No final do ano passado, circulou pela internet um novo vídeo do canal Porta dos Fundos que trata do tema da cesárea agendada. Na produção, um obstetra interpretado por Gregorio Duvivier quer convencer a paciente a ganhar seu filho na data em que é mais conveniente para o médico. Apesar do tom de brincadeira do vídeo, é nítida a ironia por trás da situação encenada, afinal, o assunto é seríssimo e deve ser tratado com muita responsabilidade. Não é à toa que o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou, em abril de 2016, uma resolução específica a respeito do assunto, estabelecendo que, para garantir a segurança do bebê, a cesárea agendada só poderá ser realizada a partir da 39ª semana de gestação. Antes disso, a cesárea só está liberada se a mulher entrar em trabalho de parto.
De acordo com o próprio CFM, o órgão adotou o marco de 39 semanas por ser o período em que se inicia a gestação a termo, havendo pesquisas que apontam a incidência recorrente de problemas de saúde em recém-nascidos com idade gestacional inferior, como dificuldades respiratórias, de manutenção da temperatura corporal ou para se alimentar, entre outros. Anteriormente, acreditava-se que a partir das 37 semanas, o bebê já estava pronto para nascer, mas novos estudos apontam que entre 37 e 39 semanas, o bebê ainda está em fase de fromação, atravessando uma fase crítica de desenvolvimento do cérebro, dos pulmões e do fígado.
É claro que a vontade da mãe deve ser respeitada no momento da decisão a respeito do nascimento de seu filho – e o próprio CFM garante esse direito em sua resolução -, mas, antes de tudo, é preciso pensar na saúde e segurança do bebê e, por isso, a importância desse documento publicado pelo órgão. Ainda assim, é necessário ressaltar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a realização de cesáreas em casos em que não haja indicação real para a cirurgia. E o CFM, em seu documento, também indica que a mulher pode optar pela cesárea eletiva “desde que tenha recebido todas as informações de forma pormenorizada sobre o parto vaginal e cesariana, seus respectivos benefícios e riscos” e que se respeite a recomendação do órgão a respeito da idade gestacional adequada para a cirurgia.
Indicações reais de cesárea
Mas quais são as indicações reais de cesárea? Esse é um assunto polêmico, pois pode apresentar muitas variações, dependendo da fonte consultada (e rende um post só sobre isso!), mas, de acordo com documento publicado em dezembro de 2014 pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), as indicações reais de cesárea são: prolapso de cordão (cordão comprimido) com dilatação não completa; descolamento prematuro de placenta com feto vivo, fora do período expulsivo; placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial); apresentação córmica (transversal) do feto durante o trabalho de parto; ruptura de vasa praevia (evento hemorrágico grave devido a má formação do cordão umbilical); herpes genital ativo da mãe; desproporção cefalopélvica (cabeça do feto maior do que o diâmetro do canal vaginal); sofrimento fetal agudo; e parada de progressão da dilatação que não se resolve com as medidas habituais.
Resumo da ópera: passadas as 39 semanas de gestação, a mãe pode optar pela cesárea (agendada ou não) independente de qual seja a sua situação, não havendo necessidade de indicação real para isso, respeitando-se sua autonomia no momento da decisão sobre o nascimento de seu filho, conforme disposto na resolução do CFM. MAS, a recomendação da OMS e dos médicos é de que a cesárea só seja realizada em casos de indicação real (listados acima). Nos demais casos, a orientação é de que a mãe dê preferência ao parto normal/vaginal. Lembrando que apresentação pélvica (bebê sentado), duas ou mais cesáreas anteriores e ser portadora de HIV/Aids não são recomendações reais de cesárea, mas devem ser analisadas conforme histórico da mãe em conjunto com o médico.
Agora que os esclarecimentos já foram apresentados, confira o vídeo do Porta dos Fundos sobre o assunto e se divirta:
https://www.tribunapr.com.br/arquivo/mulher/cesarianas-inadequadas-triplicam-risco-de-morte-materna/