Sem cerimônia, o carro atravessou a ciclofaixa, arremessando para longe a velhinha e sua bicicleta.
Haja calma com a via calma.

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Graças ao excesso habitual de velocidade, tudo aconteceu muito rápido. Numa pancada seca, aquele motorista não só atropelou dona Gertrudes, como aproveitou o frescor da neblina da manhã para evadir-se do local.

Alguma novidade? Nenhuma. Em nossa celebrada Curitiba, a cada 100 atropelamentos, dez condutores fogem sem prestar assistência.

Com todas as ambulâncias sobrecarregadas, a senhora ficou largada naquele asfalto por quase meia hora. Embora usasse capacete, isso não evitou que sofresse um severo traumatismo craniano. E mais. Seu quadril foi esmigalhado e suas pernas se partiram como um frágil graveto.

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Quando o resgate conseguiu chegar, dona Gertrudes já dava sinais de rebaixamento de consciência. Começava ali uma injusta corrida pela vida.

Como a capital da paz-social-ecológica recebe, todos os dias, cerca de 200 novos veículos, haja paciência para a imobilidade burra do trânsito. Para piorar, poucos dão passagem para a pressa da ambulância. Na chegada ao pronto-socorro, a realidade de todo dia. Tomógrafo quebrado e falta de vaga na UTI. Pelos corredores da emergência, os pacientes seguem impacientes. A maioria, vítima da falta de educação nas ruas.

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A cada ano, a verdadeira Curitiba bate recordes de mortos e feridos no trânsito. Sem dúvida, continuamos cheios de culpa e desculpas no volante. Sinto muito dona Gertrudes. Seus netos sentirão sua falta.