Um dos desafios de se trabalhar na emergência, em especial na saúde pública, é não saber ao certo a quem você está atendendo.
Não raro, as pessoas chegam ao pronto-socorro sem qualquer documento de identificação. O atendimento médico, claro, precisa ser realizado de qualquer maneira. Contudo, é comum se deparar com figuras inusitadas.
É o caso do Felipe. Quer dizer, Tiago. Ou melhor, Fernando. Cada vez que ele era trazido ao hospital – quando caiu de bicicleta, quando foi atropelado por uma moto, quando se queimou com narguile… – fornecia um nome e endereço diferentes. Vida louca ao cubo, sempre vinha com uma enxurrada de histórias espalhafatosas. Um dia se apresentou como estudante de direito. Noutro, como piloto de linha aérea. Um dia dizia que o pai era dono de uma rede de farmácias. Noutro, que o pai era um jornalista famoso.
Em um dos internamentos foi solicitada a avaliação da psiquiatria, que diagnosticou o rapaz com um transtorno chamado mitomania.
É quase certo que você conheça alguém que seja mitômano, distúrbio no qual o paciente sente compulsão por mentir. De quebra, costuma dar um nó na cabeça das pessoas ao seu redor.
Na mitomania, não há delírio ou alucinações: o paciente tem consciência de suas mentiras. Além disso, inventa apenas para ser aceito como alguém especial, nunca para conseguir vantagens secundárias, como obter dinheiro fácil ou passar a perna nos outros.
O mais importante deste texto é que existe tratamento para a mitomania, podendo livrar essas pessoas da obsessão diária de ser aquilo que não são.