Existe um médico da emergência que tem um hábito pra lá de curioso.

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Para todo motociclista ferido que recebe alta hospitalar, ele apanha o receituário e prescreve a seguinte orientação:

“Vender a moto, o quanto antes”.

Depois assina, carimba e entrega em mãos para o paciente.

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Parece atrevimento um médico querer se enfiar nas escolhas pessoais de seus pacientes, não é? Contudo, preciso admitir que talvez seja a recomendação mais acertada.

Semana passada, os bombeiros atenderam a uma colisão ônibus versus motocicleta. Como sempre, o coitado do motoqueiro foi quem levou a pior.

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Mas foi só chegar ao pronto-socorro para termos a surpresa do dia. O paciente estava circulando de moto por aí, com uma bota gessada em sua perna direita.

Caro leitor, você consegue imaginar a cena?

Mais que isso, uma revisão atenta de seu prontuário revelaria um histórico de outros internamentos pelo mesmo motivo: quedas e choques envolvendo, claro, a dita cuja motocicleta.

Qual será a parte do “vender a moto” que ele não entendeu?

Qual necessidade justifica colocar nossa própria vida em segundo plano?

O que é mais perturbador é que isso não é raro. Pelo contrário. Muitos já sofreram acidentes sobre duas rodas com uma recorrência que assusta e, conversando com estes pacientes, você percebe que eles até se orgulham de seu passado de cicatrizes e ferimentos.

É uma lógica que eu tento entender, mas que não consigo. Naturalmente, o motociclista já é um dos personagens mais desrespeitado no trânsito. Mas quando ele próprio não se dá o merecido respeito, o que pensar?

Apesar de tudo isso, não acho que ele deva vender sua moto.

Não sou mais tão inocente assim.

Só quero que ele se livre dela.

O quanto antes.

Olha só:

Segundo pesquisa feita em 2013 pela Faculdade de Medicina da USP, 55% dos motociclistas acidentados, na região oeste de São Paulo, tinham um histórico de internamento prévio por acidente.