Em relação à matéria publicada sobre o atendimento da UPA Cajuru: a capa de hoje (ontem), sem dúvida, foi uma grata surpresa do jornalismo praticado com boa fé. Sempre me questiono se as pessoas fazem ideia do que é trabalhar na saúde pública. É evidente que existem péssimos médicos e funcionários. É líquido e certo que existe péssima gestão dos recursos, que se evaporam nas estranhas entranhas das esferas federal, estadual e municipal. Sim, tem muita coisa errada.
Contudo, pouco ouço falar do ambiente hostil que rapidamente se instala durante um plantão numa UPA. São inúmeras as histórias de agressão física, verbal e psicológica aos profissionais de saúde. Conheço histórias de médicos agredidos com a impressora do próprio consultório e de profissionais “banidos” do posto por ordem de traficantes. Ano passado, na porta do consultório, um paciente impaciente quase me bateu, ameaçando e apontando o dedo contra o meu rosto. Ao mesmo tempo, um colega seu filmava tudo com o celular. Naquele dia, me senti um lixo. Sufocante.
Dependendo do horário, uma UPA parece uma panela de pressão. Não há cadeiras ou macas suficientes. Os pacientes ficam largados pelo chão. Você olha para o computador – com mais de 100 nomes na tela – e fica imaginando como atender aquela pequena multidão com algum tipo de dignidade. Degradante. O pior é que muitos pacientes nem são de Curitiba. São da região metropolitana.
Nessa gangorra, na qual o paciente é sempre vítima e os profissionais de saúde são sempre vilões, é preciso também falar da falta de adesão de muitos usuários do SUS. Você prescreve um medicamento, a pessoa não usa. Você encaminha para o nutricionista, a pessoa falta na consulta. Para vocês terem uma ideia, a cada 100 exames realizados, 75 ficam abandonados.
A matéria também fala dos servidores da limpeza. Acreditem, não há nada mais difícil do que manter a limpeza de um posto. Papel toalha, higiênico, sabonete líquido e até o assento do vaso sistematicamente “somem”. Ano passado, quando fiz um estágio na unidade de saúde Ouvidor Pardinho, um dos banheiros estava alagado, pois alguém havia roubado a torneira da pia. Sim, tem muita coisa errada.
Parabenizo a Tribuna pela matéria e sugiro que o tema se estenda. Por exemplo, a escala de Manchester é uma piada de mau gosto. Muita gente ainda vai morrer por causa dela.