Seja ultrapassado

E num exagero de velocidade ele perdeu o controle, bateu em um carro, rodopiou no ar e acertou sem dó um frondoso ipê-amarelo na Avenida Iguaçu. Prontamente, várias viaturas dos bombeiros foram acionadas para atender ao resultado de mais uma brincadeira ao volante.

Agora, o colecionador de inúmeros pontos na carteira está no centro cirúrgico, recebendo inúmeros pontos na tentativa de remendar o que um dia parecia ter sido um rosto.

Conversando com a família, descobrimos algo perturbador sobre o motorista. Quando nas ruas e estradas, nosso paciente simplesmente não se permitia ser ultrapassado.

Consegue imaginar a encrenca?

De maneira diária, nosso trânsito vai ampliando o número de pessoas com transtornos em sua saúde mental.  Não me refiro aos que têm pânico ou crises de ansiedade. Tampouco falo dos que claramente têm um diagnóstico psiquiátrico grave ou daqueles que fazem uso e abuso de drogas como o álcool.

Falo de pessoas comuns, que vivem a neurose de acreditar que estão acima de outros condutores. Falo delas porque são as que provocam desconforto, atrito, brigas e acidentes, num desequilíbrio emocional perigoso para todos.

Agora estão por aí, circulando acima da velocidade e se queixando dos que respeitam os limites. São donos da faixa esquerda e se ofendem a qualquer tentativa de ultrapassagem, principalmente se esta vier de um veículo mais velho ou menos potente.

Além disso, consideram-se exímios costuradores e ignoram muitas das regras de convívio social. A buzina é uma extensão do seu estresse e a educação costuma ser deixada em alguma gaveta de casa.

Se você se identificou aqui, se nas ruas se torna impaciente, explosivo ou até mesmo violento, talvez seja a hora de pedir ajuda.

Experimente soltar um pouco o pé do acelerador e usar a pista da direita.

Só por hoje se permita ser ultrapassado.

Vai doer, mas acredite, você não vai morrer se fizer isso.

Tampouco vai matar.