Petit pavé

Era madrugada e Jeremias estava feliz. Para ele, os carnavais de rua de Curitiba eram maravilhosos. Afinal, em que outra época poderia usar máscara sem ser incomodado pelos “polícia”?

Pulseiras, celulares, grana… enquanto todos curtiam a festa, ladrões e punguistas faziam sua própria festa. Jeremias, mais conhecido pelas autoridades como Jimmy, era um destrambelhado que agora sorria sozinho. O som alto das marchinhas o deixava ainda mais alto, decolando na combinação maluca de maconha com crack e chope. Em pouco tempo, havia roubado o suficiente para bancar uma viagem daqui até a lua.

– Ô abri as ala que eu quero passsarrrr! – Jeremias estava sinceramente feliz. Entre tantas máscaras de políticos ilustres, até concluiu orgulhoso que eles faziam parte da mesma classe profissional que a sua.

Lá pelas tantas, nem sabia quem era concubina, arlequim ou pierrô. A música ecoava líquida por sua cachola vazia e, quando ia suspeitar que tinha exagerado na dose, avistou sua próxima vítima lá do outro lado da avenida.

Como um predador à espreita, apertou os olhos por trás da máscara, fixando sua atenção num folião fantasiado de “polícia”.

Num cambote ele atacou de sobressalto a vítima, sacando sua velha faquinha de cozinha.

Estava feita toda a porcaria.

Seu cérebro afetado logo percebeu que sua visão dupla o enganara. À sua frente, dois enormes policiais do 12º Batalhão completamente espantados com a cena.

Ao esboçar uma tentativa de fuga, logo levou uma senhora cacetada no rosto, que arremessou para longe alguns de seus dentes, junto com a sua máscara de Lula. Mais que isso, foi jogado com força no chão, trincando uma de suas vértebras cervicais.

No gelado da calçada histórica da capital social, desenhada com sangue em petit pavé, só restava implorar para não apanhar mais. Chegara o momento de retirar o seu bloco da rua. E desfilar novamente aqui no pronto-socorro.

Traga os confetes, Jimmy.