Caroline Castella é uma produtora de moda que aposta em curtas metragens para mostrar tendências de roupas. Prestes a lançar o curta ‘The first of the gang to die’’ (O primeiro da gangue a morrer, em tradução livre) ela se destaca pela inspiração. A moda é a dos roqueiros, mas uma turma em especial, a dos que morreram com 27 anos. Por ironia do destino, o filme foi rodado no Centro de São Paulo, uma semana depois da morte de Amy Winehouse, aos 27 anos.

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No “clube dos 27” estão Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones (dos Rolling Stones), Jim Morrison (dos Doors), Kurt Cobain (do Nirvana), Ron Pigpen McKernan (do Grateful Dead), Pete Ham (do Badfinger), David Alexander (dos Stooges), Pete De Freitas (do Echo & The Bunnymen), Mia Zapata (do The Gits), Gary Thain (do Uriah Heep) Kristen Pfaff, Robert Johnson.

Todos retratados no curta, em preto e branco, com trilha de rock. Em São Paulo, Caroline prepara o lançamento do filme e se antecipa às críticas sobre sua inspiração, defendendo que moda é arte e combina com morte, sim. Ela nos respondeu por email e posou para a primeira foto do filme que ilustra a matéria. “O first of the gang to die, para mim, foi além de um projeto de moda, foi meu projeto de vida até agora. Ele superou todas as minhas expectativas e me fez acreditar que o esquecido pode ser relembrado de várias maneiras. Ele possui vários pontos de vista que no final se casam e dão um novo olhar para a moda, a arte e a música”.

Você teme ser chamada de fúnebre ou ser criticada por explorar a tragédia destes artistas?

Não temo ser chamada de fúnebre, pois a arte se alimenta de todos os sentimentos do ser humano, então nada mais natural do que fazer arte com a temática da morte.

De onde veio a ideia de um curta de moda pós morte?

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Desde muito pequena sempre gostei muito de rock and roll, e ouvia a maior parte desses artistas. No ano passado um amigo meu, coincidentemente, faleceu aos 27 anos, o que gerou em mim uma grande curiosidade de pesquisar e ir a fundo sobre o clube dos 27.

Que relação você vê entre moda e morte?

Seres humanos morrem, a moda não. Ela sempre se renova a partir do que já foi inventado e ganha uma cara nova de acordo com a sua época e traz consigo novas representações culturais.

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Quantos anos você tem? Já passou pelos 27?

Estou com 24 anos e pretendo (rs) passar dos 27 anos sim. No momento estou cursando o ultimo ano de moda na Faculdade Santa Marcelina, e paralelamente a isso trabalho como produtora de moda de filmes publicitários. Também sou personal shopper de alguns artistas da música, inclusive fui produtora de moda do grupo de música eletrônica Spyzer (www.spyzer.com), que teve o inicio de sua carreira em Londrina, no Paraná.”

Morto fashion

A inusitada “moda dos caixões” é a especialidade da estilista australiana Pia Interlandi, que desenha roupas para serem usadas por defuntos no seu enterro. Em seus desenhos estão intrincadas memórias da perda de parentes e de desconhecidos, assim como conhecimentos adquiridos através de experimentos científicos.

“Minha roupa é para pessoas que estejam pensando no final da vida e naquilo que valorizam”, diz a estilista.

Técnica

Ela explica que para desenhar a sua roupa leva em conta não apenas os que morrem, mas também os que ficam vivos. “Eles (os vivos) necessitam sentir que a pessoa que morreu está protegida, que é amada, que está coberta, que não está nua”, reflete.

Pia diz que, ao escolher uma roupa pensando no momento da morte, seus clientes estão aceitando a inevitabilidade biológica. Da mesma forma, suas roupas também aceitam o mesmo princípio. “Minhas peças estão desenhadas para se desfazer e promover a decomposição, em vez da preservação. De certa maneira, apresentam o corpo à terra”, diz.

“O corpo está cheio de nutrientes, de água, de proteína. As fibras estão desenhadas para não obrigar os microorganismos a a,brir caminho comendo poliéster”, completa.

Experiência com maconha

Pia estudou numa instituição de arte biológica, SymbioticA, na qual artistas e cientistas trabalham lado a lado. Ela testou vestir porcos sacrificados com materiais de diversos tipos para verificar os diferentes ritmos de decomposição e acabou optando por trabalhar com cânhamo, uma fibra da marijuana -”que os insetos e microorganismos reconhecem como orgânico e comem rapidamente” -, e seda -”uma proteína que vem de um animal, e que é muito bela, suntuosa e adiciona qualidade aos desenhos”.

“Também ofereço a possibilidade de usar bordados de poliéster para as pessoas que quiserem algo que continue com o esqueleto, como o nome ou um poema.”

Visita

Rafael Almeida esteve em Curitiba, anteontem, falando do seu personagem na trama. Aos 22 anos ele interpreta Miguel, um jovem tenista de origem humilde, mas muito talentoso. Ele trabalha como assistente na escola de Vitória (Gisele Fróes), sua treinadora.