No último domingo, muitas meninas se agitaram após a chamada do Fantástico anunciando o Menina Fantástica, uma seleção que o programa está realizando para revelar a nova top model brasileira. Talvez uma nova Gisele Bündchen. Ou então seguir os passos da curitibana Isabelli Fontana – que por sinal é quem faz a convocação das jovens -, um dos nomes mais lembrados nas passarelas internacionais.
Fama, sucesso internacional e muito, muito dinheiro… é isso o que move muitas meninas a se aventurar na carreira de modelo. Mas a Tribuna Pop foi atrás de algumas paranaenses que estão batalhando para garantir seu lugar ao sol e descobriu que nem tudo são flores neste caminho bem iluminado pelos holofotes das grandes revista de moda que ditam o que vai ser usado – ou não – nas ruas das grandes cidades.
Antes de mais nada, é bom saber que para “flutuar” nas passarelas de Nova York, Milão e Paris não basta apenas ser alta, magérrima, bela e apresentar um ar de superioridade. É preciso ter um diferencial. Quem tem tudo isso e consegue ainda marcar presença na passarela, registrar sua marca, pode se considerar uma “modelo fashion” – que é aquela que viaja pelo mundo apresentando as coleções dos grandes estilistas. O booker e diretor da DM Models, Agy Campos, explica que existe também a “modelo comercial”, aquela que não preenche todos os requisitos acima, mas se destaca na produção fotográfica, como catálogos de moda, comerciais para televisão, entre outros.
Exigente e com muitos anos de experiência no currículo, Agy conta que é muito difícil encontrar uma modelo fashion. “Por isso que é comum vermos sempre as mesmas caras. Porque são poucas as que têm todas as características juntas”, avalia. E quando encontra, ele ainda submete a menina a uma bateria de testes para ver se ela tem estrutura psicológica para encarar a rotina da profissão sem perder o foco. “É uma carreira muito difícil, muito competitiva”, ressalta. Tanto que quando ele encontra uma dessas “raridades”, ainda faz questão de sentar com a menina e toda a sua família para “sentir” se ela tem estrutura para encarar a vida fora do país, pulando de aeroporto em aeroporto, sem endereço certo. “Famílias desestruturadas refletem na carreira da modelo. A Gisele (Bündchen) só é quem é porque o pai dela é um superpai”, pondera.
Danielle Blaskievicz
Juliana Imai
Juliana Imai, 23 anos, é o retrato do Brasil miscigenado na passarela. Natural de Cruzeiro D’Oeste, no oeste do Paraná, ela é uma mistura de japoneses e portugueses. Com os traços orientais, a modelo lidera a fila de descendentes nikkeis que se destacam no mercado fashion. Juliana tem oito anos de passarela, mas só despontou de fato no inverno de 2005, quando vestiu a coleção da italiana Gucci. Depois, vieram trabalhos para Dolce & Gabbana, Dior, um editorial na Vogue Paris. Hoje, ela é presença garantida nos grandes desfiles internacionais.
Isabeli Fontana
Enquanto isso não acontece, divide-se entre Nova York e São Paulo. Isabeli desfilou para grifes como Versace, Ralph Lauren e Valentino e posou para a Marie Claire, Elle e Vogue. Um desfile dela chega a custar US$ 15 mil e um dia de fotos, até US$ 50 mil.
Michelle Alves
Caminho das pedras
Fotos: arquivo pessoal |
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Mariane Pinheiro. |
Para as meninas – e meninos também – que sonham em seguir esta carreira, o booker Agy Campos conta o “caminho das pedras” e alerta para cuidar com os espertalhões que só querem lucrar com o sonho alheio. “Tem gente que lota ônibus para levar as meninas para São Paulo para conhecer as agências de lá. Só que, para isso, eles cobram muito bem das jovens e não dão nenhuma garantia de trabalho”, comenta.
O primeiro passo, segundo ele, é entrar em contato com o Sindicato de Manequins e Modelos e pedir as referências das agências sérias. O booker explica que as boas agências, além de não exigir dinheiro para incluir as futuras modelos em seu casting, são aquelas que oferecem oportunidades concretas de trabalho. Claro que apresentar um book, com fotos produzidas por um fotógrafo profissional, sempre ajuda. Mas aí vai depender do bolso de cada menina. Outra exigência, para desfilar, é estar sindicalizada. Para Mariane Pinheiro, 16 anos, que está em sua primeira viagem internacional, tudo aconteceu muito rápido. Tanto, que em entrevista por MSN à Tribuna Pop, ela admite que nem sabe direito como tudo se desenrolou. “Em dez dias eu já estava na China”, relata a jovem, que é de Paranavaí, no noroeste do Paraná, mas estava em Curitiba há oito meses para fazer cursinho pré-vestibular. Há dois meses ela “fixou residência” em Guangzhou, cidade próxima a Hong Kong.
Trabalho ela diz que não falta e o dinheiro que está ganhando está servindo para custear suas despesas por lá e também para pagar os gastos com a viagem. São testes diários, na expectativa de ser selecionada para um trabalho. “Às vezes não dá nem tempo de dormir”, conta. Mariane divide um apartamento com outra modelo brasileira, mas fala que o normal é morarem quatro, cinco pessoas na mesma casa. E para encarar o mandarim e conseguir sobreviver sem uma língua ocidental – além de português, ela fala inglês -, ela conta com a assessoria da agência local.
Danielle Blaskievicz
Genética de sucesso
Yara Rossatto Wigineski. |
Yara Rossatto Wigineski, 18 anos, que também está na China, mas em Hong Kong, diz que apesar de já estar há quase quatro anos nessa vida de idas e voltas pelo mundo, ainda não aprendeu a driblar a saudades da família, do namorado e dos amigos brasileiros, mas aprendeu a ver as compensações que a profissão oferece. “Enfrento tudo com calma e determinação. A saudade é inevitável. Procuro pensar na oportunidade que estou tendo e que em breve vou rever todos”, afirma, com uma maturidade impressionante para uma jovem da sua idade. Sua irmã, Laís Rossatto Wigineski, 17 anos, também é modelo e atualmente está em Milão, na Itália, em sua primeira viagem internacional.
Natural de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, Yara já desfilou para importantes nomes da alta-costura internacional, como Valentino, Hugo Boss, Calvin Klein, e rodou o mundo mostrando sua cara. Milão (Itália), Tóquio (Japão), Munique (Alemanha), Londres (Inglaterra), são apenas alguns dos carimbos que ela tem em seu passaporte. “As oportunidades que estou tendo, independentemente do dinheiro, são compensadoras. Se eu não fizesse o que faço, dificilmente conheceria tantos lugares em tão pouco tempo”, avalia a jovem, que, ironicamente, não tem tempo para freqüentar as aulas curso de Turismo na UFPR por causa das viagens.
Por outro lado, ela lembra que a profissão não é só viagem internacional e sorrisos para os flashes. Muitas vezes ,é necessário encarar os “nãos” ao final dos castings. “É difícil se sentir um produto. Você se prepara, faz o seu melhor, anda bonito esperando que os clientes te escolham. Mas, às vezes, eles olham para você com desinteresse e te dizem ‘obrigada’, “thank you’. E tchau”, relata. (DB)