Os comediantes, cujos vídeos são sucesso na internet, foram lançados na TV em março por dois novos programas: Custe o que custar (CQC), da Band, comandado por Marcelo Tas (À esquerda), e 15 Minutos (MTV), de Marcelo Adnet (abaixo). São nomes ligados à comédia stand-up, em que humoristas, de pé no palco, emendam uma piada à outra (como Jerry Seinfeld), ou ao teatro de improviso, no qual atores são desafiados a fazer graça a partir de idéias do público. Na TV, eles estão buscando um humor mais elaborado e indireto, a fim de não cair no escracho do Pânico.
No estúdio, quartel-general do CQC, Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque assumem a bancada, conduzem o programa e chamam as entradas gravadas por Rafael Cortez, Danilo Gentili, Felipe Andreoli e Oscar Filho. Dessa turma um já caiu no gosto popular: Danilo Gentili, no papel de um repórter abestalhado. O personagem faz parte do formato original do programa, criado na Argentina. Gentili, ator formado em publicidade, vai de microfone em punho e munido de uma cara de pau acima da média perguntar o que ninguém tem coragem. O resultado é um improviso que diverte sem agredir o público – já ele, apanha às vezes. Na Bolívia, semana passada, no Festival de Tinku levou socos e pontapés.
A cena vai ao ar nessa segunda. As brigas fazem parte do festival, mas a surra fugiu ao esperado.
O que o carioca Marcelo Adnet faz também não é programado. Ele chegou na MTV para popularizar ainda mais a programação da emissora comandando o 15 Minutos, onde faz comentários engraçados sobre qualquer assunto direto do seu quarto, com o amigo mascarado Quiabo. Consagrado pelo público no teatro e no YouTube, na tv ele lê e-mails, canta músicas, imita celebridades e provoca risadas com um humor sutil e cheio de ironias. É um bom imitador e suas paródias também divertem: quem perdeu José Wilker cantando créu e Sílvio Santos cantando Sweet child o mine pode recorrer à internet. As versões estão lá e são hilárias.
Hermes e Renato – Os criadores do Hermes e Renato, da MTV, forçaram a emissora a descobri-los, em 1999. Fausto Fanti, o Renato, aproveitou o Voz MTV, um concurso que convidava os telespectadores a mandar um recado para dar um ?alô? numa fita em que registrava as brincadeiras que fazia no quintal de casa com os amigos Marco Antônio Alves (o Hermes), Felipe Fagundes, Adriano Silva e Bruno Sutter. ?Mandei um vídeo que na verdade era uma armadilha?, brinca.
O grupo de Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, caiu no gosto dos telespectadores ao parodiar as pornochanchadas, programas de auditório, novelas e figuras da vida real ?sem noção?, representadas por Joselito (Silva). O sucesso atual são as dublagens toscas do Tela class – a primeira temporada chega às lojas em formato de DVD no segundo semestre.
Os seguranças – A dupla Leandro Hassum e Marcius Melhem é cria do teatro.
O primeiro era o engraçadinho da escola, e sua mania de fazer graça lhe criou problemas no passado. Foi mandado pela mãe para um curso de atuação para gastar energia, e ficou.
O segundo, engraçadinho por natureza, é jornalista, roteirista – assina o seriado Casos e acasos, da Globo – e diretor teatral. Os dois se conheceram em 2000 e formaram a dupla no ano seguinte. Surgiu Pedrão e Jorginho, Os seguranças, do Zorra total, da Globo. ?Temos várias referências, mas a maior é Abbott e Costello?, revela Melhem. O duo, porém, não se considera comediante. ?Sou um ator que no momento faz comédia bem, mas quero outras coisas, como fazer novela?, entrega Hassum.
Jajá e Juju – A Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo nasceu em Brasília, há 13 anos. É formada por Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Victor Leal e Welder Rodrigues. Roda o País com diversos textos, como Misticismo e Notícias populares.
A estréia na TV ?foi um desastre?, diz Rodrigues, o Jaja do quadro Jaja e Juju, do Zorra total, da Globo. O sexteto, escalado para o Domingão do Faustão, não gostou de se ver em rede nacional. ?Saímos de lá com a certeza de que o teatro era o nosso lugar. Não rendeu, não tínhamos intimidade com a câmera?, completa Adriana, a Juju.
Essa percepção mudou em 2005, com o convite para o Zorra. Os artistas transformaram o casal gay Emílio e Montenegro, sucesso nos palcos, no heterossexual Jaja e Juju. E o barulho começou. ?Jaja e Juju fazem sucesso pela simplicidade, são meio palhaços, crianças e adolescentes gostam. ?O Zorra é a segunda audiência infantil da Globo?, argumenta Adriana. Hoje, a dupla tem espaço fixo nos sábados à noite com o casal e o guru Bhaguiva Shalla. ?Para uns ele é santo, para outros é um picareta. É o Oswaldo Montenegro da religião, ou amam ou odeiam?, diverte-se o ator.
Do Rádio
A história do Pânico na TV, da Rede TV!, e dos apresentadores do Rock gol, da MTV, tem o rádio como ponto de partida. A galera do Pânico já ganhava a vida com o humor escrachado, por vezes ácido, que detonava – de notícias do dia a ouvintes – na rádio Jovem Pan FM, quando foi para a Rede TV!, em 2003.
A migração para a telinha carregou o estilo do dial e somou recursos conhecidos no veículo, como as entrevistas de rua das quais o Casseta & planeta usou e abusou. Ainda transformou celebridades em vítimas de piadas – às vezes geniais, outras infames – e ?bombou?.
A trupe é formada por Emílio Surita, Marcos Chiesa (o Bola), Marvio Lúcio (Carioca), Wellington Muniz (Ceará), Rodrigo Scarpa (Vesgo), Sabrina Sato, Daniel Zukerman e Evandro Santo (Christian Pior) e Danielle Souza, a mulher samambaia (ao lado). Personagens como Silvio e Vesgo (acima) caíram no gosto popular e transformaram os intérpretes em celebridades, quase como aquelas que perseguem. Outros tipos também escancararam o dom para fazer rir, como Mendigo (Carlos Alberto Silva) e Mano Quietinho (Vinícius Vieira), que foram ?roubados? pelo Show do Tom, da Record.
Lembra do humorístico Sobrinhos do Ataíde, febre na 89 FM nos anos 90? Foi o boom da dupla Paulo Bonfá e Marco Bianchi (ao lado) – então como trio ao lado de Felipe Xavier. Os radialistas, amigos de infância, despertaram o interesse da MTV por conta de personagens como o Pequeno Wilber e Peterson Foca. Em 1997, foram convocados para narrar o campeonato de futebol Rock Gol. Em 2003, ganharam uma mesa-redonda com o mesmo título. Entre gols, dribles e afins, apelam a tiradas espirituosas e piadinhas de duplo sentido. O segredo do sucesso? ?Acho que a gente tem o espírito irreverente dos Trapalhões?, diz Bonfá.