Da morte ninguém escapa. Mas quem fica também não está imune a dor da separação, da saudade, da falta que aquele que morreu deixou. É quase um ritual de passagem essa despedida, que varia de um dia a um ano, dependendo da cultura. Tema que não costuma ser conversado em família, a morte deixa de ser tabu quando vai para o cinema, para a TV e para o teatro. Aí se descobre que o cerimonial continua gerando vida, economia, empregos, ilusão, ficção para os que ainda estão vivos.

continua após a publicidade

A partida, de Yojiro Takita, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, filme conta a história de um violoncelista que perde o emprego numa orquestra de Tóquio e decide voltar para o interior. Lá, arruma um emprego que atrai o preconceito de muita gente: Daigo é encarregado de preparar os mortos para seus funerais.

Não é um processo químico que se pega com a prática, como no seriado A sete palmos. O trabalho de Daigo tem muito mais a ver com ritual: maquiar e vestir os corpos, diante da própria família em luto, de um jeito que os faça corados e aprumados, como em vida. O filme é realista. No passado, eram os familiares que se encarregavam desse trabalho. Hoje, segundo a imprensa japonesa, esse costume pode custar 20 mil dólares por cadáver.

Trabalhar os mortos também é especialidade de índio, como ficou bem demonstrada nos documentários sobre o Quarup, o festival que acontece em várias tribos da região do Alto Xingu, entre julho e setembro, todos os anos. É a época em que todos os mortos são chorados e homenageados. Participam centenas de índios. Há danças e lutas corporais. Só a preparação leva mais de quinze dias.

continua após a publicidade

No Brasil dos brancos os enterros são rápidos. As despedidas não duram mais do que dois dias, um pra liberar o corpo e fazer o velório, e já no dia seguinte (no máximo) segue-se com o enterro. Nesse contexto, o luto que vai para a tela ou vira comédia rasgada – como em A guerra dos Rochas, de Jorge Fernando – ou documentário-drama – como em Jean Charles, dirigido por Henrique Goldmann baseado no caso do brasileiro Jean Charles de Menezes (Selton Mello), assassinado no metrô de Londres por agentes do serviço secreto britânico, ao ser confundido com um terrorista.

Na Europa a tradição é outra. Na suíça, por exemplo, a família mantém o corpo na casa, mais precisamente na sala, durante três dias. (Hoje, há velórios profissionais, mas ainda não é a regra). O clima ajuda tão longa exposição. As pessoas vão e vêm. Beliscam um salgadinho, tomam um vinho. Alguns ficam mais tempo. Todo mundo sabe como são essas reuniões, mas ninguém se cansa de ver. Quatro casamentos e um funeral, de Mike Newell, faturou US$ 260 milhões, concorreu ao Oscar de melhor filme em 1994 e abriu caminho para o crescimento da produtora Working Title, que se especializou em produzir longas-metragens de atmosfera semelhante. A comédia se passou na Inglaterra, mas há versões em outros países onde não há pressa para enterrar os mortos : Esse velório é uma parada mostra a reunião de uma família irlandesa; Morte no funeral, prêmio do público no Festival de Locarno de 2007, se passa nos Estados Unidos, onde velório pode se transformar em superprodução.

continua após a publicidade

O velório de Michael Jackson, transmitido ao vivo para todo o planeta, ainda não virou filme. O documentário sobre os últimos ensaios dele já está em cartaz. Parece até que ele era de Moscou. Lá, os crentes da igreja ortodoxa se vestem com muitas cores e entoam cânticos alegres nos templos. As babuchkas, aparecem exuberantes nos seus trajes típicos. Ninguém usa preto. A tristeza se disfarça, mas não se engane: é só uma artimanha dos vivos que não gostam de pensar na morte.
Chris Beller

Crônica ilustrada

Tem literatura nova na internet. O site de crônicas Vida Breve (www.vidabreve.com) inaugura hoje com a crônica de Rogério Pereira e ilustra&ccedi,l;ão de Ricardo Humberto. Nas terças é a vez de Eliane Brum e do ilustrador Ramon Muniz. Nas quartas escreve Fabrício Capinejar e Osvalter ilustra. O designer gráfico e ilustrador é conhecido do público pelos trabalhos que faz nos jornais Tribuna do Paraná e Estado do Paraná. Em 2009, Osvalter montou uma exposição de caricaturas literárias, Faces . O seu trabalho também pode ser visto no blog osvalter.blogspot.com.

Na quinta-feira é dia de ler a crônica de Luís Henrique Pellanda, ilustrada por Simon Ducroquet. Nas sextas escreve Tatiana Salem Levy com arte de Felipe Rodrigues. Nos sábados a crônica é de Ana Paula Maia com ilustração de Tereza Yamashita e domingo escreve Humberto Werneck com desenhos de Marco Jacobsen.

Crianças de luto

Paris Jackson usa as camisas do pai todos os dias, mas seu irmão Prince não quer nem ver os DVDs do rei do pop. Todos os três filhos de Michael Jackson estão em terapia, contou La Toya Jackson. A irmã do cantor disse ao jornal britânico The Mirror que as três crianças estão lidando de modo muito diferente com a morte do pai, há quatro meses.

Prince, de 12 anos, Paris, de 11 e Prince Michael II, de 7, também conhecido como Blanket, estão sendo criados pela avó, Katherine Jackson, que foi nomeada a guardiã legal depois da morte repentina de Jackson, em 25 de junho.

“Blanket é só um menino muito triste e tímido. Ele chora muito. É tão doloroso para ele”, relatou. Segundo ela, Paris está melhor. “Ela está se saindo muito bem, escreve um bocado e usa as camisas dele todos os dias”. Já o mais velho dos irmãos é o mais contido. “Prince não quer falar sobre isso. Ele não quer nem mesmo ver os DVDs… é cedo demais”.

As declarações de La Toya, na semana passada, se parecem com milhares de outras, vividas por famílias que precisam ajudar crianças a passar pelo luto. E mesmo a criança que não sofreu perdas necessita do adulto para falar sobre a morte e esclarecer suas dúvidas. Para começar essa conversa nada fácil é bom ter uma ajuda extra. Para sempre no meu coração, da coleção sentimentos, da editora Girassol, é um livro ilustrado para crianças pequenas que estão passando pelo luto. Vem com dicas para pais e professores. Cadê meu avô, da Biruta, é infanto-juvenil.

Agenda

* A 9.ª Feira de Ponta de Estoque de Marcas Famosas apresentará acessórios e roupas femininas, masculinas e infantis de diversas marcas, além de artigos de decoração por preços especiais. O evento acontecerá no Village Batel (Avenida Batel, 1149), entre os dias quatro e oito de novembro, das 14h00 às 22h00. A entrada é gratuita.

Mais de 60 expositores oferecerão opções para quem deseja antecipar a compra dos presentes de Natal e roupas e acessórios de verão, além de aproveitar os descontos de coleções anteriores. Confira alguns dos participantes da nona edição da Feira Ponta de Estoque:

* In Bloom, o novo perfume da Avon chega com a assinatura da atriz americana Reese Witherspoon. É o primeiro eau de parfum da marca que tem a loirinha como garota propaganda e, agora, parceira comercial. Tanto que Reese participou da criação da essência.

“Para desenvolver In Bloom as referências foram as histórias e os aromas da minha infância. Eu cresci no Tenessi e minha família tinha uma árvore enorme de magnólia no quintal, com lindas flores brancas, que inspiraram muito o perfume”, explica a atriz, que posou para a campanha em meio a muitas flores.