Carla Neves – PopTevê
Mas tanto mistério em torno do assassinato de Marcelo, de Deco Mansilha, é o que mais instiga Claúdia, que garante nunca ter vivido uma personagem tão dúbia. Além da ambigüidade, outra característica que mexe com a atriz é o fato de Donatela ser rústica e nunca ter tido acesso a nada. ?Nunca tinha feito uma personagem assim, que tivesse vindo de uma raiz tão pobre e grosseira?, atesta, acrescentando que o fato de a personagem ter enriquecido de uma hora para outra, depois de uma vida de privações, é o que talvez explique seu jeito manipulador.
Para compor a enigmática protagonista/antagonista da trama de João Emanuel Carneiro, Cláudia voltou às raízes e relembrou os tempos em que morava em Campinas, cidade do interior de São Paulo onde nasceu e foi criada. ?Apesar de a personagem não ter exatamente um sotaque, ela tem uma lembrança dessa musicalidade do interior?, observa. Fã de quase todos os estilos musicais, para dar credibilidade à personagem, a atriz também teve de se familiarizar com o ritmo sertanejo. Até porque, no passado, Flora e Donatela formaram a dupla caipira Faísca e Espoleta e chegaram a fazer sucesso no interior. ?Sempre achei os cantores sertanejos excepcionais mas não era um estilo que ouvia normalmente?, admite.
Sendo Donatela inocente ou culpada, Cláudia tranqüiliza quem não vê a hora de solucionar o grande mistério da trama. ?A assassina vai ser desvendada no capítulo 60 ou 70. E não no último capítulo, como costuma acontecer?, adianta. Enquanto a verdade sobre a culpa ou inocência de Donatela não aparece, Cláudia aproveita para curtir os momentos em que a personagem ainda é uma incógnita. ?É uma delícia viver uma personagem que pode ser tudo ao mesmo tempo: inadequada, bacana, com um coração maravilhoso, dúbia e absolutamente estranha?, derrete-se.
A graça da maldade
Fabíola Tavernard – PopTevê
Para dar credibilidade e até uma certa simpatia ao vilão, André assistiu, com Caio Blat, a comédias italianas clássicas, como Os eternos desconhecidos, de Mario Monicelli. Além disso, ele conta com a ajuda de cenários, figurino e caracterização que trazem o ?clima? dos anos 50 de volta para ?entrar? no personagem. ?Adoro o topete dele. Depois de meia hora de sofrimento para esticar o cabelo e meia lata de laquê, tenho o Peixe nas mãos, definido?, garante ele, que encontrou também na música, sua grande paixão, o tempo certo para as tiradas cômicas da história. ?Comédia é ritmo. Então, tenho um jeito meio musical de estudar o texto, o que tem me ajudado bastante?, pondera.
Viver o golpista tem um sabor ainda mais especial para o paulistano que, há tempos, queria interpretar um papel cômico em novelas. Isso porque desde que estreou na tevê em Um só coração, André atuou em sucessivas minisséries de época, como Mad Maria, JK e, mais recentemente, Queridos amigos. Além disso, Ciranda de pedra é a primeira trama na qual ele atua desde o início. Antes ele entrou no meio de Páginas da vida como o caipira Dorival. ?É bom ver o personagem nascer com calma. O ajuste de tempo vai ficando mais preciso, vejo coisas que não via e me aprofundo na autocrítica?, pontua.
Filho dos atores Denise Del Vecchio e Celso Frateschi, André que cresceu vendo o dia-a-dia dos pais pautado na correria das gravações , vive na ponte-aérea desde a estréia da trama. ?Gravo no Rio e moro em São Paulo, onde toco meus projetos musicais?, explica. Músico profissional, ele é vocalista da banda Heroes, que faz cover do britânico David Bowie. Além disso, em agosto ele estréia no Rio Canções para cortar os pulsos, em parceria com Cida Moreira. No show, que já foi exibido em São Paulo e Porto Alegre, eles interpretam composições do norte-americano Tom Waits. Cida toca piano e acordeon e André faz voz, violão e gaita. Para completar, André voltou a tocar bateria na banda da esposa, que faz cover da inglesa Amy Winehouse.
Tem curitibano na novela
Danielle Blaskievicz
Acostumado ao cinema e ao teatro, Nero conta que encarar a linguagem televisiva em uma trama diária está sendo uma revolução tão grande quanto foi a surpresa de ser chamado para o papel. ?Nunca fui bater na porta da Globo. Eles me descobriram no Festival de Teatro do ano passado e me convidaram para o Casos e acasos (especial que foi ao ar em dezembro). A preparadora de elenco gostou do meu trabalho e me indicou para os diretores?, comenta o artista.
Em seu núcleo na novela estão atores como Tarcísio Meira, Chico Dias e Jackson Antunes. ?Minha primeira cena foi com a Lília (Cabral). Fiquei muito nervoso.? Sobre seu personagem, ele sabe ainda muito pouco, mas a previsão dos diretores do folhetim é que Vanderlei ganhe espaço no decorrer da trama.
Como ator, Nero tem em seu currículo diversas peças teatrais (Os leões; Agora é que são elas; Lingüiça no campo) e alguns trabalhos no cinema (Corpos celestes; O preço da paz). Mas é no palco, com um violão e um microfone, que ele realmente se sente em casa. Atualmente, está à frente ?apenas? do Denorex 80 – a banda de escracho geral que por várias temporadas seguidas tem balançado o público curitibano – e da Maquinaíma, que mistura vários ritmos e batidas, resultando num som quase psicodélico. Até o ano passado, ele ainda fazia parte do Grupo Fato, onde ficou por cerca de dez anos.
Com tanto trabalho fora da tevê, não é difícil encontrá-lo nos bares de Curitiba. Seja na Aoca, às sextas-feiras, quando se apresenta com a Maquinaíma, seja no Yankee, quando consegue aterrisar a tempo de acompanhar os colegas da Denorex 80.
Música, teatro e publicidade, são trabalhos tocados simultaneamente aos milhões de projetos que ainda estão em fase de ebulição na cabeça de Nero. Sua página na internet (www.alexandrenero.com.br) é um exemplo disso. Por mais atualizada que esteja, não acompanha o ritmo do artista, que parece incansável. Lá ele dá o recado aos fãs e amigos, pede desculpas pela falta de tempo e banca seu próprio assessor de imprensa, divulgando os próximos eventos.
Pé no chão
Com uma carreira artística de quase 20 anos, Nero mantém o perfil ?pé no chão? e tenta não se empolgar com a ?vênus platinada?. Pelo menos não antes da hora. ?Sei que este trabalho pode significar muito para mim, atrair outros. Mas se o personagem não crescer, as pessoas vão mudar de canal e me esquecer. É uma possibilidade com a qual eu tenho que trabalhar?, analisa, consciente. ?Claro que às vezes eu me pego emocionado, porque a telenovela faz parte da vida de quase todo brasileiro. São as minhas referências de infância, a emoção vem à tona?, confessa o ator.
Criado no palco, o discurso de Nero é o de quem sabe o valor da interpretação e do contato direto com o público.
?É triste ainda perceber que muitas pessoas só valorizam o trabalho do ator quando ele está na Globo. O trabalho como Vanderley está sendo muito legal, é uma experiência nova, mas fiz muita coisa legal fora da tevê também?, argumenta, destacando que a principal vantagem da televisão é justamente a visibilidade que proporciona ao artista.
Nero não parou com seus projetos em Curitiba, onde passa os finais de semana, sempre trabalhando muito. Mas claro que precisou diminuir o ritmo por causa das gravações no Rio, onde fica à disposição dos diretores da novela. ?Para mim está sendo um investimento, até porque financeiramente eu ganho mais em Curitiba?, avalia. Nem mesmo a idéia de se mudar ?de mala e cuia? para o Rio de Janeiro o contaminou. Pelo menos até o momento. ?Eu tenho quase 40 anos e uma carreira consolidada em Curitiba. Por enquanto, mudar daqui não está nos meus planos?, afirma o ator, que é casado com a atriz Fabíula Nascimento, revelação este ano no longa Estômago. ?Por causa do Estômago, a Fabíula já recebeu convites para participar de outros filmes. São várias novidades para nós, estamos até um pouco assustados com tudo isso, mas está sendo ótimo perceber que nosso trabalho e talento estão sendo reconhecidos?, finaliza. (DB)