua primeira novela e interpretam abolicionistas na trama. Além disso, Bruno tenta se inspirar no veterano Caio Blat. ?Ele tem muito tempo de televisão. Me dá dicas que levarei para o resto da carreira?, derrama-se.
Caso engrene outro trabalho na tevê, o moço vai deixar de vez a cidade de Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo, onde cresceu. Foi no local que ele começou a carreira de modelo, aos 14 anos. E é lá que, por enquanto, fica sua residência ?oficial?. ?A minha trajetória é um estímulo para os jovens de lá?, orgulha-se o ator.
Natalia Castro – PopTevê
Raio-X
Nome: Bruno Udovic Redivo.
Nascimento: 12 de março de 1982, em Santo André, São Paulo.
Nas horas livres: pratico esportes, vou ao cinema e leio.
No cinema: Dançando no escuro, de Lars Von Trier.
Música: MPB e rock.
Livro: Grandes artistas – Vida e obra, de David Spencer.
Mulher bonita: Scarlett Johansson.
Homem bonito: meu avô.
Cantor: Cazuza.
Cantora: Marisa Monte.
Ator: Osmar Prado.
Atriz: Patrícia Pillar.
Animal de estimação: Punk, um pincher.
Escritor: Roberto Shinyashiki.
Arma de sedução: o olhar.
Melhor viagem: para Monte Verde, em Minas Gerais, em 2004.
Sinônimo de elegância: ter essência.
Gula: massas.
Inveja: desumana.
Ira: injustiça e desigualdade.
Cobiça: estar sempre próximo da família.
Preguiça: dormir muito.
Vaidade: tenho hábitos saudáveis.
Mania: de esquecer as coisas.
Filosofia de vida: ser feliz.
Reflexos do passado
A curiosidade e a inquietude típicas de seus 15 anos levaram a adolescente Vivianne Pasmanter a resolver ?dar um zoom? no universo da fotografia. Matriculou-se em um curso onde aprendeu a manusear câmeras, filmes, montar equipamentos e até a pintar os chamados ?fundos infinitos?. Aos 18, trabalhou como assistente do fotógrafo argentino Martin Gurfein. Tudo por puro prazer.
O que ela não imaginava é que, 20 anos depois, o conhecimento que adquiriu na época se tornaria tão útil. Agora ela interpreta a Isabel em Páginas da vida, personagem inspirada na renomada fotógrafa carioca Isabel Becker, especialista em making of de cerimônias de casamentos. E foi com a própria Isabel que a atriz fez um workshop para a trama. ?Depois de tanto tempo, voltei a um laboratório de revelação, e a Isabel me fez relembrar as coisas. Sempre me interessei muito pelo assunto?, conta a paulistana de 35 anos.
Desde que terminou a Escola de Artes Dramáticas, na USP, e veio para o Rio fazer sua primeira novela – Felicidade, em 1991 -, Vivianne nunca mais havia fotografado com um olhar mais ?profissional?. Olhar este que, aliás, já fez com que ela enxergasse em objetos corriqueiros excelentes fontes de inspiração. ?Eu via uma caixa de fósforos, por exemplo, e já ?viajava? em alguma foto?, confessa, aos risos. Mas ela conta que jamais deixou o hobby de lado. Um de seus passatempos favoritos é montar álbuns de fotografias, principalmente desde o nascimento de seus dois filhos, Eduardo e Lara. ?Esqueço o tempo recortando e montando álbuns?, explica.
Se em relação à profissão de Isabel ela já tinha um certo conhecimento de causa, o mesmo não se aplica à personalidade da fotógrafa, que em nada se parece com a dos tipos que a atriz interpretou anteriormente. Vivianne tem a carreira marcada por personagens fortes, como a Malu de Mulheres de areia, a ingênua Lavínia de Anjo de mim e a nada feminina Maria João de Uga uga. Na opinião da atriz, sua trajetória profissional é mais pontuada por mocinhas boazinhas, mas as loucas ficam marcadas pelo público. ?O Maneco é meu amigo. Por isso ele me dá as personagens más?, brinca, em sua terceira novela escrita por ele. Realmente, se for comparada à inconseqüente Débora de Felicidade e à neurótica Laura de Por amor, Isabel é a mais ?normal? de todas. ?Ela fala o que pensa, não é moralista, preconceituosa nem problemática. O Maneco me dá todos os elementos no texto?, avalia.
Fabíola Tavernard – PopTevê
Conflitos urbanos
Mas, como personagem bom é personagem com conflito, para ?apimentar? a vida da fotógrafa não poderia faltar um amor proibido. Isabel é loucamente apaixonada por Renato, fotojornalista vivido por Caco Ciocler. Este, apesar de casado com Lívia, de Ana Furtado, não perde uma só chance de ?provocar? a moça. Adorando a ?troca? com o ator, com quem achava que nunca tinha contracenado, Vivianne teve uma surpresa ao perceber que foi ?traída pela memória?. Ela e Caco estudaram teatro juntos aos oito anos de idade, na escola de Jacqueline Brio, no Clube Hebraica, em São Paulo. ?Descobrimos isso há pouco tempo. Eu olhei para ele, ele para mim, e dissemos: ?É você?!??, recorda, aos risos.
Longe da tevê desde Uga uga – nesse tempo fez apenas uma participação de dois capítulos em Kubanacan, em 2003 -, durante esses seis anos Vivianne se dedicou integralmente à família. Mas não esconde que estava com saudades da profissão de atriz. A saudade é ainda mais indisfarçável no caso dela, que desde os três anos de idade não hesitava ao ser questionada sobre o que seria quando crescesse. ?Sempre respondia que seria atriz. Mas meus pais, apesar de não serem contra, achavam que fosse coisa de criança?, lembra. Foi essa nova oportunidade de ?brincar de ser outra pessoa?, como a própria Vivianne define a profissão de atriz, que a moveu a aceitar mais um convite de Manoel Carlos. (FT)
Olho gordo
Ao saber que viveria Clara, uma ?gordinha espevitada? em O profeta, próxima trama das seis da Globo, Fernanda Souza não titubeou. ?Tenho de engordar? Começo agora!?, exclamou, feliz da vida.
A decisão incluiu uma mudança radical de atitude: em vez de fingir que não via os quitutes que desfilavam diante de seus olhos, a atriz passou a procurá-los.
Apesar de ter ?chorado? um pouco quando encarou as mudanças em seu corpo, Fernanda – que foi de 47 para 53 quilos – jura que a decisão de ganhar peso não foi tão difícil.
O que a atriz não gostou mesmo foi do novo cabelo. Ela pintou as madeixas e, para manter a franja no tamanho ideal, tem de cortá-las toda semana. ?Corpo dá para disfarçar. Mas tenho de fazer chapinha e pintar o cabelo, que parece de playmobil?, diz, com bom humor, lembrando que se diverte cada vez que põe os enchimentos que, de fato, tornam sua personagem gordinha. ?Até peço para colocarem mais culote!?, garante.
Preparar-se para viver a Clara se tornou ainda mais instigante quando a atriz constatou, pelo tamanho da sinopse – uma página inteira -, que se tratava de uma personagem permeada de conflitos. Isso porque a moça é apaixonada por Marcos, o paranormal vivido por Thiago Fragoso. Mas sem ser correspondida – pelo menos em princípio -, ela sofre bastante. Por ser o ?patinho feio? da família, é alvo constante de ?alfinetadas?. Disposta a emagrecer, ela tenta, sem sucesso, várias dietas mal-elaboradas. Mas apesar das decepções, a mocinha não leva desaforo para casa, e é uma ?respondona? nata. Justamente o ?tempero? que a coloca, mais uma vez, no núcleo cômico de uma trama. ?Fiquei tão apaixonada pela Clara que engordar foi o de menos.
A comida é sua válvula de escape. Mas por ela ser temperamental, tenho de achar o tom exato?, diz.
Se Clara tiver a metade do carisma de sua última personagem, a Mirna de Alma gêmea, Fernanda Souza já ficará satisfeita. Afinal, a caipira roubava a cena cada vez que aparecia às voltas com sua pata de estimação, Doralice. ?As pessoas me olhavam na rua e não associavam minha imagem à da Mirna. Espero que seja assim com a Clara?, pondera a atriz de 22 anos, 14 deles de carreira, que pela terceira vez faz uma novela de Walcyr Carrasco. ?O papel que ele me der, eu faço?, derrete-se.
O que a falante e simpática atriz pretende mesmo é conquistar o público com a gordinha da ?pá virada?. ?Ela é meio mal-humorada, mas é tão legal! Quero que ela mostre que ninguém tem de ser magra para conquistar alguém?, conclui.
Fabíola Tavernard – PopTevê
Lance de sorte
Após uma temporada de três anos nos Estados Unidos jogando basquete, aos 18 anos, Jorge de Sá encontrou por acaso com o diretor Wolf Maya, velho amigo da mãe de Jorge, a cantora Sandra de Sá. Foi Wolf que o incentivou a fazer a disputada Oficina de Atores da Globo. Poucas semanas depois, ele já estava em Malhação. ?As coisas foram rolando sem que eu parasse muito para pensar?, confessa o intérprete do Salvador de Páginas da vida.
Na pele de Salvador, Jorge já sente a responsabilidade de estar no horário nobre.
?A sensação que eu tenho é que as pessoas acham que a gente muda ao chegar à novela das oito. No meu caso, o que modificou mesmo foi a dedicação ao trabalho?, garante. Jorge se empolga quando se ouve o ator falar sobre seu personagem. Ainda que em princípio saiba muito pouco de sua história. ?Estou conhecendo o Salvador no dia-a-dia. Mas o defino com um cara amoroso, um bom moço sempre disposto a ajudar?, simplifica. No caso, ajudar a mãe adotiva Helena, de Regina Duarte, em seus problemas sentimentais e ainda na criação de Clara, interpretada por Joana Mocarzel. Pela frente, Jorge já foi avisado que Salvador terá um romance conturbado. ?Ainda não sei com quem, mas imagino que seja com alguém ali na escola de artes?, arrisca. Por enquanto, a composição do ator é para que Salvador evidencie mesmo a relação que tem com a mãe. ?Ele está junto o tempo inteiro dela. Acho que é o filho que toda mãe gostaria de ter?, avalia. Muito da relação que está no ar, o próprio ator levou de casa. Com Sandra de Sá, Jorge mantém um relacionamento muito forte e franco. ?Minha mãe é uma pessoa iluminada mesmo. Está sempre de bom-humor e agora está num orgulho de ver o filho na novela das oito?, diverte-se.
Além da novela, Jorge apresenta o Mandou bem, faixa interativa de variedades do canal pago Multishow, no qual também faz externas e entrevistas. ?É uma experiência totalmente diferente, mas também outra opção de carreira?, pondera o ator que, aos 22 anos, parece ter todo o tempo para abraçar o mundo. No pouco tempo que resta, entre uma atividade e outra, Jorge toca bateria. Tem formação no instrumento e atualmente o utiliza para descarregar as energias.
Carolina Marques – PopTevê