Noite gelada na capital.
Mal desço da ambulância e já sinto no ar um maravilhoso cheiro de pizza quatro queijos, daquelas assadas em forno a lenha.
Poxa, que fome que me consome.
Espalhados pelo chão, parafusos, cacos e pedaços de moto se misturam a fatias de pizza. Acontece todo o sempre. O entregador ignora todas as leis de trânsito para levar a você comida fresca e quentinha.
Desta vez, ao invadir sem cerimônia a contramão de uma avenida, acabou acertando uma caminhonete que, para variar, também trafegava acima da velocidade permitida.
Agora, entre gritos de dor e desespero, o motoboy encontra-se prensado embaixo do veículo. No exame físico a caminho do pronto-socorro, a certeza de uma pelve esmigalhada, dentes quebrados e inúmeras fraturas.
Até que deu sorte.
Desde 2011, temos uma lei federal que proíbe as empresas de delivery de criar promoções associadas com o tempo de entrega. Basicamente, se a comida não chegasse na hora combinada, o cliente não precisava pagar.
Contudo, o que essa lei esperta não prevê é que muitos entregadores recebem, de qualquer modo, comissão em cada corrida. Então, quanto mais rápido ele trabalhar, melhor vai ser o seu retorno.
Consegue imaginar o tamanho do perigo?
Jamais vou esquecer um motociclista que há alguns anos morreu brutalmente quando entregava esfirras, numa dessas promoções malucas. Naquela vez, a vida de um jovem saudável custou o equivalente a 18 esfirras. Reflexo, claro, de uma sociedade exageradamente consumista e acostumada às comodidades e preguiças da vida moderna.
Reflita sobre isso essa semana, quando a fome bater e você se pegar com o telefone na mão, pensando nos sabores que irá pedir.
Aproveite o momento e faça uma oração para que sua comida chegue bem.
E o entregador também.
Olha só
Este ano nem terminou e os bombeiros já contabilizaram 3890 motociclistas feridos em nossas ruas. Uma média de 13 acidentes por dia!