Era horário de rush e todo o trânsito estava um marasmo. Olhei desanimado para o relógio, constatando que só um milagre de Natal faria com que eu chegasse a tempo para o meu plantão no hospital.

continua após a publicidade

Do nada fui surpreendido por um motociclista ninja, desses que passam a 60 km/h por entre os carros que vão a míseros 10 km/h. Meu susto foi tão grande que deixei escapar um maldoso e maldito “tomara que caia”.

Ao chegar ao pronto-socorro, mordi com força a minha língua. Todo amarrado e gemendo na maca estava aquele mesmo motoqueiro, trazido em estado grave pelos bombeiros. Ao usar o polêmico corredor entre os carros – aquele que deveria ser proibido – nosso ninja acabou acertando com tudo um rapaz que distribuía jornais no sinaleiro. Agora os dois iriam direto para a nossa UTI.

Entre custos sociais diretos e indiretos, acidentes com motociclistas consomem o equivalente a 21 bilhões de reais por ano (*). E o que dói mais é saber que muitos desses acidentes acontece por pura molecagem.

continua após a publicidade

Quando saí do plantão já era noitinha. A três quarteirões do hospital tomo um novo susto. Ao parar no semáforo, um motoqueiro acerta despreocupado meu retrovisor e logo some furando o sinal vermelho.

Conto até dez. Respiro fundo, me seguro e disparo baixinho:

continua após a publicidade

– Tomara que não caia…

Olha só

* Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, os acidentes de trânsito no Brasil causam um impacto econômico anual de 28 bilhões de reais. Deste montante, 76% são destinados a sinistros envolvendo motocicletas.