Outubro vermelho

Ela chegou ao pronto-socorro praticamente sem vida.

Seu pulso era quase imperceptível, sugerindo que uma intensa hemorragia estava em franco progresso.

Trata-se de uma menina de 22 anos, grávida de 35 semanas, trazida pelos vizinhos após ser esfaqueada três vezes em seu abdome, pelo próprio pai e avô do seu bebê.

Sim, o prognóstico era ruim.

Decretamos emergência e em minutos a sala quatro do centro cirúrgico estava toda acesa e preparada. Inúmeros profissionais da cirurgia geral e da obstetrícia se revezaram por dez horas, na tentativa de desfazer toda a barbaridade cometida. Por sorte – ou pela ação de algum anjo da guarda – mãe e filha sobreviveram ao ataque daquele que se esperava apenas o amor.

Sabe, hoje uma média de 12 mulheres serão mortas no Brasil, vítimas de agressão física. Outras 140 serão estupradas, comprovando que vivemos em um país de selvagens. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e demonstram uma visão míope da realidade, pois muitos dos casos de violência sequer chegam a ser notificados. Mais que isso – ou pior que isso – só o fato de que tais números aumentam a cada ano, escancarando o fato de que leis como Maria da Penha são tão frágeis quanto as próprias vítimas.

O texto de hoje foi costurado em cima do movimento Outubro Rosa, que desde 1990 se ocupa com a prevenção e diagnóstico precoce de casos de câncer de mama e, mais recentemente, também dos de colo de útero.

O que preciso dizer é que tanto quanto a saúde, as mulheres precisam de segurança e proteção. É estranho se investir tão pesado na prevenção de doenças e, ao mesmo tempo, tão pouco se falar ou se fazer em relação a esses ataques diários contra a vida.

A verdade é que as mulheres querem mais do que saúde.

Elas clamam por respeito.

Olha só:

Segundo dados da ONU, sete em cada dez mulheres já foram ou serão espancadas, estupradas, abusadas ou mutiladas em algum momento da vida.