Pra matar

Zig zag zum. Zag zag zim.Barulhentamente, a máquina de tomografia vai engolindo o paciente, vítima de um grave ferimento por arma de fogo.

Na sala ao lado, a equipe da cirurgia observa atenta ao monitor ligado à máquina, ansiosa pelo resultado do exame. Como num desenho animado em preto e branco, a sequência de imagens vai aos poucos denunciando o caminho tortuoso do disparo, efetuado com maldade e à queima roupa.

Com orifício de entrada pelas costas, na altura do ombro esquerdo, o projétil realizou um trajeto de cima para baixo até estacionar lá no lado direito do abdome, buscando abrigo no fígado do paciente. Antes disso, é claro, teve o capricho de chamuscar e destruir estruturas como artéria pulmonar, traqueia e diafragma. Seriam necessárias horas de cirurgia para remendar toda aquela bagunça. E mesmo que o paciente sobrevivesse, incontáveis seriam as sequelas.

Quem é da emergência já desconfia do que estou falando, apenas pela descrição do caminho da bala. E disparo pelas costas, seja na cabeça, pescoço ou tórax, da esquerda para a direita, de cima para baixo, tem quase sempre a mesma causa.
Tomada de assalto a veículo.

É batata.

O condutor para distraído no sinaleiro, geralmente com o vidro aberto, sendo surpreendido pela violência de um criminoso posicionado bem ao lado de sua porta, completamente dono da situação.

Segundo dados recentes da Secretaria de Segurança Pública, Curitiba registra diariamente uma média de 24 veículos furtados ou tomados de assalto.
Prezado leitor, estamos falando de um carro evaporado de nossas ruas a cada 60 minutos!

Até algum tempo atrás, não reagir a um assalto era tido como um fator protetor. Agora, com o descaso crônico das autoridades e a convicção certeira da impunidade, é provável que você sofra algum tipo de brutalidade de qualquer jeito, mesmo não reagindo.

Sem dúvida, Curitiba se tornou um lugar estranho para viver.

É pra matar mesmo.